No livro “Manual Antichefe”, o escritor Eberson Terra mergulha na complexa relação entre chefes e liderados no ambiente de trabalho. O autor destaca três traços de personalidade que podem influenciar negativamente a liderança: narcisismo, maquiavelismo e apatia. A partir dessa tríade, ele identifica líderes tóxicos, como o tirano, o politiqueiro e o microgerente, e mostra como essas características se manifestam em seus comportamentos.
O escritor ressalta que a maioria dos chefes tóxicos apresenta um claro desalinhamento emocional, seja por falta de autoconhecimento, pressão por resultados ou outros problemas internos na empresa.
São comportamentos naturalizados no dia a dia. Reverter essa situação é super difícil quando o líder não tem autoconhecimento e atua sob constante pressão.
Eberson Terra, autor do livro "Manual Antichefe"
Confira abaixo os 10 perfis de líderes tóxicos mais comuns e descubra se, em algum momento da sua carreira, você já foi um chefe indesejado pelos funcionários.
Os 10 chefes que ninguém gosta
Tirano
Narcisista e controlador, gosta de atenção para si, exige que todas suas ideias sejam bem recebidas e não aceita ser ofuscado por subordinados. Não é possível discutir ideias com esse tipo de chefe. O ambiente é mais competitivo e opressivo. Evitar confrontos diretos pode mitigar a situação.
Politiqueiro
Sabe lidar com as pessoas. Costuma distorcer a realidade, sabe como manipular informações e criar conflitos entre colegas sem estar envolvido. Recomenda-se não compartilhar detalhes pessoais, pois ele pode usar essas informações contra você.
O politiqueiro traz um acalento para a empresa como se fosse um amigo, mas é um narcisista. É o líder visto como legal e sensato. No entanto, é tóxico para a empresa.
Eberson Terra
Microgerente
Ansioso e controlador, delega tarefas, mas não confia na equipe e fica constantemente vigiando o processo. O microgerente tira a liberdade de produção do time por causa da ansiedade em entregar um projeto, por exemplo, o mais rápido possível.
Omisso-permissivo
Permite tudo e não estabelece limites claros. Por não ter o cuidado em fazer checagem de tarefas, há falta de prioridades na equipe porque tudo vira urgente. O time acaba apagando incêndios constantemente. O líder que se encaixa nesse perfil não estabelece prioridades e ignora o fluxo de trabalho dos funcionários.
Ele é omisso por não fazer filtros para equipe e é permissivo porque deixa a equipe fazer de tudo.
Eberson Terra
Guardião da Verdade
Sempre acha que está certo e trata quem discorda como inimigo. É autoritário e hostil a qualquer opinião contrária. Com isso, gera um ambiente de medo.
Esse perfil é mais comum em organizações com hierarquia piramidal, onde as decisões de quem está no topo são vistas como incontestáveis.
Eberson Terra
Caso real citado pelo autor Eberson Terra: uma empresa de educação preparava uma campanha de vestibular quando um novo líder de marketing decidiu, sozinho, como seria a estratégia de divulgação, desconsiderando a experiência de uma funcionária veterana que conhecia o público-alvo e o histórico da instituição. A funcionária tentou pontuar questões importantes, mas o chefe viu a sugestão como uma afronta. Após o episódio, começou a minar a credibilidade da liderada nos bastidores, gerando desconfiança até ela ser demitida.
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Multiplicador de Ansiedade
Diferente do microgerente, espalha ansiedade ao transferir seus medos para a equipe. O ambiente é caracterizado por extrema pressão, mas sem foco claro nos resultados. Não sabe priorizar as demandas. Também não está preocupado com a entrega. Evita ser exposto, terceirizando a responsabilidade para o time.
O multiplicador de ansiedade fala para o funcionário que a empresa está em estado de falência, mas nem sempre têm relação com as tarefas em andamento. Uma coisa é a pressão inerente ao negócio. Nesse caso, a ansiedade gerada acaba bloqueando a produtividade da equipe.
Eberson Terra
Gladiador
É mais comum na área de vendas. O líder fomenta competição desleal dentro da equipe, incentiva funcionários a brigarem entre si para alcançar metas. A competição tóxica aumenta os níveis de rotatividade e cria um ambiente de trabalho desgastante. O líder gladiador não se importa com a questão ética.
