RIO - O volume de serviços prestados ficou estável em novembro ante outubro, na série com ajuste sazonal, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quinta-feira, 12. Com isso, o setor chega a dois meses sem crescimento - houve queda de 0,5% em outubro, encerrando uma sequência de sete meses consecutivos sem perdas, de março a setembro, período em que o setor acumulou um ganho de 5,8%.
“Está havendo perda de fôlego, especialmente nos setores que foram os mais dinâmicos”, afirmou Luiz Almeida, analista da pesquisa do IBGE, referindo-se aos segmentos de tecnologia da informação e transporte de cargas. “Temos percebido perda de fôlego nesses dois setores, mas não dá para afirmar ainda que seja uma inflexão”, completou.
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Três das cinco atividades de serviços registraram recuos na passagem de outubro para novembro: informação e comunicação (-0,7%), outros serviços (-2,2%) e serviços prestados às famílias (-0,8%). Os avanços foram registrados por transportes (0,3%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,2%).
Dentro de transportes, o transporte terrestre recuou 0,1% em novembro. Luiz Almeida acredita que houve impacto nas manifestações no final de outubro e começo de novembro que paralisaram rodovias no País, além de uma suposta antecipação de vendas pela Black Friday. “Esses dois fatores podem estar afetando essa queda nos transportes terrestres”, apontou Almeida.
Na avaliação do economista sênior do Banco MUFG Brasil Maurício Nakahodo, o resultado da pesquisa de novembro como um todo é explicado pela persistência da inflação, dos juros altos e dos níveis de endividamento das famílias.
“Se antes o aperto monetário dava sinais mais claros em setores mais ligados ao crédito, agora os efeitos já aparecem na perda de fôlego dos serviços, em especial nos prestados às famílias, como setores de hotéis e restaurantes”, afirmou Nakahodo.
Ele acrescenta que, no curto prazo, não existem novos “motores” para puxar o crescimento de Serviços, como foi visto no momento de retomada das atividades após o período mais crítico da pandemia. “Os juros devem permanecer nesse patamar por mais tempo, e a inflação, que já veio acima das expectativas em dezembro, acaba corroendo o poder de compra das famílias”, observou o economista do Banco MUFG Brasil.
Famílias
Nos serviços prestados às famílias, houve perda acumulada de 2,1% nos últimos dois meses de recuos, após uma alta de 10,5% assimilada entre março e setembro de 2022. Segundo o pesquisador do IBGE, hotéis e restaurantes puxaram a queda recente.
“Aparentemente, a Copa do Mundo de Futebol não representou um impulso significativo para o grupo como um todo, a despeito da maior demanda por alguns serviços de alimentação e entretenimento”, escreveu o economista da XP Rodolfo Margato, em comentário.
A dificuldade enfrentada pelo segmento é explicada por diversos fatores, desde uma possível alteração estrutural no consumo das famílias provocada pela pandemia, com o boom de serviços online e trabalho remoto, até fatores conjunturais, como a perda de poder aquisitivo da população e a inflação, enumerou Luiz Almeida, do IBGE.
“A questão mais conjuntural é perda de renda”, disse Almeida. “A inflação não parece estar impactando o setor de hotéis, mas alimentação fora de casa certamente (sim)”, acrescentou.
Em novembro, o volume de serviços prestados no País funcionava em patamar 10,7% superior ao de fevereiro de 2020, antes do agravamento da crise sanitária. Os transportes operavam 19,5% acima do nível pré-pandemia de covid-19; informação e comunicação, 17,4% acima; outros serviços, 0,9% além; e serviços profissionais e administrativos, 5,8% acima. Por outro lado, os serviços prestados às famílias ainda estavam 6,7% abaixo do nível pré-covid.
Apesar do freio recente, o setor de serviços caminha para fechar 2022 com expansão em relação a 2021. Os dados referentes a novembro de 2022, divulgados nesta quinta, apontam alta de 6,3% na prestação de serviços na comparação com o mesmo mês de 2021, já descontado o efeito da inflação.
A taxa acumulada de janeiro a novembro de 2022 - que tem como base de comparação o mesmo período do ano anterior - foi de alta de 8,5%. No acumulado em 12 meses, houve crescimento de 8,7%, ante avanço de 9,0% até outubro.
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