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Salário dobrado, trabalho extra e automação: a estratégia do INSS para zerar fila e acalmar Lula

Em meio a cobranças do Palácio do Planalto, novo presidente do órgão amplia limite para atuação de servidor em mutirão, que pode elevar salário em até R$ 10 mil; expectativa é zerar espera superior a 45 dias antes de dezembro

Foto do author Bianca Lima
Foto do author Anna Carolina Papp
Atualização:

BRASÍLIA – Em meio às fortes cobranças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) turbinou o trabalho extra dos servidores no âmbito do Programa de Enfrentamento à Fila da Previdência Social (PEFPS), lançado na semana passada por meio de medida provisória (MP).

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Com o objetivo de acelerar, ainda mais, a redução da fila de 1,8 milhão de pedidos à espera de análise, o INSS aumentou nesta terça-feira, 25, de seis para quinze o número máximo de processos extras por dia por funcionário. O mutirão tem prazo previsto de nove meses, prorrogáveis por mais três, e prevê o pagamento de bônus por processo concluído, o qual pode quase dobrar o salário do servidor – com um adicional máximo de R$ 10.064 por mês.

“Os processos estão sendo priorizados de acordo com o tempo de espera. Só estão sendo analisados os processos acima de 45 dias e os mais antigos têm prioridade”, afirmou o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, em entrevista ao Estadão. Segundo ele, o trabalho no contraturno teve início na última sexta-feira, com adesão acima do previsto e jornada no fim de semana.

Alessandro Stefanutto, presidente do INSS Foto: Roneymar Alves/Ascom INSS

Stefanutto projeta que, nesse ritmo, seja possível zerar a espera acima de 45 dias (prazo regular) antes do fim do ano – atual promessa do ministro da Previdência, Carlos Lupi. “Tenho a convicção de que vamos entregar antes (de dezembro); mas, para isso, tem que trabalhar”, disse.

Atualmente, há 1,79 milhão de solicitações de benefícios e perícia médica à espera de análise do INSS. Segundo o Portal da Transparência Previdenciária, 64% dos pedidos estão na fila há mais de 45 dias – sendo que, desses, 24% aguardam de 45 a 90 dias; 27% de três a seis meses; 11% de seis menos a um ano; e 2% esperam há mais de um ano.

Servidor de carreira do INSS, Stefanutto tomou posse à frente do órgão há apenas duas semanas, no lugar de Glauco Fonseca Wamburg, que foi demitido por suspeita de promover uma “farra” de passagens aéreas com dinheiro público. A troca também ocorreu em meio a críticas do presidente Lula às longas filas de espera por benefícios.

“A minha presidência é para humanizar a fila. Humanizar a fila é saber que não tem um CPF ali; tem uma pessoa que, se ficar mais de um mês sem receber, ela vai ter dificuldade”, diz Stefanutto. “Desde a elaboração do plano de governo, com o qual eu colaborei, havia um desconforto muito grande (por parte do presidente Lula) com essas pessoas na fila.”

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Medidas estruturantes

Ele classifica a situação atual como “vergonhosa” e diz que são necessárias, além das ações emergenciais, medidas estruturantes para evitar o acúmulo de pedidos em análise.

Uma delas é o aumento da automação. Hoje, segundo o presidente do órgão, mais de 30% dos benefícios – principalmente os de pouca complexidade – são analisados de forma automática, sem depender de um servidor. A ideia é melhorar o algoritmo e elevar essa fatia. Com isso, os funcionários poderiam ser deslocados para avaliações de processos mais complicados.

Além disso, há a previsão de contratação de novos servidores públicos – o que ainda depende de aval do Palácio do Planalto.

A ideia é aproveitar um concurso realizado no ano passado, com três mil aprovados. Desses, cerca de mil já foram incorporados ao INSS e o restante está listado no cadastro de reserva. “Estamos fazendo todos os esforços para que eles (os dois mil que estão no cadastro de reserva) sejam aproveitados”, diz Stefanutto.

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Caso isso se concretize, o número de servidores que realizam os julgamentos dos processos passaria de cerca de 8,5 mil para 11,5 mil.

Veja a fila de pedidos por categoria

  • Perícia médica: 596.699
  • Benefício assistencial à pessoa com deficiência: 437.077
  • Aposentadoria por idade: 222.771
  • Aposentadoria por tempo de contribuição: 134.399
  • Pensão por morte: 122.683
  • Salário-maternidade: 115.066
  • Auxílio incapacidade temporário (avaliação administrativa): 78.906
  • BPC (Benefício de Prestação Continuada): 74.517
  • Auxílio-reclusão: 7.937
  • Outros benefícios: 4.394
  • TOTAL: 1.794.449
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