Ele é do tipo que estimula a competição entre os próprios funcionários. O ambiente deixa de ser saudável e vira uma disputa acirrada para ver quem entrega mais. Para ele, o que importa é o resultado, independentemente de o funcionário precisar subornar ou passar por cima de alguém para atingir as metas.
Eberson Terra
Bélico
Com baixa autoestima, responde a qualquer situação de pressão ou cobrança com agressividade. Mesmo sem uma ameaça clara, se sente na defensiva e ataca como forma de proteção. Esse comportamento é muitas vezes impulsionado por traços de insegurança. Evita confrontar as próprias falhas e da equipe que lidera.
Ataca sempre que se sente pressionado pelos seus pares. É o líder que nem sempre está performando bem, mas não aceita a verdade.
Eberson Terra
Acumulador de Problemas
Nunca diz “não”. Aceita todas as demandas e faz combinados sem compreender o tamanho da equipe. Isso leva a uma sobrecarga de trabalho na equipe, com prazos irreais e tarefas mal distribuídas. Ele tenta agradar a todos para manter uma boa imagem. O comportamento cria um ambiente de estresse e desgaste.
Se um superior pede para fazer uma atividade, ele nem se pergunta ou consulta a equipe. Ele aceita tudo para não ficar mal com ninguém.
Eberson Terra
Espalhador de promessas
Tem boa artimanha, mestre em prometer recompensas futuras, como aumentos salariais ou promoções, para motivar a equipe a trabalhar além do esperado. No entanto, essas promessas nunca se concretizam. Um exemplo clássico é quando ele convence um funcionário a abrir mão de outras oportunidades, promete progressão na carreira, mas não cumpre.
É o líder que diz: “trabalha no fim de semana, finaliza isso para mim até meia-noite, que tenho certeza que vou conseguir um aumento para você.” Mas isso nunca acontece.
Eberson Terra
Por que chefes tóxicos continuam nas empresas?
Empresas que mantêm uma cultura organizacional com perfis tóxicos tendem a perpetuar um modelo de gestão desalinhado com valores e princípios éticos. A permanência também acarreta um alto índice de rotatividade nas equipes.
Segundo o autor, chefes que mantêm comportamentos ruins continuam presentes nas empresas porque entregam bons resultados no curto prazo. Por outro lado, no longo prazo esse tipo de líder pode destruir a cultura de uma organização.
O diretor da empresa muitas vezes não percebe o momento em que o líder tóxico deixa de trazer resultados e começa a gerar prejuízos. Chefes ruins acabam permanecendo na organização, seja por uma dívida de gratidão, já que em algum momento entregaram bons resultados.
Eberson Terra
Fique de olho no assédio moral
Conviver com chefes tóxicos exige atenção aos sinais de alerta, para distinguir um comportamento isolado e casos de assédio moral, mesmo os mais difíceis de identificar, pondera Eberson Terra.
Ele destaca que, no dia a dia, sob intensa pressão, é comum não conseguir distinguir. Muitas vezes, o chefe não recorre a gritos, o que torna a identificação mais complicada. Apesar de não haver uma lei específica para assédio moral, pode ser tipificado em outras legislações. Também existe um projeto de lei que tipifica a conduta, mas ainda não passou pela Casa Legislativa.
Um exemplo clássico de assédio moral, embora difícil de comprovar, é quando o chefe isola um funcionário do restante da equipe, afirma o escritor.
O líder acredita que determinado funcionário não serve para sua equipe e, em vez de tratar a situação de forma transparente, tenta fazer com que a pessoa se sinta deslocada a ponto de pedir demissão.
Eberson Terra
Outra forma sutil de assédio acontece quando o líder demonstra preferência por certos membros da equipe. Por exemplo, sempre escolhe as mesmas pessoas para representar o time em reuniões importantes ou premiações, impedindo que outros funcionários tenham a chance de se destacar.
“Embora a diferença de tratamento seja difícil de provar, gera injustiças no trabalho. Não é fácil afirmar que se trata de assédio, mas cria uma setorização no ambiente em que o funcionário é preterido em relação a outras pessoas”, reforça o escritor.
Para Terra, empresas que toleram comportamentos tóxicos não conseguem ter perenidade, pois acabam perdendo talentos e comprometem a saúde e o bem-estar dos funcionários no longo prazo.
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