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‘Ideia de ser indicado diretor do BC sem poder aumentar juro não faz muito sentido’, diz Galípolo

Diretor do BC diz entender preocupações com a independência dos indicados por Lula, mas minimiza temores e diz que ata deixa claro que todos os membros do Copom estão dispostos a aumentar os juros, se preciso

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Atualização:

Pensar que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) indicados no atual governo não poderiam votar por um aumento de juros apenas porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é crítico do nível da Selic (a taxa básica da economia) “não faz muito sentido”, afirmou nesta quinta-feira, 8, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.

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“Para mim, (essa ideia) se assemelha a um sujeito que foi estudar medicina, foi trabalhar no pronto-socorro, mas infelizmente não pode ver sangue, senão desmaia”, disse Galípolo, no 15º Congresso Brasileiro das Cooperativas de Crédito (Concred), em Belo Horizonte (MG). “Não faz muito sentido imaginar que você vai passar quatro anos sem poder fazer algo nesse sentido.”

Galípolo é um dos quatro diretores do BC indicados por Lula entre 2023 e este ano — os outros sendo Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais), Aílton Aquino (Fiscalização) e Rodrigo Teixeira (Administração). No mercado, eles são informalmente conhecidos como “G4″, em oposição ao “G5″, grupo dos cinco membros do Copom nomeados nos governos anteriores, incluindo o residente do BC, Roberto Campos Neto — a quem Galípolo é um dos cotados para suceder.

Mas, segundo Galípolo, ficou claro na ata do Copom que todos os membros do colegiado estão dispostos a aumentar os juros, se preciso, devido ao reforço à unanimidade. “Todos os diretores estão dispostos a fazer aquilo que for necessário para perseguir a meta”, ele disse.

Galípolo, indicado por Lula para a diretoria de política monetária do Banco Central, é cotado para ser o próximo presidente do BC Foto: Felipe Rau/Estadão

Segundo o diretor, o arcabouço da política monetária embasa essa percepção, já que o poder democraticamente eleito — o Executivo — define a meta de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e cabe ao BC calibrar a taxa Selic de forma a atingir o alvo. Ele argumentou que, se o Executivo desejasse um juro menor do que o necessário para fazer a inflação cair a 3%, teria alterado a meta.

“E o que foi feito ao longo desses últimos meses foi renovar, através do decreto da meta de inflação, a meta de 3%, modernizando a política monetária, trazendo a gente às melhores práticas com a mudança do ano-calendário para uma meta contínua, e com a manutenção dessa meta de 3% pelos próximos 36 meses”, ele disse. “O recado está claro.”

‘Volatilidade acima do normal’

Galípolo afirmou também que o mundo está passando por momento de volatilidade bastante acima do normal. E essa volatilidade, de acordo com ele, não tem se dado por apenas fatores conjunturais, mas também estruturais.

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Com o advento da pandemia e a ruptura das cadeias produtivas, de acordo com o diretor, economias passaram a depender da produção de um único país, levando à falta de produtos, insumos etc. Com isso, no pós pandemia, os países começaram a trazer suas produções para países mais próximos e amigáveis, numa clara mudança no processo de globalização.

Ele explicou o problema que teria a inflação norte-americana, por exemplo, se a China resolve elevar sua alíquota da tarifa de importação.

“A alta de tarifa de importação de um produto chinês nos EUA pode ser inflacionária. Se inflação for maior nos EUA, podemos ter juros americanos mais elevados”, disse, acrescentando que não está claro que a China exporta desinflação para o mundo com tarifas nos EUA.

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