PUBLICIDADE

Publicidade

'Serviços respondem pela melhora do PIB, mas isso tem um limite’, diz pesquisador da FGV

Claudio Considera vê o resultado da economia no 1º trimestre como 'bastante bom', mas não acredita em continuidade de crescimento no mesmo ritmo

Pesquisador associado do Ibre/FGV, o economista Claudio Considera vê o resultado do PIB no primeiro trimestre como “bastante bom”, mas não acredita em continuidade de crescimento da economia no mesmo ritmo. 

Entre os motivos, diz ele, está o “desastre” que tem sido o setor da indústria de transformação e a inflação criada por um receio dos empresários com eventual medida de controle da Petrobras. Considera é coordenador do núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV e foi Secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (1999-2002), no governo Fernando Henrique. 

O economista Claudio Considera vê o resultado do PIB no primeiro trimestre como “bastante bom”, mas não acredita em continuidade de crescimento da economia no mesmo ritmo Foto: Fábio Motta/Estadão

PUBLICIDADE

Como o sr. avalia o dado do PIB do primeiro trimestre?

É um resultado bastante bom. Há 15 dias, nós estimamos crescimento de 1,5% no último Monitor do PIB. Deu menos porque não conseguimos bons resultados para a agropecuária, para a indústria extrativa e da construção civil e o investimento na formação bruta de capital fixo também veio abaixo do que imaginávamos. De uma forma geral a economia foi bem, mas no principal setor econômico, que é o industrial, a economia não está bem. Principalmente a indústria de transformação, que está um desastre.

É um sinal de que o resultado anual também deve ser bom?

Daqui para frente não devemos ter os mesmos resultados porque o setor de serviços, que foi o que puxou a economia para cima, está perdendo capacidade de crescer mais. O resultado do primeiro trimestre é compatível com o recente dado da queda da taxa de desemprego, mas com queda também da renda. Significa que o setor de serviços responde pela queda do desemprego e pela melhora do PIB, mas isso tem um limite. Os outros setores da economia que puxam os serviços – a indústria principalmente – estão mal. E é muito duvidoso que uma economia possa crescer só produzindo serviços, porque as pessoas precisam ter renda para comprar bens e, para isso, precisa ter também a indústria, a construção crescendo para puxar os serviços.

Pelo menos o segundo trimestre tende a repetir o primeiro?

Publicidade

O segundo trimestre provavelmente ainda vem positivo, mas com crescimento menor do que o do primeiro e não creio que a economia cresça no terceiro e no quarto trimestres. Vamos ter um crescimento positivo este ano, mas baixo, não muito mais do que 1%. Ou seja, não devemos ter resultados tão alvissareiros como todos gostariam de ver a partir desse resultado de 1% divulgado hoje.

Qual a razão para isso?

O País está com uma insegurança muito grande. Esses arroubos do presidente (Jair Bolsonaro) com a Petrobras são péssimos para a economia pois devem amedrontar os empresários. Eu acho até que possa ter alguma inflação temendo qualquer controle de preços. Tem inflação de fato, que tem a ver com a guerra na Ucrânia, com falta de peças para a indústria etc., mas também acho que tem um pouco de receio de um controle de preços. Gato escaldado tem medo de água fria. Essas ameaças do presidente contra a Petrobras é uma coisa meio assustadora para mim.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.