Rombo na Americanas: Problema se arrasta por cerca de 9 anos e empresa vai precisar de injeção de capital, diz Sergio Rial

‘Os R$ 20 bilhões são a melhor estimativa do que vimos em 9 dias, não chancelados por auditoria’, afirmou o ex-CEO

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Talita Nascimento
Foto do author Altamiro Silva Junior
Atualização:

O agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial, disse nesta quinta-feira, 12, que o problema que resultou em R$ 20 bilhões em inconsistências no balanço da empresa se arrasta por cerca de 7 a 9 anos.

PUBLICIDADE

Rial participou de uma reunião fechada com clientes do BTG Pactual. Ele afirmou também que a companhia vai precisar de capital e que, para isso, os acionistas de referência já foram contactados e têm mostrado comprometimento com a varejista.

Rial afirmou que a inconsistência no balanço se relaciona a “risco sacado que não era lançado como dívida”. “Os R$ 20 bilhões são a melhor estimativa do que vimos em 9 dias, não chancelados por auditoria”, acrescentou.

Segundo ele, essas incongruências na maneira de reportar a “conta fornecedores” não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor, por conta de diferentes formas de reportar essa rubrica.

“Companhia não é tóxica”

Rial também disse não poder afirmar que não há mais inconsistências no balanço da companhia, ao mesmo tempo que seria leviano presumir que haja mais problemas, já que não houve tempo, em nove dias de gestão, para avaliar todas as linhas do balanço.

Publicidade

“A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou, defendendo que a empresa tem boas práticas.”Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores. Ele complementou dizendo que a linha de perdas e ganhos da empresa será impactada “em alguma envergadura, mas que as inconsistências são, principalmente relativas a dívidas”.

Problema que resultou em R$ 20 bilhões em inconsistências no balanço da Americanas se arrasta por cerca de 7 a 9 anos, diz ex-CEO Sérgio Rial.  Foto: Americanas/Divulgação

O executivo disse ainda que 92% da dívida está livre de covenants - garantias para proteger os credores. Apenas 8% tem alguns covenants, e um deles vem da Hortifruti. “Não temos pagamentos importantes de dívidas na estrutura de dívida da empresa”, disse.

Segundo ele, o maior pagamento é em 2025, de uma debênture, e que há caixa para pagar. “A empresa é viável. É grande o suficiente para ser capaz de ser ajustada, redesenhada”, afirmou. “Vamos precisamos capitalizar a empresa”, acrescentou. Ao responder o questionamento de um analista se a capitalização seria na casa de bilhões, Rial respondeu que “claramente, a capitalização que a Americanas precisa não é de milhões.”

Questão judicial

De acordo com Sergio Rial, o importante agora é manter a empresa funcionando e ela tem R$ 9 bilhões de caixa. “Não vejo impacto de curto prazo no caixa, a não ser que os bancos decidam acelerar a dívida. Aí a história é uma história judicializada”, falou, ao responder perguntas de executivos presentes. Se os bancos que financiam a empresa quiserem acelerar o recebimento das dívidas, “será uma história totalmente diferente” para o operacional da empresa. Se não o fizerem, a companhia tem caixa para seguir tocando a operação, explicou Rial a um analista estrangeiro.

“O interesse de todos, fora o fígado e a dor de estômago, é que essa empresa é viável”, disse Rial. O executivo afirmou que a Americanas “poderia perfeitamente” gerar Ebitda este ano de R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão. “Vai ser capaz de gerar mais capital de giro”. Ao mesmo tempo, a varejista não vai ser capaz de pagar suas despesas financeiras em sua totalidade e, portanto, a necessidade de injeção de capital.

Publicidade

Efeito na indústria

Segundo apurou o Estadão com fontes ligadas à indústria, a Americanas costumava alongar prazos de pagamento com fornecedores para obter algum ganho financeiro. Mas essa prática njunca chegou a afetar a relação com a indústria, porque os compromissos sempre eram honrados . Os fornecedores acabavam compensando essa prática nas condições da negociação, em preços e volumes, por exemplo.

Aos olhos de companhias multinacionais, no entanto, essa prática não era bem vista. Por isso, algumas teriam deixado de vender para a varejista ou forneciam os produtos, mas com algumas restrições.

Diante desse quadro, a perspectiva no geral, dizem fontes, é que esse episódio não deve abalar o fornecimento de produtos para a varejista, a menos que existam novas revelações a respeito da situação financeira da empresa.

Além disso, o fato de o trio formado pelos investidores Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles deter quase 30% da companhia é uma sinalização forte de que a empresa não vai quebrar e que os bancos provavelmente devem negociar uma saída para esse episódio contábil.

Outro fator que contribui para sustentar a varejista é que a Americanas é uma player importante para o varejo. A empresa tem grande capilaridade de lojas, o que funciona como moeda troca importante, argumentam fontes. / COLABOROU MÁRCIA DE CHIARA

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.