Saiba quais são os clássicos conselhos de carreira que você deve ignorar

Especialistas dizem que algumas recomendações não se adaptam mais aos tempos atuais e explicam o porquê

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Foto do author Jayanne Rodrigues

Quando enfrentamos dilemas de carreira, é comum buscarmos orientação em profissionais que consideramos referências na área ou nas redes sociais. No entanto, nem todos os conselhos funcionam porque não se adaptam mais aos tempos atuais ou à realidade particular daquele trabalhador.

Embora dicas sobre como dar feedback ou pedir um aumento possam ser úteis, algumas recomendações podem ter um efeito negativo na carreira.

Pedimos a especialistas para compartilhar os conselhos de carreira “clássicos” que eles acreditam que devam ser ignorados.

Veja os principais:

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“Seja mais extrovertido para conseguir uma promoção”

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Ser extrovertido não garante promoções, assim como ser mais introvertido não significa ter dificuldades de comunicação ou menos chances de crescer na carreira.

Pelo contrário. Geralmente, profissionais com características de introversão conhecem em profundidade o assunto de que tratam. É o que afirma Juliana Algodoal, PhD em Análise do Discurso em Situação de Trabalho.

O que fazer?

Se você é uma pessoa introvertida, use as habilidades que domina a seu favor. Por exemplo:

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  • Profissionais com perfil de introversão são observadores e conseguem analisar mais de um ângulo antes de falar. Alguns profissionais com características fortes de introversão: Bill Gates, Jorge Paulo Lemann, Hillary Clinton e Meryl Streep.

“Nunca demonstre emoção ao falar no trabalho”

Anular as emoções é um mito que persiste no ambiente corporativo. Mas é uma armadilha.

As emoções são uma ferramenta importante para incentivar, promover reflexão, criar, instruir e engajar. São todas ações que requerem o uso da voz e da fala de forma consciente. Reprimir emoções pode tornar a fala monótona e desconectada.

Juliana Algodoal, PhD em Análise do Discurso em Situação de Trabalho

Por outro lado, é necessário ter controle emocional ao se comunicar, pois é muito diferente usar a comunicação de forma inteligente para construir pontes em vez de agredir, ironizar ou destruir o time.

O que fazer?

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  • Busque se comunicar de forma clara
  • Mostre interesse genuíno pelas emoções dos colegas e clientes
  • Antes de reagir a qualquer situação adversa no trabalho, identifique o que está sentindo e busque a origem da emoção.

“Se fizer uma transição de carreira, vai ter que começar do zero”

A transição de carreira não é um reinício, mas um redirecionamento, uma ponte que conecta o que fomos ao que ainda podemos ser.

Um profissional que muda de área, função ou mesmo carreira não deixa de ser quem ele é. Pelo contrário, ele amplia seu repertório e muitas vezes esse é justamente seu diferencial.

Maurício Nagy, sócio da Nagy Consultoria, especializada em conectar talentos e organizações

“Faça o que você ama, e o dinheiro virá”

Essa frase é a queridinha dos discursos motivacionais, mas na prática é uma armadilha perigosa, diz Lincoln Fracari, autor do livro “Cabeça de Líder, Mentalidade de CEO”. Segundo o autor, o profissional deve lembrar que o mercado de trabalho não recompensa paixões.

O que você ama não importa muito para o seu chefe ou pra sua empresa, a não ser que isso tenha demanda e valor, é claro. Você pode amar pintar quadros ou cozinhar bolos, mas se não souber transformar isso em um negócio viável, vai acabar frustrado. Amor não paga boletos.

Lincoln Fracari, autor do livro "Cabeça de Líder, Mentalidade de CEO"

O que fazer?

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A alternativa é combinar suas paixões com oportunidades reais de mercado.

  • Identifique do que você gosta de fazer, mas, principalmente, o que as pessoas estão dispostas a pagar por isso. Aprenda a empreender, estude estratégias de vendas e marketing.

Mas o que você ama não tem mercado? Simples: trabalhe no que dá retorno financeiro primeiro, acumule recursos e use isso para financiar seus projetos pessoais.

“Seja um especialista e só foque em uma área”

A ideia de ser “ultraespecialista” em uma única coisa funcionava há algumas décadas. Hoje, pode ser um tiro no pé. Se você passar anos se dedicando a uma área extremamente específica e essa área se tornar obsoleta, você ficará sem opções, afirma Lincoln.

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Por exemplo, pense nas pessoas que passaram a vida trabalhando com máquinas de fax ou DVDs. Eram especialistas, mas e agora? Muitas ficaram sem saída quando o mercado as deixou para trás. Hoje, ser apenas um especialista significa depender de algo que pode não existir amanhã.

Lincoln Fracari

O que fazer?

Adote o conceito de habilidades generalistas. Para o autor, um profissional que consegue se adaptar rápido usando conhecimentos de diferentes áreas tem mais adaptabilidade. “Isso significa ser profundo em uma área (especialista), mas também ter conhecimento básico em várias outras (generalista)”, diz.

Por exemplo, se você é um designer gráfico, aprenda fundamentos de marketing digital ou UX (experiência do usuário). Se trabalha com vendas, entenda como funcionam as operações financeiras e o atendimento ao cliente.

Aqui vai um choque de realidade: se você não está aprendendo algo novo constantemente, está ficando para trás. Separe tempo na sua rotina para evoluir.

Lincoln Fracari

Especialistas em carreira revelam quais conselhos você deve ignorar de vez e explicam o porquê.  Foto: Nuthawut/Adobe Stock

“Trabalhe duro que você será recompensado”

Trabalhar duro sempre foi o mantra dos “bons profissionais”. O mercado não recompensa esforço, ele recompensa resultados, avalia Lincoln Fracari.

