A indústria brasileira tem visto uma redução constante de sua participação no PIB brasileiro nos últimos anos. Essa fatia era de quase 25% em meados da década de 1980 e recuou, no ano passado, para algo em torno de 10%. Para um país emergente, isso pode ser considerado um problema. Frequentemente, é na indústria que se emprega a mão de obra mais qualificada e onde em geral se pagam os melhores salários. Uma indústria fraca costuma resultar em produtividade baixa, o que se reflete na própria atividade econômica brasileira — que vem patinando nos últimos anos, alternando quedas e crescimentos medíocres.
Por que isso vem acontecendo e quais são as saídas para esse quadro? Para discutir esse cenário, o Estadão promove nesta terça-feira, 23, no salão nobre da Fiesp, em São Paulo, o seminário “A indústria no Brasil hoje e amanhã — a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial”. O evento tem o apoio institucional da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas. O evento, com início às 9h, terá transmissão ao vivo no portal do Estadão.
Para o empresário Mario Bernardini, que será um dos participantes do seminário, o problema no Brasil nem é exatamente a falta de uma política industrial, algo que já foi importante no passado. Para ele, a indústria brasileira “carece de um ambiente favorável, que abrange câmbio estável, juros e inflação baixos e crédito em condições e custos competitivos”, disse. Bernardini integra o Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Segundo ele, a indústria precisa fundamentalmente de juro baixo, uma vez que a média do resultado (lucro líquido) das empresas é de 8% a 10%. “Isso, considerando as melhores companhias, as de capital aberto, sem incluir o setor financeiro. Mas o que vemos? Um juro que custa mais do que isso, o que é um contrassenso”, afirma o empresário.
Para Bernardini, um ambiente econômico favorável se faz “com um juro abaixo do retorno médio de capital empregado pelas empresas”. “Em um país que paga mais para quem faz aplicação financeira em detrimento do investimento na produção, a indústria não avança, não vai para frente.”
O economista Ricardo Barboza, pesquisador associado do Ibre/FGV e professor de economia do Ibmec, acredita que os juros estruturalmente altos no Brasil ao longo do tempo são extremamente prejudiciais à atividade industrial. “Nós somos sistematicamente os líderes de juro real mais alto no mundo, e isso não é bom para a indústria e não traz consequências agradáveis para a nossa economia. Primeiro, porque passamos a ter investimentos mais baixos do que se o juro fosse menor. Com investimento baixo, o País cresce pouco. Com crescimento menor, nós geramos menos emprego”, diz.
Ainda segundo ele, “em relação à indústria, é claramente o setor que fica mais prejudicado com esse nível de taxa de juro mais alto no Brasil. Quando vemos o custo do capital na ponta, eles não estão pagando 10,5% (o nível atual da Selic), os empresários estão pagando muito mais, porque ainda existe todo o spread bancário”. Barboza também será um dos participantes do seminário.
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Um ponto que talvez possa trazer algum alívio para a atividade industrial no Brasil é a reforma tributária. Segundo Melina Rocha, consultora internacional e especialista em IVA, que também participará do seminário, a indústria deve ser o setor mais beneficiado com a reforma, porque hoje é sobre ela que recai a maior parte da carga tributária.
“A principal medida positiva é a não cumulatividade — ou seja, o creditamento de todos os maquinários, bens de ativos fixos que as indústrias adquirem para o processo de produção. Então, a regra geral na emenda constitucional é que a indústria vai ter crédito total para todas as aquisições, salvo bens de uso e consumo que são questões muito específicas”, diz Melina. “Isso vai fazer com que o custo da indústria seja reduzido. Com isso, ela pode diminuir os preços dos produtos. A indústria para exportação vai ter a devolução dos créditos acumulados — inclusive houve diminuição desse prazo.”
O seminário terá três painéis de discussão. O primeiro, às 9h30min, vai discutir as reformas tributária e fiscal e seus impactos na indústria. Participam Cornelius Fleischhaker (economista sênior do Banco Mundial baseado no Brasil), Eduardo Fleury (sócio-fundador da FCR LAW - Escritório de Advocacia) e José Maria Arruda de Andrade (professor da Faculdade de Direito da USP), além de Melina Rocha.
O segundo painel, às 10h15min, vai discutir a questão da política monetária. Participam Paulo Gala (economista-chefe do Banco Master) e Winston Fritsch (empresário, professor, consultor e conselheiro emérito do Cebri), além de Ricardo Barboza.
Já o terceiro painel, às 11h30min, vai tratar das questões relacionadas ao financiamento à indústria e terá participação de Bráulio Borges (economista sênior da LCA Consultores e pesquisador associado do Ibre/FGV) e de Paulo Rabello (economista, ex-presidente do IBGE e BNDES), além de Mario Bernardini. A mediação dos painéis será feito pela jornalista Roseann Kennedy, colunista do Estadão e apresentadora do vodcast “Dois Pontos”.
A abertura do evento, às 9h, será feita por Carlos Erane de Aguiar (vice-presidente da Firjan), Eurípedes Alcântara (diretor de Jornalismo do Grupo Estado), Josué Christiano Gomes da Silva (presidente da Fiesp), Rafael Cervone (presidente do Ciesp) e Rafael Lucchesi (diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e diretor-superintendente do Sesi).
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