Como a resposta deve ser negativa, alguém fica devendo alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, qual seria a taxa aceitável para o Brasil? Algo na faixa de zero a 0,25% ao ano, como nos Estados Unidos? Talvez 6,5%, como na Hungria? Nenhuma das anteriores? Definido um número, ou pelo menos um intervalo, outra questão se impõe: qual a taxa real desejável? A partir daqui o assunto se torna um tanto complicado.
A taxa real é a diferença entre a nominal e a inflação. Não se inventou ainda um meio de fixar as duas ao mesmo tempo. Essa é uma deficiência notória dos economistas e, de modo geral, das autoridades econômicas. Também não conseguem determinar simultaneamente os valores nominais e reais do câmbio, nem dos salários. Na falta de outra solução, já tentaram amarrar as duas séries de valores por meio de um mecanismo aparentemente engenhoso, conhecido como indexação. O resultado foi um tanto decepcionante. Uma das consequências, no Brasil, foi a inflação inercial, ainda não eliminada inteiramente.
Abandonados os truques e mágicas, a determinação do juro real continua sendo um desafio para os condutores da política. A pior parte, como em todo o mundo, é o controle da inflação. Qual o juro nominal necessário para se conseguir num prazo razoável uma alta de preços de 4,5% ao ano ou algo mais civilizado? A resposta pode variar, porque depende de uma porção de fatores, como o grau de indexação, o regime cambial, os preços internacionais, a organização e a extensão do sistema de crédito e, naturalmente, a situação das contas públicas e até a memória inflacionária.
Alguns desses fatores foram citados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para justificar a redução de juros iniciada no fim de agosto. Vale a pena lembrar três pontos: 1) com o agravamento da crise internacional, os preços de vários produtos básicos tenderão a se estabilizar ou a diminuir; 2) a inflação brasileira perderia impulso a partir do fim do terceiro trimestre; e 3) o Executivo federal está comprometido com uma política orçamentária mais austera e já começou em 2011 e reforçar suas contas. Quanto ao primeiro item, ponto para o Banco Central - mas ninguém foi surpreendido pela piora da situação na Europa e nos Estados Unidos. Em relação ao segundo, os dados ainda não são bastante claros, especialmente porque a demanda interna continua sustentada pelo alto nível de emprego e pela expansão do crédito. Algum tempo será necessário para se confirmar o esfriamento da demanda, e não só da oferta industrial. Em relação ao terceiro item, a aposta ainda parece muito arriscada. Não houve de fato aperto fiscal e a tramitação da proposta orçamentária é cheia de perigos, a começar pelo apoio de notórios parlamentares à proposta de aumento salarial para o Judiciário.
Os líderes da Fiesp e de outras organizações privadas poderiam contribuir para a redução dos juros se criassem um bom debate sobre o orçamento. Isso poderia incluir a busca de eficiência no gasto federal, corte de subsídios e maior cautela para evitar a mistura de contas do Tesouro e do BNDES. Uma experiência semelhante, a da conta movimento, foi desastrosa. O presidente da Fiesp também poderia contribuir para a melhora das finanças públicas se propusesse a seu novo partido, o PMDB, uma campanha para limpar o governo do loteamento político. E ainda poderia dar um caráter bipartidário à iniciativa, pedindo apoio a um de seus aliados na luta contra os juros, o pedetista Paulo Pereira da Silva, líder da Força Sindical e defensor do ministro Carlos Lupi. Por que não tentar?