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Conhece alguém que rala mais do que qualquer outra pessoa, mas nunca consegue crescer? Isso acontece porque simplesmente trabalhar duro não significa que você esteja agregando valor real. As empresas não estão interessadas no quanto você se cansa, mas sim no impacto que você gera.

Lincoln Fracari

O que fazer?

Foque em tarefas e projetos que realmente têm impacto no negócio ou na sua carreira.

  • Pergunte-se: “Isso que estou fazendo vai me aproximar dos meus objetivos ou é só ocupação?”

Aprenda a vender seu trabalho. Não adianta ser o mais dedicado do time se ninguém sabe o valor que você está entregando. Habilidade de vendas devem ser expandidas em seu portfólio de conhecimento mesmo que seja de uma área operacional.

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“Entenda que parte do trabalho é saber apresentar o que você faz. Não adianta ser o mais ocupado da sala se você está ocupando seu tempo com coisas que não importam”, afirma o autor.

“Networking é sobre quantidade”

A ideia de que você precisa conhecer o maior número possível de pessoas para crescer profissionalmente é uma falácia. Ter milhares de conexões no LinkedIn ou distribuir cartões de visita em todos os eventos não faz de você alguém influente ou lembrado.

Networking não é um jogo de números, mas sim de relevância e consistência. Se você só faz networking quando precisa de algo, parabéns, você é o típico oportunista que todo mundo evita.

Lincoln Fracari

O que fazer?

  • Construa uma rede de contatos estratégica e autêntica: em vez de tentar conhecer todo mundo, foque em pessoas que realmente podem agregar valor à sua carreira e para quem você também pode agregar algo.
  • Networking é uma troca, não uma via de mão única: a melhor maneira de se destacar no networking é se interessar mais pelo outro do que querer se apresentar em detalhes.

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Não espere precisar de um favor para entrar em contato com alguém. Mantenha o relacionamento vivo, mesmo que seja com pequenas interações – um e-mail, uma mensagem no LinkedIn ou até uma curtida no story.

Lincoln Fracari

“Você não pode ter tudo: escolha entre carreira e filhos”

Conciliar carreira e maternidade é possível e pode, inclusive, fortalecer a trajetória profissional. Além disso, proporciona mais clareza e direcionamento para as escolhas profissionais, afirma Ana Carla Oliveira, especialista em desenvolvimento profissional para mulheres e recolocação e carreira.

As mulheres que vivenciam a maternidade desenvolvem habilidades valiosas, como gestão de tempo, empatia, resiliência e inteligência emocional, que as tornam ainda mais preparadas para enfrentar desafios e tomar decisões estratégicas no trabalho.

Ana Carla Oliveira, especialista em desenvolvimento profissional para mulheres e recolocação e carreira

“Você está velha demais para buscar um novo emprego”

Para muitas mulheres acima dos 50 anos, a frase pode parecer um ponto final, mas não deveria.

Com uma visão estratégica mais ampla, habilidades interpessoais apuradas e uma resiliência construída ao longo dos anos, mulheres +50 estão mais preparadas para contribuir de forma significativa para o sucesso de um negócio.

Ana Carla Oliveira

Empresas inovadoras já entenderam que equipes diversas, com profissionais de diferentes idades, são mais criativas e eficazes. “A experiência e a maturidade são qualidades insubstituíveis que vão além de qualquer formação”, destaca Ana Carla.

“Foque apenas nos seus pontos fortes”

Entender seus pontos fortes é essencial para saber onde concentrar seus esforços. Ninguém precisa saber tudo, mas reconhecer suas fraquezas é indispensável para o crescimento profissional.

Isso inclui aprender a ouvir críticas construtivas e usar essas lições para evoluir na carreira. É o que atesta Andréa Krug, psicóloga, e especialista em liderança.

O que fazer?

Aceite as suas fraquezas, compreenda que não será bom em tudo que faz e peça ajuda quando necessário. Vale conversar com uma pessoa de confiança sobre os seus pontos de melhoria ou contratar um mentor.

Invista, treine e se esforce para fazer essa habilidade ser excepcional. Os indivíduos mais brilhantes são os que investem tempo para desenvolver o que têm de melhor.

Andréa Krug, psicóloga, e especialista em liderança

“Faça sua parte que alguém irá ver e reconhecer o seu trabalho”

Há algumas décadas as pessoas contavam com seus empregadores para uma carreira e confiavam em seus líderes para avançar ao longo do tempo. “Esse tipo de visão passiva sobre o crescimento profissional não cabe mais no contexto atual”, observa Andréa Krug.

Há algumas décadas, as carreiras eram apoiadas na crença de que, ao trabalhar duro, seus líderes e a empresa inevitavelmente notariam suas contribuições e o promoveriam ao longo do tempo.

Andréa Krug

Hoje, o crescimento profissional não acontece apenas por esforço contínuo no mesmo lugar. Segundo Krug, o papel do profissional deixou de ser meramente reativo, esperando reconhecimento e passou a ser proativo.

O que fazer?

  • Tenha clareza sobre seus objetivos
  • Comunique o valor que entrega
  • Pesquise oportunidades internas e externas
  • Movimente-se antes mesmo de alguém enxergar seu potencial

“Não espere que alguém lá em cima observe silenciosamente seu bom trabalho”, adverte a especialista. Identifique suas metas, invista no seu desenvolvimento, troque experiências com outras pessoas, busque novas responsabilidades e não hesite em se colocar à frente, mostrando quem você é e o que pode realizar.

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