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Perguntas inconvenientes que apenas mulheres e mães escutam em entrevistas de emprego

Questões como ‘você tem filho, vai deixar com quem para trabalhar?’ e ‘pretende ter filhos?’ são comuns nas entrevistas; prática é considerada discriminatória, dizem especialistas

Foto do author Amanda Fuzita
Atualização:

As entrevistas de emprego são, em teoria, um processo justo onde candidatos são avaliados com base em suas qualificações, experiências e adequação ao cargo.

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No entanto, para muitas mulheres, especialmente mães, a realidade é diferente. Elas frequentemente enfrentam um conjunto de perguntas às quais seus colegas homens raramente, ou nunca, são submetidos.

Vitória Silva, especialista em recursos humanos, explica que o problema é que essas perguntas não ajudam a traçar o perfil comportamental e profissional adequado para o cargo.

“São extremamente discriminatórias e causam grande desconforto durante o processo”, afirma. Segundo ela, isso impacta diretamente a percepção da candidata sobre a cultura da empresa.

De acordo com as entrevistadas, as perguntas mais comuns são:

  • “É casada?”
  • “Tem filhos ou pretende ter?”
  • “Quem vai cuidar dos seus filhos enquanto você trabalha?”

Para Taís Albuquerque, mentora e especialista em recursos humanos, o que deve ser avaliado num processo seletivo são as hard skills e soft skills, e não questões de vida pessoal. “Essas perguntas não têm o menor fundamento, são preconceituosas e não avaliam habilidades técnicas”, acrescenta.

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“Você pretende ter filhos?”

Mulheres relatam que uma das perguntas mais comuns é sobre a intenção de ter filhos.

Logo que casei, senti que a empresa onde eu estava começou a sondar se eu estava pensando em ter filhos

Mariana Paixão, 41 anos, mãe de 3 filhos e CEO da Melvi Saúde, startup de marketplace para clínicas e consultórios.

Mariana Paixão, 41 anos, mãe de 3 filhos e CEO da Melvi Saúde, startup de marketplace para clínicas e consultórios. Foto: Tiago Queiroz

A CEO relata que, em uma entrevista, falaram para ela que não acreditavam que daria conta do trabalho por ser mulher e ser mãe, mas que resolveram dar uma chance para que ela provasse que estavam errados.

“Acho que foi a oferta de trabalho mais absurda que eu já recebi na vida”, conta.

“Quem vai cuidar dos seus filhos enquanto estiver trabalhando?”

Mayara Rodrigues, advogada, 30 anos Foto: Acervo pessoall

Fui mãe com 19 anos e em um processo seletivo de estágio a gerente me perguntou sobre meu filho. ‘Com quem seu filho vai ficar enquanto você estiver trabalhando? Se seu filho ficar doente, tem alguém que poderia levá-lo ao médico? Seu filho impacta na sua rotina de trabalho?’

Mayara Rodrigues, advogada, 30 anos

Esta pergunta é uma suposição implícita que a maternidade pode ser um empecilho para o desempenho profissional. Em contraste, pais raramente são questionados sobre como equilibram suas responsabilidades familiares com o trabalho.

“Eu tenho pai, irmão e namorado e nenhum deles nunca recebeu esse tipo de pergunta, muito menos tiveram esses questionamentos como critério de avaliação em processos seletivos”, afirma Rodrigues. “Isso me fez refletir sobre a diferença de tratamento entre candidatos do gênero masculino e feminino”, completa.

Essas perguntas pressupõem que a responsabilidade de cuidar dos filhos é exclusivamente da mãe. Eu não vejo meus colegas homens receberem esses questionamentos

Ana Paula Nascimento, 31 anos e mãe

Como se comportar diante das perguntas inconvenientes?

Taís Albuquerque avalia que o momento da entrevista é uma situação de pressão, e com isso, se torna complicado que a mulher se posicione.

“Se conseguirmos ser racionais nesse momento, o ideal seria conduzir e responder que não nos sentimos confortáveis em falar sobre esses pontos e afirmar que ela vai entregar os seus resultados independentemente da sua vida pessoal”, aconselha.

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Segundo Vitória Silva, adotar uma postura tranquila, mesmo diante de perguntas desconfortáveis, é fundamental. “Matenha a calma, respire fundo e organize seus pensamentos para demonstrar maturidade emocional durante a entrevista”, orienta.

Outro ponto é responder com assertividade e clareza, explicando educadamente à pessoa recrutadora que a pergunta em questão não está relacionada com as suas competências profissionais e, por isso, você prefere não responder.

“Use a oportunidade para redirecionar a conversa para suas competências e experiências que se alinham aos requisitos da vaga” afirma Silva.

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