Tairo Ferreira, de 29 anos, gerente de produto sênior na healtech Nilo Saúde, de São Paulo, decidiu tirar cinco semanas de férias para fazer um intercâmbio em Malta, na Europa. “Foi uma decisão planejada com antecedência e informada à empresa. Mobilizamos o time para garantir que a dinâmica de trabalho continuasse sem mim”, conta Ferreira.
Essa não foi a primeira vez que ele experimentou a vida em diferentes lugares enquanto mantinha sua rotina de trabalho na Nilo. Ferreira já morou em quatro cidades diferentes: Salvador, Rio de Janeiro, Recife e Cidade do Cabo, na África do Sul.
Passei cinco semanas de férias na Europa e depois três meses morando na África do Sul, trabalhando na Nilo. A gente adaptava meus horários para casar com um horário que eu precisava para ter uma flexibilidade ao longo do dia, eram 5 horas de fuso.
Tairo Ferreira
A Nilo Saúde, que tem cerca de 100 funcionários, passou a adotar o esquema de férias ilimitadas na empresa em 2022.
Todos os funcionários, independentemente do cargo, podem tirar quantos dias de férias por ano quiserem, baseando-se na entrega de resultados. Basta avisar a liderança e o RH da empresa com a antecedência informada na cartilha de orientação.
“Férias ilimitadas é um dos benefícios aqui dentro da empresa, junto com muitos outros voltados para a saúde mental. Além dos 30 dias normais da CLT, você pode tirar uma licença remunerada”, diz Victor Marcondes, fundador e CHRO (diretor de RH) da Nilo.
Tempo para cuidar da família e fazer cursos
Segundo o executivo, os colaboradores usam do benefício de diversas formas, desde cuidar da família, até fazer cursos profissionalizantes.
“Alguns precisam ficar um tempo fora para cuidar da família, por problema de saúde mental, ou até para estender a licença maternidade, ou licença paternidade. Algumas vezes para desenvolvimento pessoal também, como fazer um curso fora do país”, afirma Marcondes.
Para o CHRO, ao permitir que o funcionário decida quanto tempo quer se ausentar, a iniciativa passa a mensagem de “autonomia e responsabilidade” e diminui o microgerenciamento. “Com autonomia também vem a responsabilidade. A gente espera que eles entreguem os resultados esperados “, explica.
Teoria Teal dá mais benefícios e menos hierarquia
Autogestão e férias ilimitadas são algumas das marcas da Teoria Teal, criada em 2014 por Frederic Laloux, ex-diretor da consultoria McKinsey, que identificou um tipo de organização pouco adepta às estruturas hierárquicas e organizacionais da empresa tradicional e mais alinhada às tendências sociais e profissionais do momento.
À medida que as organizações buscam reinventar suas abordagens de gestão, há um horizonte de ambiente de trabalho mais flexível e centrado nas pessoas.
A prática organizacional do conceito Teal apresenta um princípio fundamental: a autogestão, onde não há hierarquia tradicional e os funcionários têm maior liberdade para tomar decisões.
Como diferenciar uma empresa tradicional de uma empresa Teal?
Empresas tradicionais geralmente operam com estruturas hierárquicas definidas, com foco em resultados financeiros e processos padronizados, com decisões centralizadas na liderança.
Por outro lado, empresas que adotam a teoria Teal, além de oferecerem férias ilimitadas, focam na autogestão e no propósito evolutivo.
Práticas comuns de uma empresa Teal:
- autogestão sem hierarquias tradicionais, permitindo lideranças emergentes;
- decisões coletivas e distribuídas;
- reuniões de processamento de tensões para lidar com desafios;
- desenvolvimento contínuo;
- múltiplos papéis para crescimento horizontal e vertical;
- feedback direto entre pares;
- corresponsabilidade e contratos claros de expectativas e contribuições.
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