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Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Estabilização macroeconômica não se consolidou como consenso no País, apesar de esforço de décadas

Lula e o PT se viram compelidos em 2002 a se comprometer com uma condução responsável da política macroeconômica, mas ficou claro que poderia haver retrocessos, como agora

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30 anos do Real: crônicas no calor do momento é o título do novo livro de Gustavo Franco, Edmar Bacha e Pedro Malan, publicado pela Intrínseca, em que analisam a economia brasileira desde o governo FHC.

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O foco é no esforço de décadas, ainda inconcluso, de consolidação da estabilização macroeconômica como um valor consensual, suprapartidário, enraizado no conjunto de valores compartilhados pelas principais forças políticas do País, estejam no governo ou na oposição.

O que de melhor aqui posso fazer, para salientar a importância do livro, é ressaltar o quanto o País pôde avançar nesse esforço, desde seu momento mais dramático, na campanha presidencial de 2002, que os autores apenas tangenciam.

Para entender o tumulto econômico-financeiro que então se estabeleceu é preciso retroceder às eleições municipais de 2000, quando o PT determinou que, em paralelo a questões locais, a campanha do partido teria como carro-chefe a realização, Brasil afora, de um plebiscito informal que indagaria se a dívida pública deveria ser paga ou não.

Plano Real está próximo de completar 30 anos Foto: FABIO MOTTA / ESTADÃO

Não se tratava de iniciativa das alas mais radicais do partido. Longe disso. Um a um, os principais economistas então associados ao PT, alguns já falecidos, assinaram artigos na imprensa dando respaldo pessoal ao plebiscito. O leitor interessado poderá conseguir acesso à maior parte desses artigos, do ano 2000, no excelente acervo da Folha de S.Paulo, disponível no site do jornal.

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Como se poderia prever, menos de um ano e meio após o término das eleições municipais, quando o candidato do PT se firmou nas pesquisas como claro favorito na eleição presidencial, em meados de 2002, o temor de um calote da dívida pública deflagrou um devastador processo de desestabilização financeira.

Foi em meio a esse turbilhão que Lula da Silva e a cúpula do PT se viram compelidos a deixar de lado a inconsequência e se comprometer em público com uma condução responsável da política macroeconômica. Uma assombrosa metamorfose a toque de caixa, que só se tornou possível graças ao sucesso de dramáticas negociações de Pedro Malan, Armínio Fraga e do próprio FHC com a cúpula do PT, feitas por intermédio de Antonio Palocci.

Foi só o início de uma longa saga. Um início espetacular, é verdade. Mas não levou muito tempo para que ficasse claro que não seria assim tão fácil. Que haveria idas e vindas. Que a metamorfose talvez não fosse irreversível. E que poderia haver grandes retrocessos. Como no mandato e meio de Dilma Rousseff. E agora.

Mais oportuno, o livro não poderia ser.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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