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Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião | Lula viu seu novo mandato como uma oportunidade para insistir em políticas caras ao PT

A geringonça do arcabouço fiscal redundou em expansão desmesurada do nível de atividade, inflação muito acima da meta, taxas reais de juros absurdamente altas e alarmante descontrole do endividamento público

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Foto do author Rogério Werneck

Um livro imperdível: Estado, economia, desafios fiscais e reformas estruturais no Brasil: Textos em homenagem a Eduardo Guardia. Uma coletânea de 22 capítulos escritos por analistas de primeira, organizada por Ana Carla Abrão, Ana Paula Vescovi e Pedro Malan, e editada pela Intrínseca.

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Sem pretender fazer aqui mais uma resenha dessa coletânea tão extensa, compartilho com os leitores reflexões que a leitura do livro me trouxe, ao propiciar uma percepção perturbadoramente nítida da extensão do retrocesso por que passou a condução da política econômica no País nos últimos anos.

Guardia foi uma figura exemplar na infindável batalha pela consolidação fiscal, que há mais de três décadas vem sendo travada no País. Teve especial destaque no governo Temer, como secretário-executivo do Ministério da Fazenda e, depois, como ministro da Fazenda. Coube-lhe, entre 2016 e 2018, a missão impossível de retomar o controle sobre as contas públicas e repor a economia nos trilhos, após o colossal descarrilamento perpetrado pelo governo Dilma Rousseff.

É difícil não contrapor o sucesso desse seu esforço – empreendido em tão pouco tempo, à frente de uma equipe de primeiríssima linha – com a improvisação inconsequente e eleitoreira que tem marcado a política econômica do atual governo.

O que hoje se vê é um governo desesperado com a queda de sua popularidade Foto: Wilton Junior/Estadão

Assombrado pelo passado, o presidente Lula viu seu novo mandato como uma oportunidade para insistir em políticas caras ao PT, certo de que isso redimiria o partido das pechas que lhe foram assacadas pelo desastre do terceiro governo petista.

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A geringonça do arcabouço fiscal não passou de espalhafatosa dissimulação de uma tremenda farra fiscal que redundou em expansão desmesurada do nível de atividade, inflação muito acima da meta, taxas reais de juros absurdamente altas e alarmante descontrole do endividamento público.

O que hoje se vê, em meio a um quadro de assustadora deterioração do ambiente externo, é um governo desesperado com a queda de sua popularidade, empenhado em adotar todo tipo de medida eleitoreira expansionista que possa evitar que o Banco Central consiga desacelerar a economia para trazer a inflação de volta à meta.

Mais uma vez se iludiram os que imaginavam que, no que diz respeito à mentalidade, o País só poderia andar para a frente. Mas que oportunidades se abrirão se tal retrocesso, afinal, puder ser revertido? É nesse sentido que se pode dizer que o livro em homenagem a Guardia não é só sobre o passado. Deixa também entrever quão promissor pode ser o futuro. Se o País criar juízo.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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