Estudos recentes mostram que as mulheres continuam longe dos cargos de liderança nas empresas brasileiras, e o caminho é mais longo no caso de mulheres negras. Como forma de reparar injustiças sociais, que existem também por falta de políticas públicas, companhias têm empenhado esforços para aumentar a presença feminina nos postos mais elevados.
A Avon, por exemplo, lançou na última semana um projeto de aceleração de carreiras para as colaboradoras negras, o Divas na Liderança. A iniciativa visa mudar o cenário atual, em que as mulheres negras representam apenas 3% das lideranças brasileiras, segundo estudo feito pela consultoria Gestão Kairós.
O programa se sustenta em oito encontros mensais com as participantes para aprofundar temas como potência feminina no papel de liderança, a importância da saúde emocional, segurança psicológica no trabalho, comunicação inclusiva, autogestão, gerenciamento de times híbridos e desenvolvimento de habilidades para liderança.
A iniciativa é realizada em parceria com a consultoria de diversidade e inclusão Profissas e faz parte de uma ação mais ampla da Avon, o Projeto Diva. Esse, por sua vez, visa cumprir as metas estabelecidas no compromisso antirracista da empresa, lançado em 2020. Um dos principais objetivos da companhia é ter, ao menos, 30% das vagas de liderança ocupadas por pessoas autodeclaradas pretas e pardas até o final desta década.
“Estamos cientes das barreiras socioeconômicas que a população feminina negra enfrenta diariamente, por isso, estamos colocando em prática ações que promovem a progressão de carreira dessas colaboradoras, como experiências educativas e de empoderamento feminino, com o auxílio de especialistas em grupos sub-representados”, diz a diretora de recursos humanos da Avon Brasil, Daniella Moura, em nota.
A empresa também implementa o Programa Avante, criado por Natura &Co, grupo do qual a marca faz parte, implementado este ano. A proposta é acelerar a carreira de colaboradores negros para aumentar a representatividade desse grupo em posições gerenciais.
O projeto inclui jornadas de desenvolvimento individual, mentorias e workshops para que os profissionais desenvolvam as competências necessárias para assumir cargos de liderança no médio a curto prazo.
Mentoria para crescer
No livro Você Pode Fazer a Diferença, a advogada e política americana Stacey Abrams fala sobre a própria trajetória pessoal e profissional como mulher negra em ambientes majoritariamente masculinos e brancos. Em um trecho, ela fala da importância de ter mentores ao longo da vida, que pode ser tanto um profissional dedicado à atividade quanto uma pessoa próxima com experiências valiosas.
“Para pessoas não brancas, mulheres e aquelas que estão apenas começando, em particular, há um forte benefício em ter um mentor para ajudar a navegar por áreas inexploradas”, ela escreve. E é nesse caminho que está a marca TRESemmé, da Unilever, que iniciou em junho um programa de mentoria para as funcionárias da empresa.
O projeto foi construído junto ao grupo de afinidade da companhia, o Woman UP, e visa estimular o olhar de todas as pessoas que se identificam como do gênero feminino para as próprias capacidades. Com o posicionamento “Não foi sorte, eu estou pronta”, o objetivo também é ajudar as participantes a entenderem e definirem o sentido de sucesso para cada uma e progredir na carreira.
Uma pesquisa feita pela TRESemmé em parceria com o Centro Internacional de Pesquisa sobre Mulheres mostrou que 92% das mulheres não se sentem prontas, duvidam de suas capacidades diante de desafios e sentem que suas conquistas são deslegitimadas ao serem consideradas “sorte”. Esses são sinais da síndrome do impostor, conjunto de fatores, atitudes e sentimentos que trazem insegurança e sentimento de fraude.
Foi também com base nesse dado que a iniciativa nasceu e conta com mais de 200 mentoras, também funcionárias da empresa e que foram preparadas para a atividade. O projeto recebeu 500 inscrições de mulheres declaradas cis, trans e não binárias, de todos os níveis hierárquicos.
As mentorias ocorrem em duplas ou grupos, conforme o objetivo definido, e têm pilares como escuta ativa, trocas de experiências, empoderamento feminino, autoconhecimento, maternidade (51% do público) e direcionamento de carreira.
“É, sem dúvida, um processo de aprendizado duplo, pois o mentor também é desafiado. Afinal, por mais experiência que se tenha, cada situação e cada pessoa são únicas”, comenta, em nota, Ana Paula Franzoti, diretora de recursos humanos da Unilever.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.