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Setubal diz que governo estatizante em ‘nada ajuda’ na decisão de investir no Brasil

Presidente da Itaúsa afirma que maior preocupação para o investidor local é a situação fiscal, apesar dos esforços do ministro Fernando Haddad para o déficit ser o menor possível

Foto do author Altamiro Silva Junior

O presidente da Itaúsa, uma das maiores empresas de investimento da América Latina, Alfredo Setubal, avalia que a interferência do governo em empresas, como na tentativa recente de influenciar a escolha do novo presidente da Vale, em “nada ajuda na tomada de decisão” de investimentos no Brasil, sobretudo do investidor estrangeiro.

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“Obviamente que vão considerar isso na sua análise de risco”, disse em conversa com jornalistas nesta terça-feira, 19, para comentar os resultados recordes divulgados pela Itaúsa, com lucro de R$ 14 bilhões em 2023, ajudado, entre outros fatores, pela venda de ações da XP.

A vida para o investidor estrangeiro no Brasil é difícil, ressaltou Setubal, citando o Judiciário lento e o governo atual mais “estatizante”. “É um governo com um direcionamento maior de investimentos para o setor público. Isso é levado em consideração pelo conselho de uma empresa internacional que pode investir em qualquer lugar do mundo.”

O CEO da Itaúsa, Alfredo Setubal Foto: Felipe Rau/Estadão

Já para o investidor local, a maior preocupação é a situação fiscal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse o CEO da Itaúsa, tem feito um esforço grande para o déficit fiscal ser o menor possível.

“Ao mesmo tempo, vemos a dificuldade de execução que existe, tanto econômica quanto política, para o objetivo de déficit zero”, disse ele. “O grande risco que vejo no Brasil é esse endividamento, esse déficit fiscal meio crônico”, comentou Setubal. O risco é a dívida ir se acumulando, levando a um ambiente de juros altos e desinteresse de investimentos no Brasil.

Sem novo investimento

Pouco antes de falar com jornalistas, em conversa com analistas e investidores, Setubal comentou que a Itaúsa não planeja novos investimentos por enquanto, porque precisaria gerar um retorno muito alto para compensar os juros elevados e o risco. Além do Itaú, a Itaúsa tem em sua carteira a Aegea (saneamento), CCR (rodovias), Copagaz, Dexco (fabricante de material de construção), Alpargatas, Copa Energia e NTS (transportadora de gás natural).

“Apesar da queda dos juros, que pode cair para 9,25%, o risco do Brasil ainda é elevado”, observa o executivo. Para exemplificar a dificuldade de investir, Setubal fez uma conta: os títulos longos do Tesouro, como a NTN-B, que é indexada à inflação, estão com taxas perto dos 6% ao ano, em termos reais. Se adicionar a esse valor um prêmio para o novo investimento, algo em torno 3%, e mais a inflação, perto de 4%, o total seria 13%.

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“O investimento precisaria render uma taxa de retorno de 13% ao ano. Nessa conjuntura vemos muita dificuldade de encontrar ativos com esse retorno com a qualidade que a gente esperaria para a Itaúsa fazer um investimento relevante.”

Setubal ressaltou que a Itaúsa é sempre procurada por bancos de investimento e fundos de private equity (que compram participações em empresas), interessados em fazer novos negócios. “Sempre avaliamos”, afirmou. E haveria até espaço para novos investimentos, sobretudo no agronegócio, setor que a Itaúsa ainda não investe e é um dos mais fortes da economia. “A lacuna que temos em nosso portfólio sempre é algo ligado ao setor de agronegócios”, disse Setubal.

Se aparecer uma oportunidade “muito especial” de investimento, a Itaúsa tem espaço para tomar nova dívida para bancar uma aquisição. Mas sem novos investimentos à vista no momento, a estratégia da Itaúsa continua a ser reduzir o endividamento, afirmou Setubal.

Nubank

“Dos bancos digitais, me parece aquele mais bem posicionado do ponto de vista tecnológico, de estratégia, capital, depósitos. Veio para ficar”, disse Setubal a jornalistas ao ser perguntado sobre o Nubank.

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O presidente da Itaúsa falou que o ambiente para os grandes bancos tradicionais está mais desafiador, por conta da economia crescendo pouco, o que pesa nas receitas, e o avanço dos bancos digitais. Por isso, a necessidade de investir em tecnologia e cortar custos. Só o Itaú, contou, tem 15 mil pessoas trabalhando em tecnologia e na transformação digital.

O Nubank, na visão de Setubal, veio para ficar, já tem uma escala e deve entrar em novas frentes de negócios.

“Hoje, em relação aos bancos tradicionais, estamos melhor posicionados, mas eles vão reagir também, já estão reagindo”, disse ele, ressaltando que o Itaú quer se manter como o maior banco privado brasileiro. “Não podemos deixar de reconhecer o bom trabalho que bancos digitais e fintechs têm feito, em termos de bancarização, de produtos e inovação. Temos que ficar atentos.”

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Zeragem na XP

A Itaúsa zerou no final do ano passado a participação que tinha na XP, estratégia que começou em 2021. Ao todo, o processo teve um impacto total de R$ 5,2 bilhões nos resultados e R$ 9,6 bilhões no caixa, considerando todas as vendas, disse a diretora financeira da holding, Priscila Grecco, na teleconferência.

Dividendos em alta

Com mais de um milhão de acionistas pessoas físicas, a Itaúsa é uma das maiores pagadoras de dividendos do Brasil — o sexto maior “dividend yield” da Bolsa, segunda Grecco. O indicador mede o rendimento de uma ação apenas com o pagamento de dividendos e o da Itaúsa ficou em 8,4%.

Na segunda, anunciou a distribuição de mais R$ 723 milhões, em valor bruto. Em 2023, os proventos somaram R$ 8 bilhões, um crescimento de 100% em relação ao ano anterior.

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