São muitos os motivos que tornam um emprego completamente insatisfatório. No entanto, é natural que alguns profissionais, mesmo estando infelizes, demorem para perceber os sinais e acabem passando mais tempo em lugares que consideram enfadonhos. Outras variáveis que impedem o pedido de demissão têm a ver com o receio do desemprego, a falta de opções e até mesmo a dúvida de não saber para onde ir.
O Estadão listou uma série de dicas para te ajudar a identificar alguns indícios que podem demonstrar que é hora de recalcular a rota e mudar de emprego.
Sem propósito
Em algum momento, você já sentiu que estava empurrando o trabalho com a barriga? A inércia é mais comum do que imagina. “Nós trabalhamos porque precisamos de dinheiro para pagar contas e resolver a vida. Mas hoje o profissional também pensa o seguinte: ‘qual é o meu propósito com esse trabalho que tenho feito aqui?’”, avalia Silas Moura, mentor de carreiras e lideranças.
Vale lembrar que propósito - ter sentido e realização no que faz - é individual. Então, pessoas de uma mesma equipe podem ter diferentes objetivos.
O problema começa quando o item falta na prateleira do mundo do trabalho. Isso porque os indivíduos passam a questionar a razão para atuar em determinada empresa ou função. Muitas vezes, podem estar em uma organização relativamente boa, com uma remuneração adequada para a realidade, mas não encontram satisfação.
Caso não seja identificado em tempo hábil, esse gap é capaz de desencadear diminuição de desempenho, queda da produtividade e significativa piora na qualidade do trabalho.
“Propósito não é tatuagem. Tem que testar para saber se funciona. Se não gostar, muda de novo, até descobrir o que faz sentido”, explica Moura.
Como identificar o seu propósito:
- Entenda se o que faz na essência ainda gera satisfação.
- Anote o que gosta de fazer (paixões/talentos).
- Verifique se as preferências reunidas acima existem no mercado para virar possibilidades de trabalho.
- Observe o que gera desconforto: o problema é a empresa ou a função que exerce?
Cansaço extremo e irritabilidade
Preste atenção nos sinais mais silenciosos. Trabalhar por longas horas no decorrer de alguns dias para a entrega de um projeto importante resulta em um cansaço mais prolongado, o que é normal. A situação foge da normalidade quando acontece com frequência, mesmo naqueles dias em que trabalhou pouco.
“A pessoa chegou na empresa segunda-feira e já está cansada como se fosse sexta-feira, 18h”, comenta Moura. A parti daí, outro problema surge: a procrastinação. Começa a adiar a resolução de tarefas até ficar com o prazo apertado, acumular outras atividades e virar uma bola de neve.
Ficar irritado o tempo todo, seja com colegas de trabalho ou durante situações que não demandam tanta energia também é um sinal.
“Se isso tem acontecido com recorrência é o momento de parar e analisar. A pessoa tem que entender se os sintomas estão relacionados à empresa ou à natureza da atividade que exerce”, diz o mentor de carreiras e lideranças.
Falta de entusiasmo
Existe outra característica que pode ser confundida com o cansaço prolongado, que é a sensação de menor entusiasmo e desânimo. Geralmente, ocorre em situações em que a pessoa sente que o trabalho está distante da meta profissional que um dia planejou.
É como se o individuo se arrastasse da cama todos os dias desejando não ser necessário trabalhar naquela empresa ou naquela função.
“São pequenos sinais que se repetem pela maioria dos dias. É hora de pensar como era a vida antes do trabalho, o que gostava de fazer e o que dava empolgação”, afirma Raquel Christoff, mentora de carreiras.
Uma estratégia para monitorar o nível de entusiasmo é o balanço do dia. Compartilhe com alguém próximo como foi seu dia e analise em um certo período a quantidade de reclamações e pontos negativos versus pontos positivos.
Distorção ou ausência de clareza dos objetivos
Não ter conhecimento do que deseja para a própria carreira também pode se tornar um problema. Por isso, saber de qual tipo de trabalho gosta, além de compreender como a empresa pode contribuir - ou não - para o desenvolvimento profissional são fatores que podem evitar um descontentamento com o trabalho, afirma Christoff.
“Muitas pessoas suportam um ambiente porque acreditam que trabalho é assim: não é para ser feliz, é só para conseguir receber o salário no final do mês. Ok! Mas esse trabalho em que você está hoje contribui para o seu objetivo?”, questiona a mentora.
Caso ainda não tenha clareza de qual é a meta, pelo menos a curto prazo, é preciso refletir sobre isso.
Relações mal construídas com colegas e lideranças que não proporcionam abertura e comunicação clara contribuem para uma distorção de objetivos entre a empresa e o colaborador.
Veja algumas situações hipotéticas:
- Às vezes, a pessoa quer ser promovida, mas a corporação não tem espaço para crescimento.
- O colaborador não concorda com alguma tarefa, traz outra ideia, e a empresa não aceita.
- A funcionária contratada como coordenadora não tem espaço para exercer essa liderança.
- Quando a pessoa aciona algum superior não é ouvida.
“São sinais de que aquele ambiente não está de acordo com aquilo que importa para você”, reforça Christoff.
Antes de migrar para um novo emprego, pergunte a si mesmo: qual é a vida que deseja viver, defina onde quer chegar e quais são as oportunidades da empresa que servem para alcançar o seu objetivo.
Esgotamento mental
“Algumas pessoas ainda precisam de um sinal a mais para ter a certeza de que devem pedir demissão. Infelizmente, fazem isso quando enfrentam burnout ou estão extremamente cansadas e sugadas pelo trabalho. Chegam em um nível que não conseguem sustentar mais”, alerta Raquel Christoff.
Leia também
Na visão da mentora, um indivíduo que reconhece os demais sinais antes de cair em um esgotamento mental consegue fazer uma transição de carreira mais planejada.
Enquanto isso, aqueles que decidem sair somente após o agravamento da saúde mental correm maior risco de tomar uma atitude impulsiva para a vida profissional.
“Esse é o ponto em que não há a possibilidade de a pessoa esperar mais um pouco para se desligar da empresa”, alerta.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.