Assim como a maioria dos trabalhadores, boa parte dos profissionais seniores encara o mesmo processo, algumas vezes exaustivo, na hora de se candidatar a uma oportunidade de emprego. O currículo, no entanto, tem alguns diferenciais quando a vaga é para ocupar uma cadeira C-Level, de média gerência ou intermediária.
“O que muda é o grau de complexidade que avaliamos em um processo executivo e a atenção que damos não só para requisitos técnicos. Então, (verificamos) tanto tecnicamente quanto as habilidades que a pessoa candidata tem para agregar valor ao negócio”, explica Maria Eduarda Silveira, headhunter de executivos e fundadora da Bold HRO, consultoria de recrutamento.
Antes de adaptar o currículo, esteja atento às ferramentas digitais de cada processo seletivo. Para garantir que o material seja lido pelo recrutador, sempre verifique as palavras-chave utilizadas. O cuidado é necessário para evitar que o documento seja excluído logo na primeira triagem, que é feita de maneira automatizada.
Abaixo, o Estadão listou um passo a passo de como ter o currículo bem direcionado para concorrer a um cargo executivo, seja em uma startup, média empresa ou multinacional.
Pare de usar o mesmo currículo para diferentes vagas
Antes de disputar uma seleção de emprego sênior, é preciso partir do pressuposto de que nenhum trabalho é igual. Por exemplo, duas empresas distintas abrem uma vaga para a função de diretor jurídico. Em vez de mandar o mesmo currículo para as organizações, adapte o documento para cada seleção.
Observe quais são as habilidades exigidas em cada empresa, entenda a cultura organizacional e tenha a certeza de que o currículo combina com as competências pedidas nas vagas.
Caso tenha recebido uma indicação ou referência profissional, não presuma que isso signifique uma garantia. “A indicação é importante, pode ajudar o profissional, mas não garante a vaga. Até porque os processos de seleção estão tendo uma relevância cada vez maior. O mundo corporativo entendeu nos últimos anos que contratar certo faz muita diferença para o resultado da empresa”, aponta Silveira.
Depois disso, organize o que você vai destacar da sua história profissional e como vai contar isso.
Evite redundância, seja objetivo e claro no seu currículo de chefe
Ter um currículo de dez páginas não necessariamente vai despertar o interesse do recrutador. Na visão da especialista Maria Eduarda Silveira, é necessário criar um documento que informe como a experiência do candidato vai agregar valor ao emprego ofertado.
De cara, a tarefa pode ser difícil. Isso porque o profissional sênior costuma ter uma trajetória vasta, então filtrar o que deve ser mantido demanda muito cuidado.
Nessa fase, certifique-se de que o currículo é capaz de responder às seguintes perguntas:
- Qual é a área de domínio específica?
- Que tipo de habilidade o candidato possui que vai contribuir para a empresa?
- Qual problema ele vai ajudar resolver?
- Quais foram os impactos que o profissional gerou nas empresas que passou?
“O recrutador quer bater o olho e entender o que a pessoa faz, até porque recebe um milhão de currículos. É importante que o profissional mais sênior tome esses cuidados”, diz Silveira.
Não tema se gabar das habilidades comportamentais no currículo
O conhecimento técnico é considerado uma premissa para cargos seniores. Para além dessa competência, ofereça dados no currículo de que as softs skills aprimoradas ao longo da carreira serão capazes de trazer uma visão 360º para o negócio.
“Por exemplo, como vai gerenciar as expectativas e os conflitos? Na medida que o profissional cresce, vai tendo que aprender a se relacionar, a tomar decisões mais difíceis e avaliar o negócio de uma outra perspectiva pensando em crescimento, em sustentabilidade e nas melhores contratações”, aponta a especialista.
Em algumas seleções, é possível que o candidato depare-se com a entrevista por competência, etapa dedicada a verificar as habilidades comportamentais. Algumas perguntas podem ser feitas:
- Conte uma situação na qual teve um grande desafio para conseguir convencer o conselho administrativo da empresa em relação a uma decisão.
- Compartilhe um episódio de conflito no seu time. Como resolveu?
“Queremos conhecer a habilidade da pessoa em resolver problemas. São perguntas que não são feitas para um cargo júnior, mas para um sênior porque vai estar ali trazendo insumos do quanto está preparado para assumir um cargo de gestão”, afirma Silveira.
Saiba contar a própria história no currículo sem parecer chato
Segundo a headhunter Maria Eduarda Silveira, muitos profissionais não seguem em um processo de seleção porque não conseguem contar a própria história. A sugestão é ter clareza na hora de mencionar os impactos para a vaga almejada.
Caso arrisque algo sem ter estruturado o pensamento, pode cair na armadilha de “começar a falar sem parar, mas o recrutador, RH ou gestor direto não vai entender onde consegue contar com aquele profissional na empresa”, alerta a especialista.
Imagine uma vaga para um cargo executivo em um time mais enxuto. Nesse caso, demonstre que é uma pessoa que coloca a mão na massa e que sabe lidar com situações mais complexas do dia a dia.
Se a vaga for para uma função de CEO que precisa reestruturar a empresa, use exemplos de sua carreira que ilustrem a expertise para contornar o desafio.
Lembre-se de treinar até alcançar confiança suficiente para contar a própria história de forma resumida. “Precisamos lembrar que estamos passando por um processo de seleção para ser contratado. É mais se preocupar em como consegue contribuir para aquela empresa do que só ficar falando sobre si mesmo. Essa é a sacada”, sugere Silveira.
Embora seja importante um acompanhamento minucioso do currículo, é apenas uma das etapas de contratação. Pode acontecer de o candidato ser demandado para conversar com stakeholders e com pessoas de outras áreas da empresa durante o processo.
Entenda o perfil da empresa
Pesquise previamente se a vaga combina com o seu perfil. Em startups, geralmente valorizam pessoas que são mais ágeis e participativas por causa dos times mais enxutos. Já em indústrias, segundo Silveira, profissionais mais detalhistas podem encontrar mais propósito.
“Tem que entender a cultura da empresa. Você vai ficar se vendendo ali como uma pessoa superágil, mas está em um lugar que busca alguém que seja mais paciente com algumas tomadas de decisão”, pondera a especialista.
Sobre a remuneração, não existe um valor exato. A recomendação é observar o pacote completo, que envolve salário fixo, participação nos lucros e cesta de benefícios.
Além da análise de currículos, seleções para cargos seniores envolvem entrevistas, apresentação de case, plano de negócios e checagem de referências profissionais. O modelo de processo seletivo varia conforme a natureza da empresa.
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