A geração Z, ou gen Z, como também é chamada, geralmente é definida como o grupo de nascidos entre os anos de 1995 e 2010 - o período não é exato, já que não há um consenso sobre quando termina uma geração e começa outra. O grupo é muito conhecido por sua intimidade com a tecnologia, pois essas pessoas cresceram em um mundo já digital.
No mercado de trabalho, os jovens gen Z apresentam mudanças em relação a gerações passadas. Eles costumam priorizar mais qualidade de vida e flexibilidade do que status, por exemplo, e podem ter comportamentos que surpreendem recrutadores e gestores, com as diferenças entre gerações podendo trazer oportunidades e desafios. Veja abaixo alguns dilemas da geração Z em relação ao mercado de trabalho.
Presença dos pais nas entrevistas de emprego
Uma pesquisa da revista online universitária Intelligent mostrou que 20% dos recrutadores consultados receberam candidatos da geração Z que levaram seus pais. O problema também é apontado por profissionais de RH em jovens no Brasil, com candidatos pedindo que pais ou parentes participem da entrevista de emprego presencial junto com eles, alegando que eles possuem experiência no mercado de trabalho.
A especialista em recursos humanos focada em equidade racial Patrícia Santos, fundadora da Empregue Afro, conta que já percebeu a presença do pai de uma candidata durante uma entrevista online, por videochamada, e que ela o olhava com frequência para que ele avaliasse suas respostas. O fenômeno, segundo ela, deriva da intensa ligação que a geração Z tem como a tecnologia, o que gera uma maior dificuldade na interação com as pessoas - e os pais tentam ajudar.
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Críticas por conta do comportamento no ambiente de trabalho
O estudo da Intelligent também afirma que os jovens da geração Z têm sido alvo de reclamações pelo comportamento no ambiente de trabalho: a lista inclui o uso de roupas inadequadas para a situação, dificuldades em cumprir horários e de lidar com a rotina estabelecida, falta de habilidades de comunicação - tanto na redação de e-mails quanto na participação em reuniões -, desafios em gerenciar a carga de trabalho e uma tendência a se ofenderem “facilmente”.
Dificuldade inicial com computadores
Os jovens da geração Z enfrentam dificuldade para mexer nos computadores de mesa tradicionais das empresas, daqueles com Windows como sistema operacional. Isso porque, apesar de estarem sempre conectados, na maior parte do tempo isso ocorre por meio de um celular. Mesmo ao usar o PC, eles não focam nas ferramentas mais exigidas para vagas de emprego, como as de Pacote Office, por exemplo.
O maior problema para esses jovens estaria na aplicação das funções de um programa no dia a dia para resolver situações do cotidiano de trabalho. Com isso, há uma procura por cursos específicos que ensinam como usar essas ferramentas - assim como o “cursinho de informática”, que era popular nos anos 1980 e 1990. Especialistas afirmam também, no entanto, que os jovens aprendem muito rápido a partir do momento que passam a usar uma plataforma com orientação.
Pais questionam reprovação e demissão dos filhos
Recrutadores e empregadores também afirmam que é comum pais e jovens cobrarem um retorno em relação a uma vaga de emprego ou então questionar desligamentos das empresas. Outra situação comum é que os telefones nos currículos e nos cadastros sejam os dos pais.
Feedback construtivo
Lideranças têm enfrentado dificuldades em relação a como realizar o feedback para funcionários da geração Z. Especialistas afirmam que, para esse perfil, o feedback construtivo funciona melhor que um impositivo: antes de apontar erros, o líder pode sugerir atividades capazes de desenvolver os pontos fortes do funcionário. O feedback também deve ser aberto para opiniões dos liderados. Outra recomendação é criar um plano de desenvolvimento do time, e durante essa elaboração, escutar o colaborador - já que essa é uma geração que quer ser ouvida com interesse genuíno.
O feedback deve ser constante, mas ainda é preciso ter trocas cotidianas com os liderados. Esses jovens também precisam de contexto, expectativas e transparência para se sentirem motivados no trabalho, além de priorizarem um espaço com segurança psicológica para expressão sem julgamentos. Também é essencial valorizar a individualidade de cada um e encorajar que eles contribuam com suas perspectivas, segundo os especialistas.
Desafios e oportunidades ao liderar gerações diferentes
A pesquisa “Panorama de Sentimento das Lideranças”, desenvolvida pela escola de educação corporativa Sputnik, ouviu mais de 200 líderes que atuam em corporações no Brasil e indicou que 79% das lideranças estão com dificuldade em conduzir diferentes gerações. Mari Achutti, CEO da Sputnik, afirmou ao Estadão que sua recomendação é que os líderes esqueçam o conceito de conflito geracional e pensem em encontro geracional.
Segundo ela, é a primeira vez em que há quatro gerações, com bagagens diferentes, trabalhando no mesmo ambiente, e a geração Z chega com um pensamento racional: “trabalho é trabalho, vou buscar atingir minhas metas, mas não é o meu sonho”.
Para Mari, por isso é preciso olhar também para a diversidade etária, que traz “muitos benefícios: criatividade, inovação e visões distintas olhando para o mesmo produto ou para o mesmo serviço”, diz.
“Vale criar equipes com gerações trabalhando em conjunto para elas aproveitarem o máximo que cada uma pode trazer da sua experiência, o frescor da geração Z, com a experiência da geração X, por exemplo”, declara (saiba mais sobre a pesquisa e leia a entrevista completa de Mari Achutti ao Estadão).
Correções
A versão original deste texto informava erradamente que 20% dos jovens da geração Z levaram seus pais para participarem de suas entrevistas de emprego. O dado correto, segundo levantamento feito nos EUA, é que 20% dos recrutadores consultados receberam candidatos que levaram seus pais. A informação foi corrigida na matéria.
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