Arguta e bem informada como sempre, Vera Magalhães dissecou, em coluna recente, o que “auxiliares de Lula” lhe mapearam como a rota pela qual o presidente pretende chegar ao final do mandato em condições de assegurar sua reeleição (”A receita de Lula até 2026″, O Globo, 26/7).
Em complemento à sua excelente análise, vale discutir aqui quais deverão ser as diretivas, implícitas e explícitas, à condução da política econômica ao longo desta rota. Adiantando desde já a conclusão, a palavra de ordem parece ser empurrar com a barriga o enfrentamento dos principais desafios com que hoje se debate o País na área econômica.
Tendo mal completado um ano e meio de governo, o presidente estaria convicto de que “a fase de reforma deste terceiro mandato se esgotou”. Da perspectiva do problema central com que a economia hoje se defronta – contas públicas insustentáveis –, isso significa uma pá de cal na esperança de que ainda haja algum esforço de ajuste fiscal duradouro até 2026.
Sem ir mais longe, o governo não deverá mover uma palha para desmontar o mecanismo de expansão descontrolada de gastos que teimou em voltar a acionar, em 2023, ao restaurar a superindexação da gigantesca folha de pagamentos de benefícios previdenciários e assistenciais da União vinculados ao salário mínimo.
A ideia é ater-se à simples repressão fiscal – bloqueios e contingenciamentos – para, aos trancos e barrancos, tentar dar a impressão de que o governo está de fato empenhado em respeitar as restrições já escancaradamente permissivas do seu mal-ajambrado arcabouço fiscal.
A aposta é que não seria necessário mais do que isso para manter a economia crescendo a 2% ao ano, com farta geração de empregos. E para deixar o presidente a um passo da reeleição.
Salta aos olhos que será preciso muito mais para a economia “chegar bem” ao final do mandato. Sem evidência de compromisso claro do governo com uma gestão responsável das contas públicas, que atenue o risco fiscal, é improvável que as taxas reais de juros possam voltar a ser condizentes com a recuperação dos investimentos, a manutenção da dinâmica do endividamento público sob controle e a preservação do crescimento da economia.
Não será redobrando a aposta na possibilidade de continuar a esticar a corda da irresponsabilidade na política fiscal, e de passar a fazer o mesmo na política monetária, a partir de 2025, que o governo fará a economia “chegar bem” a 2026.
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