Projetos contra mudanças climáticas vão exigir US$ 10 trilhões em cobertura extra de seguradoras

Estimativa é de estudo realizado pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), pela seguradora Howden e pelo Climate Change High-Level, da ONU

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Foto do author Luis Filipe Santos

O setor de seguros terá um papel importante no combate às mudanças climáticas: o de diminuir riscos e tornar viáveis investimentos em projetos ambientais e para a transição energética. De acordo com estudo realizado pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), pela seguradora Howden e pelo grupo da Organização da Nações Unidas (ONU) Climate Change High-Level, as seguradoras precisarão fornecer uma cobertura adicional no valor de US$ 10 trilhões para garantir a realização de US$ 19 trilhões em investimentos.

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O estudo foi realizado com base no mapeamento de projetos voltados para questões ambientais nos setores da iniciativa The 2023 Breakthrough Sectors da COP-26, além da estimativa da parcela do investimento necessário que depende de um produto de seguro para ser viabilizado.

Segundo o levantamento, US$ 19 trilhões em investimentos já foram comprometidos por empresas de energia, governos e capital privado para financiar a transição climática até 2030. No entanto, muitos projetos não atendem aos limites de risco exigidos pelos investidores e, para que o montante que falta seja liberado, o setor de seguros precisará fornecer mais de US$ 10 trilhões em cobertura adicional aos projetos.

Parques eólicos nos Estados Unidos e no Senegal são exemplos de projetos que puderam ser concretizados com o apoio dos seguros Foto: JF Diorio/Estadão

“O seguro tem um papel importante, de proteger, limitar as perdas, mas também tirar o risco de um certo investimento. Ainda há produtos que precisam ser cocriados pelas realizadoras dos projetos com as seguradoras para destravar a cadeia”, explica Gabriel Purkyt, sócio do BCG.

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Ele cita como exemplos dois parques eólicos a serem construídos: um no Senegal, na África, onde havia um problema de liquidez da moeda corrente, e outro nos Estados Unidos, que sofria com a volatilidade nos investimentos ambientais. Em ambos os casos, os seguros ajudam a limitar as possíveis perdas.

Para criar modelos de seguros que funcionem, ainda será necessária uma boa dose de inovação entre os envolvidos — que pode vir tanto da tecnologia como de novas ideias entre as partes. Por exemplo, um modelo que consiga prever enchentes com mais precisão pode ajudar a criar um produto mais adequado para avaliar o perfil de risco, como já ocorre com os seguros de automóveis.

Uma dica importante é trabalhar o seguro desde o início do projeto, o que pode ajudar a atrair investidores, principalmente quando se trata do desenvolvimento de novas tecnologias. Nesse caso, o compartilhamento de informações é vital para desenvolver um seguro que cubra os riscos daquele produto ou serviço ainda a ser lançado. “É preciso trabalhar em conjunto com a seguradora, compartilhar como a tecnologia funciona”, ressalta Purkyt.

O compartilhamento de informações também pode fortalecer o mercado como um todo. “Por vezes, não se tem tempo para avaliar. Por isso, pode ser bom fazer consórcio para o mercado como um todo criar um modelo compartilhado e atualizar os modelos atuariais”, projeta o especialista. A regulação também precisará correr atrás, a depender de quais produtos forem desenvolvidos.

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Outras soluções citadas pelos autores do estudo são a colaboração internacional para escalonar os seguros para energia limpa e a oferta de apólices de longo prazo para projetos que durem vários anos. A certeza é que a atuação será necessária para a transição para uma economia de baixas emissões de carbono. “É uma oportunidade como sociedade da gente se reorganizar para endereçar esses problemas. Já temos 190 eventos climáticos extremos no mundo todo ano. O seguro pode ser visto como habilitador”, conclui Purkyt.