O sócio, diretor de investimentos (CIO) e gestor dos fundos macro da Ibiuna Investimentos, Rodrigo Azevedo, avalia que o Banco Central brasileiro poderia ser proativo para agir na política monetária. Segundo ele, um ajuste da Selic na casa de 1,5 ponto porcentual até o fim do ano deve ser o mais apropriado.
“Será que tem de elevar a taxa de juros? Quanto tem? Alguns bancos centrais preferem esperar. Alguns preferem ser proativos, como se estivessem ‘comprando seguro’. Tenho tendência a achar que o BC deveria ser proativo. Um ajuste de 1,5 ponto porcentual seria suficiente para atravessar esse momento”, afirmou Azevedo, durante painel no evento Expert XP, nesta tarde. Para ele, com os atuais dados de emprego, inflação, câmbio e fiscal ainda “é difícil falar que a economia está pedindo uma queda de juros”, comentou. “Mas será que está pedindo alta?”, refletiu.
Já André Jakurski, sócio-fundador e diretor-executivo da JGP, pondera que o gasto do governo cresceu 15% nos últimos 12 meses e a massa salarial subiu 8%. “Temos um trem andando a 120 km/h. Acho que o BC teria de aumentar o juro mais que 1,5 ponto”, afirmou o executivo, destacando que “1,5 ponto não vai fazer diferença nem para a economia nem para a inflação nem para a Bolsa”. Para a Bolsa, ele disse considerar a entrada de capital estrangeiro.
Jakurski também comentou a meta de inflação no Brasil, que avalia ser muito agressiva, em 3%.
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O gestor de fundos multimercado da XP Asset, Bruno Marques, avalia que o Banco Central brasileiro talvez esteja “se atendo demais ao cenário externo” em suas decisões de política monetária, com a expectativa de início de cortes pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e isso “passa a sensação errada de que não quer elevar juros aqui”. Marques ainda observa ruídos na comunicação e “colocações infelizes” do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“Roberto foi bastante infeliz nas colocações dele nesta semana. Os ciclos de política monetária são muito específicos em cada país e talvez ele tenha se atentado demais ao cenário externo. Mas o BC se ater ao mercado externo, ao risco do Fed reduzir juros, passa a sensação errada de que não quer subir aqui. Roberto foi mais dove (suave)”, detalhou Marques. Para o gestor, o ruído de comunicação é um problema criado pelo próprio BC.
Já o indicado à presidência do BC, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, tem passado um discurso mais duro, o que trouxe volatilidade para o Brasil nas últimas semanas, segundo Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador e portfolio manager da Novus Capital. “Há um clima de desconfiança”, disse.
“Uma das ferramentas mais fortes que o BC tem é a credibilidade, e o custo de fazer a inflação convergir (à meta) quando não se tem credibilidade é maior”, destacou Guilherme Preciado, gestor de portfólio multimercado na Opportunity. Para ele, há motivos para o BC elevar os juros, mas não deve ser um ciclo “tão forte”, limitando-se a 100 pontos-base ou 150. “Então posições tomadas (que apostam na alta) em juros não são tão interessantes”, afirmou.
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