Imagine dormir em uma barraca na Antártida ou navegar por ondas de sete metros de altura na passagem de Drake, uma das regiões marítimas mais perigosas do mundo.
Para a turismóloga brasileira Larissa Borrelli, 38 anos, enfrentar esses desafios é, na verdade, parte de sua rotina de trabalho. Ela atua como guia de atividades em cruzeiros de expedição e já visitou os destinos mais remotos do mundo, da Antártida à Groenlândia.
Ela começou como garçonete em navios de cruzeiro tradicionais, mas já trabalhou como tradutora, anfitriã, gerente de eventos, coordenadora de grupos e até gerente de recursos humanos.
O crescimento dos cruzeiros de expedição impulsionou sua decisão de se capacitar para explorar esse mercado, unindo sua paixão pelo mundo outdoor e o trabalho.
Hoje ela compartilha seu dia a dia nas redes sociais e conta curiosidades sobre como é a rotina nos navios, além de dar dicas para quem quer trabalhar nesse setor.
Em sua atual função, Borrelli desempenha o papel de guia de atividades ao ar livre em uma empresa norueguesa de expedições. Ela lidera os hóspedes em excursões que incluem caiaque, trekking e outras atividades dentro e fora dos navios.
“Dei muita sorte porque o meu primeiro contrato já foi na Antártida. Quando você consegue a primeira temporada lá, isso já abre as portas para outros trabalhos”, conta Borrelli, que está há um ano no setor e já trabalhou em viagens para Groenlândia, Islândia, Noruega e Ilhas Malvinas.
O salário é um capítulo a parte. Ela recebe em coroa norueguesa e afirma que sua remuneração fica em torno de US$ 180 por dia (cerca de R$ 900). Em um contrato de 40 dias, o salário ficaria em US$ 7.200 (R$ 36 mil). O contrato é do tipo freelancer e costuma ser de até dois meses.
Como é o dia a dia num cruzeiro na Antártida?
A capacidade desses navios é bem reduzida e conta com apenas um restaurante e um bar. O diferencial desses cruzeiros de expedição reside na programação educativa, com palestras e workshops que aprofundam o conhecimento dos passageiros sobre os destinos visitados.
Por isso, a equipe nos navios é diversa. Além dos profissionais de hotelaria e alimentação, uma equipe de cientistas é contratada para analisar, ensinar e entreter os hóspedes com aulas sobre o que viram ou irão ver durante os passeios.
Geólogos, historiadores e biólogos marinhos são alguns dos profissionais que fazem parte da equipe. Há vagas para historiadores, por exemplo, que oferecem US$ 280 (R$ 1.390) por dia para trabalhar nessas expedições.
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O que é necessário para trabalhar em um navio de expedição?
A turismóloga esclarece que, diferentemente dos cruzeiros tradicionais, as expedições se concentram em destinos mais isolados e exóticos, incluindo lugares como Antártida, Galápagos e Ártico. Por isso, para trabalhar nessas expedições, é essencial ter uma afinidade com a vida ao ar livre.
Para a posição que ocupa atualmente, foi necessária uma série de formações especializadas, como guia de caiaque e primeiros socorros em áreas remotas. Além disso, o inglês fluente é indispensável, já que quase 100% dos tripulantes são estrangeiros.
Além das capacitações, todos os que trabalham na Antártida, por exemplo, precisam passar por uma prova de 100 questões sobre o continente.
Ser adaptável à imprevisibilidade
A rotina em um navio de expedição é marcada pela imprevisibilidade, com planos de atividades ajustados diariamente conforme as condições climáticas.
Segundo a brasileira, os funcionários do navio têm um turno para domir, mas precisam estar disponíveis 24 horas por dia. Não há folgas durante as viagens.
Borrelli destaca que trabalhar em cruzeiros de expedição exige resistência física e uma disposição para enfrentar todos os tipos de condição, além de um perfil adaptável e entusiasmado para lidar com os desafios únicos desse ambiente.
“Existe um plano, mas não é garantido. Então seu trabalho é mais direcionado em relação ao que o líder da expedição diz que é possível ou não fazer. Ele que organiza todas as atividades e você segue”, conta.
Como a equipe de expedições é reduzida (cerca de 25 pessoas para 300 visitantes), eles são responsáveis por tudo no navio. Se os hóspedes vão acampar no gelo, são eles que preparam o banheiro de gelo.
Após as descidas, os guias precisam limpar todos os sapatos dos passageiros. “Você precisa ser superflexível, pois não há um itinerário fixo a cada dia”, explica Borrelli. “Se o clima está ruim ou há muito gelo, mudamos os planos e vamos para outro local.”
Onde encontrar trabalho de guia na Antártida?
Para aqueles interessados em buscar oportunidades de trabalho no setor de cruzeiros de expedição, é essencial visitar os sites das companhias especializadas nesse tipo de viagem. Abaixo estão listadas algumas das principais empresas que oferecem essas experiências:
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