Em 1º de julho, o real completa 30 anos em circulação. A introdução da nova moeda foi um marco para o País. Desde a redemocratização, foi o sexto plano criado e o único que conseguiu pôr fim ao processo de hiperinflação que assolava a economia brasileira, desorganizando a vida das famílias e das empresas.
Nos próximos dias, o Estadão publica uma série de reportagens multimídias e entrevistas com personagens que foram fundamentais para a implementação do real, com o objetivo de relembrar como se deu a criação da moeda e quais foram os desafios ao longo dos anos que se seguiram.
A construção do real ocorreu num momento bastante delicado da vida brasileira. A nova moeda nasce com Itamar Franco, vice de Fernando Collor de Mello, e que assume o comando do País no fim de 1992. Em seu governo, Itamar já havia apostado em três nomes para o cargo de ministro da Fazenda até escolher Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo e então ministro das Relações Exteriores.
Sem a credencial de economista, Fernando Henrique convocou economistas tucanos ligados à PUC-Rio para a sua equipe no ministério. Foi atrás, então, de um dos principais centros econômicos do País e que se debruçava sobre o problema inflacionário do País há décadas. Em 1993, conseguiu formar a sua equipe. Inicialmente, vieram Edmar Bacha, Gustavo Franco, Winston Fritsch. Em seguida, chegaram Pedro Malan, André Lara Resende e Persio Arida.
“Não se chega lá em Brasília com o remédio pronto. Tem mais. O jeito de fazer é importante. Você chega com ideias gerais, chega com um acervo de experiências de outros países, tem o acervo da nossa própria experiência fracassada de combate à inflação, que é muito valioso”, afirma Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. “E as novas ideias têm de, então, entrar em operação e muitas delas a gente só vai ver se são boas ou ruins na operação, na hora da implementação.”
Sem choques abruptos ou confisco de poupança, a equipe econômica de FHC desenhou um plano com fases. De forma geral, haveria algum ajuste fiscal, a criação da URV (Unidade Real de Valor) e, enfim, a entrada em vigor da nova moeda. Era um plano explicado. Sem sustos para a população.
O impacto do real no controle da inflação do País impressiona. Um ano antes do nascimento da moeda, em 1993, a inflação chegou a 2.477%. Em 1994, já houve uma queda expressiva, para 916,46%, recuando a 1,65% em 1998. Hoje, o País se preocupa em ver a inflação distante da meta de 3%.
“A estabilidade só ficou clara em 2003. Em 2002, teve a crise com a transição do medo do Lula. O que o Lula vai fazer quando entrar? O câmbio foi lá para o alto, a inflação também subiu muito, seguindo o câmbio. Mas aí o Lula se comportou, pelo menos nos dois primeiros anos. Foi aí que houve uma certa percepção de que, mesmo sem Fernando Henrique, o plano estava consolidado, a estabilidade estava consolidada”, diz Edmar Bacha, que foi assessor do Ministério da Fazenda.
Mais do que recontar o feito histórico do real, a série de reportagens busca olhar para frente e discutir qual é a agenda necessária para o Brasil. Apesar de a hiperinflação ter ficado para trás, o País parece enfrentar novos problemas crônicos. Nas últimas décadas, o crescimento econômico tem sido lento e a desigualdade segue gritante.
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