Na Amazônia Legal, startups têm encontrado soluções inovadoras ao transformar resíduos da região em produtos de alto valor agregado. Este modelo de produção se baseia na bioeconomia, conceito que promove o uso sustentável dos recursos naturais, aliando desenvolvimento econômico à preservação ambiental. Um exemplo dessa tendência é a Biofert, sediada no Amapá, que investiu R$ 1,26 milhão por meio de iniciativas como o Sebrae, a Embrapii e a política de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
A startup produz biocarvão de resíduos do açaí, usado como fertilizantes para regenerar solos de plantações. Idealizada em 2021, a empresa buscou apoio financeiro para transformar o caroço do açaí em seu produto final. “A partir da obtenção de recursos, conseguimos transformar o nosso protótipo em um bioreator com capacidade produtiva. Saímos da escala de 1,5 toneladas por mês para 93 toneladas por mês”, destaca Thyago Magnun, sócio-fundador do negócio.
A expectativa de produção para 2025 é de 1.200 toneladas, número que corresponde a mais de 800 hectares regenerados.
A Engenho Café e Açaí é outro negócio que utiliza resíduos naturais da Amazônia. Também natural do Amapá, os fundadores tiveram a ideia de aproveitar o caroço do açaí na produção de uma bebida aromática: o café de açaí. A empresa existe desde 2011, mas só lançou o produto no mercado em 2020. Recentemente, o grupo fechou um contrato para enviar 2,5 toneladas por mês do produto para os EUA.
“A Engenho quer minimizar o problema causado pela cadeia produtiva do açaí, transformando o resíduo em uma bebida aromática”, afirma Lázaro Gonçalves, sócio administrador. De acordo com o IBGE, 1.696.485 toneladas de açaí foram cultivadas em 2023. O caroço, em média, corresponde a cerca de 40% do peso total do fruto.
Polo Industrial de Manaus
As startups de bioeconomia estão sendo incentivadas pelo Polo Industrial de Manaus, centros industrial e tecnológico com mais 500 empresas. A região é famosa por ceder espaço a grandes marcas do segmento eletroeletrônico, mas o crescimento da bioeconomia é outra modalidade que tem atraído a atenção de mais de 40 empresas investidoras. Por meio da política de PD&I, nos últimos cinco anos, mais de R$ 150 milhões foram investidos nessa área da economia.
Leia também
As empresas produtoras de bens de informática de Manaus têm incentivos fiscais desde que invistam, anualmente, ao menos 5% do faturamento bruto em atividades de PD&I na região da Amazônia Ocidental – compostas pelos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima – ou no Estado do Amapá.
Esse projeto, idealizado pela Suframa, é chamado de Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio). Desde 2018, o programa é coordenado pelo Idesam, organização vencedora do edital público que elegeu os responsáveis pela condução do PPBio. Neste ano, os negócios do segmento estimam faturar R$ 2 milhões.
Como as empresas investem?
A GBR, empresa de componentes do segmento eletrônico de Manaus, diz investir há mais de cinco anos em práticas de bioeconomia. O grupo tem parceria com a Biozer, uma startup da região que desenvolve cosméticos utilizando frutas típicas da Amazônia como matéria-prima. A marca já tem uma linha de produtos desenvolvidos a partir do açaí e da copaíba.
Rebecca Garcia, diretora de planejamento estratégico e novos negócios da empresa, destaca que os projetos são possíveis vetores de desenvolvimento econômico para a região pelo potencial da biodiversidade amazônica e pela capacidade de geração de emprego local.
Ainda em estudo, a startup está progredindo na produção de um gel cicatrizante para úlcera diabética que tem o gengibre amargo como componente principal. O produto está em fase de testes e pode estar pronto para o mercado no segundo semestre de 2025.
“O investimento em bioeconomia veio pelo comprometimento com a Amazônia”, afirma Thyago Alves, CEO da Flex Industries. A indústria de eletroeletrônicos tem donos amazonenses e procura investir em projetos locais desde 2017.
O grupo, também localizado em Manaus, investe na duplicação genética de sementes amazônicas. O objetivo é fazer com que frutas da região superem barreiras de logística para atingirem outros mercados do País. Para avançar nesse plano, a empresa contou com a ajuda de técnicos da Embrapa para elevar o valor agregado dos produtos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.