O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Souza Junior, reconhece que é difícil o Congresso aprovar todas as medidas previstas no estudo para reduzir os gastos com pessoal. "São várias medidas combinadas que claramente terão que ser negociadas, haverá pressões contrárias", diz. No entanto, segundo ele, é importante ter uma dimensão de cada uma das propostas para saber o impacto das alterações que serão feitas no Congresso.
As projeções de economia aos cofres públicos não são muito otimistas?
Procuramos não defender nem criticar nenhuma medida. Queremos analisar os impactos das principais medidas que estão sendo avaliadas e não fazemos nenhum julgamento sobre a probabilidade de aprovar o conjunto todo. De fato, é bastante elevado. Mencionamos no texto que dificilmente todas essas medidas seriam aprovadas simultaneamente, a gente coloca isso no texto. São várias medidas combinadas que claramente terão que ser negociadas, haverá pressões contrárias. É para ter uma ideia da dimensão de cada uma das medidas e, se tomadas em conjunto, quais seriam os valores de economia. Mas não avaliamos probabilidade de ocorrência de qualquer cenário desses.
Como foram feitas as simulações?
Estamos trabalhando com um detalhamento maior, microssimulações, pegando o dado do indivíduo e avaliando o tempo que ele deve ficar no setor público, a tábua de mortalidade de pensionistas, todo esse tipo de questão. Tem uma série de detalhes que levamos em consideração. Temos dados por carreira, por servidor. Temos informação de quando ele entrou, em qual carreira ele está, e temos informação da carreira, quantos níveis ela tem. Aumentamos o número de níveis. Servidor que entrar em novos concursos, depois de feita a reforma, entraria numa carreira mais longa, demoraria mais para chegar ao topo. Como a gente faz microssimulação, olha para cada indivíduo separadamente, conseguimos olhar nesse nível de detalhe.
Qual a vantagem de fazer essas projeções?
Conseguimos ter noção do impacto de cada medida. Quando o legislador estiver votando, ele vai ter uma noção de qual é o impacto fiscal daquela medida, até mesmo em 20 anos. Quando foi debatida a reforma da Previdência, uma das grandes questões que foi colocada era ter estimativa de impacto de cada medida, porque se o Parlamento decide tirar uma medida, qual é o custo? Esse é o objetivo. Não estou dizendo que tem que ser todas, nada disso, não fazemos juízo de valor. Mas dizemos ‘essa medida, o impacto é esse’. Temos uma hipótese bastante importante: só é possível esse tipo de medida de redução do efetivo aumentando a produtividade do setor público, com uma flexibilidade maior de carreiras, carreira mais longa sem progressão automática também estimula produtividade, digitalização de processos.
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