RIO - A guerra na Ucrânia, que acelerou uma escalada nos preços dos combustíveis, fez disparar o custo de produção das micro e pequenas indústrias paulistas, segundo pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi) ao Datafolha. Como consequência, os empresários preveem queda no faturamento, redução no lucro, corte de investimentos e até dispensa de empregados.
O levantamento mostrou que 59% dos dirigentes de pequenas indústrias paulistas afirmaram que a alta nos preços dos combustíveis certamente diminuirá o lucro de suas companhias. Para 56% do empresariado, o encarecimento de combustíveis seguramente obrigará um reajuste de preços nos produtos e serviços prestados por suas empresas, e outros 53% já esperam queda no faturamento. Quase um terço dos industriais (31%) vê interrupção ou adiamento de investimentos na empresa, enquanto 14% dizem que terão que enxugar o número de funcionários contratados.
A coleta de dados, que se estendeu de 17 a 30 de março, ocorreu após o megarreajuste de combustíveis concedido pela Petrobras nas refinarias a partir do dia 11 daquele mês, sob a justificativa da valorização do petróleo no mercado internacional. Apenas a gasolina foi reajustada em 18,77% mas refinarias brasileiras. Além disso, houve altas também na ocasião nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%).
O conflito no Leste Europeu, que provocou uma disparada nos preços do petróleo, afeta diretamente o sistema produtivo brasileiro através de duas vertentes: aumento nos custos de produção e desabastecimento de insumos e matérias-primas, disse Joseph Couri, presidente do Simpi.
Segundo a pesquisa, um em cada quatro empresários (25%) acredita que a guerra na Ucrânia prejudicará muito o seu próprio negócio. Para 52% dos industriais, o conflito trará muitos prejuízos no fornecimento de matéria-prima e insumos para a indústria brasileira, e 50% acreditam que o conflito prejudicará muito a economia brasileira de forma geral.
Para Couri, a guerra se soma ao cenário já de desafios e incertezas para o ano de 2022.
"Acho que temos vários desafios. O primeiro é qual será a duração e o impacto dessa guerra. Digo isso em relação a suprimentos de insumos e matérias-primas e derivados de petróleo, no curto, médio e longo prazos. Isso é uma incógnita que pode afetar diretamente os custos de produção", frisou Couri, lembrando que o conflito também tem pressionado a inflação tanto mundialmente quanto no Brasil, o que impacta o poder de consumo das famílias e eleva o custo do crédito.
A pesquisa de março já trouxe uma piora na expectativa econômica do empresariado industrial. A fatia de empresários esperando piora na economia do País subiu de 19% em fevereiro para 30% no último mês. Ao mesmo tempo, 70% das micro e pequenas indústrias esperam que haja aceleração na inflação, e 64% dos entrevistados já sentiram uma alta significativa de custos em março.
O Simpi calcula que 42% das micro e pequenas indústrias brasileiras estão localizadas no estado de São Paulo.
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