Daqui a 14 meses o Brasil estará no limiar de nova campanha presidencial. Esperar que o País possa criar juízo até lá seria pedir demais. Mas, quem sabe, com alguma sorte, até março do ano que vem parcelas mais esclarecidas do eleitorado possam ter adquirido percepção mais nítida de quão desajuizada vem sendo a política econômica do governo.
Poucos percebem que a expansão imprudentemente acelerada da economia no ano passado, que nem o próprio governo esperava, foi só mais uma trapalhada canhestra na condução da política econômica, que adveio do aumento desenfreado de gasto público.
E o resultado aí está: inflação bem acima do limite superior à meta, taxas reais de juros absurdamente altas, câmbio pressionado e uma crise de confiança da qual o governo não consegue sair.
A razão primordial da crise de confiança é ter o presidente Lula apostado que, sob a camuflagem mambembe do arcabouço fiscal, poderia se permitir atravessar todo seu terceiro mandato sem se preocupar com a geração de superávits primários compatíveis com a manutenção do endividamento público sob controle.

Como bem se viu nas respostas evasivas da longa e tortuosa entrevista concedida pelo ministro da Fazenda à CNN Brasil em 17/1, disponível no YouTube, o governo continua entregue ao negacionismo, empenhado em forjar alegações escapistas de que a situação é bem menos grave do que parece e aferrado a metas pífias de um fantasioso déficit primário quase zero. O plano de jogo continua a ser empurrar com a barriga e, aos trancos e barrancos, conseguir esticar a corda da irresponsabilidade até as eleições de 2026.
Alguém acredita mesmo que tamanho descompromisso com a gestão responsável da política fiscal desaparecerá como por encanto, em 2027, caso o candidato do governo seja eleito? Claro que não.
A combinação de dívida do governo muito alta, taxas reais de juros elevadas e crescimento nada espetacular do PIB torna crucial que o novo presidente seja capaz de levar adiante uma condução consequente das contas públicas.
Nada garante que um candidato com esse perfil venha a ser eleito. E, a essa altura, tendo já mostrado que pouco ou nada aprenderam com o descalabro do governo Dilma, Lula e o PT se desqualificaram.
Já não é crível que possa emergir do partido um candidato presidencial apto a enfrentar com sucesso o desafio da restauração da responsabilidade fiscal. E a verdade é que já não sobra muito tempo para a construção de uma candidatura alternativa viável com o perfil que a gravidade da crise requer.