O mundo corporativo não é mais ‘faca na caveira’, agora é entrega sem agressividade, diz CEO

Helen Moraes atuou na advocacia por mais de 20 anos como criminalista, até empreender e criar a construtora HB Brasil, que faz casas populares para baixa renda

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Foto do author Jayanne Rodrigues
Atualização:
Foto: Fabio Risnic/Divulgação
Entrevista comHelen MoraesCEO e fundadora da HB Brasil Incorporadora e Construtora.

Helen Moraes, 51, costuma dizer que nunca sonhou pequeno. Com mais de 20 anos de experiência na advocacia, ela decidiu lançar a HB Brasil Incorporadora e Construtora em 2020. Na prática, remodelou seu estilo de liderança, trocando o jeito “faca na caveira” por um mais equilibrado. “Você tem que dar compromisso, mas também tem que entender o seu funcionário”, afirma em entrevista ao Estadão.

À frente da construtora de casas populares para baixa renda, que prevê faturar R$ 50 milhões este ano, a executiva é direta ao relembrar sua motivação para liderar: “Sempre estive à frente do meu tempo; nunca quis ser comandada por alguém.”

Além da HB, Moraes também lidera a Habita Reurb, uma empresa dedicada à regularização fundiária. Com a dupla função de empreender e liderar, a executiva avalia que o mundo corporativo mudou e que a gestão de pessoas continua sendo um desafio para as lideranças.

Confira trechos da entrevista:

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Você sempre quis ser líder?

Nunca trabalhei no mundo corporativo. No 4º ano da faculdade de direito (formou-se aos 27 anos em 2000 na faculdade Braz Cubas em Mogi das Cruzes-SP), montei meu escritório de advocacia junto com colegas. Nós tínhamos um advogado formado com OAB que assinava e ia nas audiências.

Advoguei por 22 anos, fui criminalista. Paralelamente, sempre trabalhei com o social. Eu vi a realidade habitacional de perto. Comecei a fazer titulação e regularização de quilombos. Esse foi o meu start na habitação.

Sempre fui muito à frente do tempo, nunca quis ser comandada por alguém.

Helen Moraes, CEO e fundadora da HB Brasil Incorporadora e Construtora

Minha mãe costurava, cozinhava, trabalhava para pessoas, mas no sistema autônomo. Acho que a liderança esteve no meu DNA desde sempre.

Nunca pensei pequeno. Na realidade, penso muito grande. Nesta semana, estava na capa da revista “Raça”. Sempre pensei que conseguiria através de muito esforço, trabalho, resiliência e estudo porque minha mãe colocou na nossa cabeça que por meio do estudo, a gente ia até o topo da montanha.

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Hoje tenho uma das maiores empresas de regularização fundiária deste país, estamos em mais de sete estados. E a HB trabalha para oferecer um ecossistema habitacional digno para as pessoas.

CEO e fundadora da HB Incorporadora. Foto: Fabio Risnic/Divulgação

Você atuou como advogada criminalista por mais de 20 anos, quando migrou para o empreendedorismo e chegou ao topo. Teve alguma descoberta?

A gente assusta as pessoas. Em um primeiro momento, as pessoas tratam a gente com um nível de preconceito absurdo.

No ramo da construção, eles tomam um susto quando me veem. As pessoas pensam que apenas homens podem fazer isso. Para eles, se abrir uma brecha, vai ser uma mulher branca. Se existir uma nova brecha, vai ser um homem preto, mas uma mulher preta é impossível.

Helen Moraes

Quando vamos comprar terreno, algumas pessoas não querem conversar comigo, às vezes conversam com algum funcionário que é branco achando que ele é o dono da empresa.

Sofremos preconceito até das mulheres porque não estão acostumadas a nos ver. Elas não conseguem enxergar que, se uma mulher se destaca, todas se destacam. É um pouco a fala da Angela Davis (militante negra americana): “Quando uma negra se movimenta, todas se movimentam”.

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Vim da periferia, minha mãe era cozinheira, tenho histórico de pessoa que veio de classe baixa. Então, quero que a menina da favela diga: “Uau, se ela chegou, eu quero, eu também posso.”

Essa é a referência, não quero ser a única, eu quero que muitas venham.

Helen Moraes

Defina seu estilo de liderança.

Sou uma liderança participativa que delega. Por exemplo, temos três empresas em três lugares diferentes. Em cada lugar que instalamos a regularização, montamos um núcleo da empresa.

Então, no primeiro núcleo, eu vou, participo, estruturo e organizo.

Delego funções aos meus liderados, cada um na sua determinada caixinha, mas participo de tudo. Gosto de falar que no organograma estou ali em cima, mas delego para vários pilares.

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Eu não sou suave. Sou uma liderança que delega através de processos.

Helen Moraes

A construtora tem um manual de regra e de cultura. Para trabalhar comigo, a pessoa tem que estar apaixonada pelo que fazemos. Tem que entender que a gente oportuniza a moradia digna, não admitimos nenhum tratamento com preconceito.

Enquanto líder, qual é o desafio na gestão de pessoas?

São grandes desafios. A maioria dos meus funcionários são jovens. Gosto de trabalhar com funcionários de primeiro e segundo emprego. Assim como oportunizo moradia, quero oportunizar empregos.

Quando você trabalha com funcionários jovens, tem que capacitar - não só a questão técnica - porque muitos deles sabem fazer, mas não sabem ser liderados.

Helen Moraes

Então, você mexe com alguns egos, vaidades e com alguma falta de conhecimento nos processos.

Por isso, trabalhamos muito a cultura organizacional da empresa. É um desafio enorme gerenciar essas pessoas, e essa é a minha fragilidade.

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Por que é a sua fragilidade?

Venho de um mundo faca na caveira: tem que fazer, tem prazo, e é isso. Hoje o mundo corporativo está diferente. Você tem que dar compromisso, mas também tem que entender o seu funcionário.

Como vai determinar essa entrega sem que seja de uma forma agressiva como era antes?

Quero oportunizar que eles estejam trabalhando bem e que estejam bem. Antigamente as empresas não queriam saber nem como você estava, tinha que ficar até meia-noite, se virar e entregar. Não quero ser uma líder assim.

Quero que saibam o que fazer, quando fazer, quando entregar e que estejam satisfeitos com o que estão fazendo.

Helen Moraes

Também acredito que o seu funcionário tem que ser seu fã. Ele tem que entender a cultura da sua empresa e o propósito do porquê está ali.

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Tem que entender que é uma empresa em que pode crescer. O dinheiro é uma consequência do seu trabalho. Se a faxineira fizer um trabalho de excelência, ela vai poder pedir o quanto ela quer.

Pensando ainda nesses novos processos, o que faz para equilibrar a vida pessoal e profissional?

Tem que ter equilíbrio. Tenho uma filha. Também tenho noivo. Inclusive, vamos casar. Então, algumas coisas são inegociáveis. Final de ano tenho que estar com a minha família. Alguns feriados e fins de semana também são inegociáveis.

Consigo conciliar, embora trabalhe às vezes de segunda a segunda. Mas também tiro alguns momentos para estar com eles, senão não faz sentido trabalhar.

Quais são seus conselhos para aqueles que desejam alcançar cargos de liderança?

Acredite em você. Acredite nos seus sonhos, porque se não acreditar nos seus sonhos, não vai convencer o outro a acreditar.

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A minha frase é: seja protagonista da sua própria história, você vai longe!

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