O mercado brasileiro tem passado por transformações significativas nos últimos anos, impulsionadas em grande parte pela crise sanitária global. Entre essas mudanças, um fator que tem gerado intensas discussões é a chegada da geração Z no mundo do trabalho. Como a primeira a crescer imersa no meio digital, a categoria se distingue das anteriores pela preferência por trabalho remoto, flexibilidade de horários e menor interesse em estruturas hierárquicas tradicionais. (Confira aqui a primeira entrevista da série).
Na série, vamos nos referir aos CEOs da geração Z como “CEO Z”. Confira o vídeo de lançamento:
De acordo com dados mais recentes do IBGE, mais de 45 milhões de brasileiros pertencem à geração Z. Embora não haja um consenso universal sobre os anos exatos de nascimento, nesta série são considerados aqueles nascidos entre 1995 e 2012 como pertencentes ao grupo.
A geração Z no Brasil não é homogênea. É composta por grupos distintos com diferentes experiências e oportunidades. Quem afirma é Ana Tomazelli, diretora de RH com mais de 20 anos de experiência. Ela divide o contingente de jovens em três grandes grupos:
- Jovens em condição de privilégio, em especial das regiões sul e sudeste
- Pessoas negras periféricas fora dos grandes centros corporativos sem possibilidade de escolha
- Jovens nem-nem: não estudam, nem trabalham
Uma das razões para jovens apresentarem resistência em ocupar cargos de lideranças é a nova métrica de sucesso. Segundo Tomazelli, a gen Z questiona modelos tradicionais de sucesso baseadas em status corporativo e estabilidade financeira.
Com isso, muitos jovens não assumem papéis de liderança devido a experiências pessoais e contextos de vida.
Os jovens olham para as gerações anteriores e não encontram sentido em trabalhar desse jeito porque eles têm muito mais recursos de cultura, consumo e lazer.
Ana Tomazelli, diretora de RH
Aqueles que decidem assumir cargos de lideranças fazem parte de um grupo mais privilegiado, avalia a especialista. No entanto, não manifestam interesse em ocupar qualquer cargo de gestão. Optam por áreas mais ligadas a empreendedorismo digital do que em cargos tradicionais.
Segundo o Instituto da Oportunidade Social (IOS), 64% dos jovens da geração Z no Brasil planejam assumir cargos de liderança. O movimento se repete em outros países.
Nos EUA, uma pesquisa da United Minds mostrou que 38% dos membros da geração Z aspiram ser CEOs em algum momento. O levantamento ouviu 1.050 profissionais.
A principal razão daqueles que não querem ser líderes é porque liderar dá trabalho. No Brasil, quem vai na contramão são pessoas mais capacitadas em habilidades interpessoais, que valorizam esse aspecto ou têm maior facilidade para essa posição.
Ana Tomazelli, diretora de RH
A geração Z que está ascendendo como líder no Brasil vislumbra posições mais nobres, escritórios em lugares renomados e empresas com oferta de serviço, observa a especialista. “Eles não almejam necessariamente uma liderança no varejo, em educação básica e shopping center, setores que exigem escala 6x1 (seis dias de trabalho e um de folga).”
O Estadão conversou com cinco lideranças gen Z para entender como encaram os estereótipos da sua geração no mercado de trabalho e o que valorizam na vida profissional.
As entrevistas serão publicadas semanalmente. Veja quem participa da série:
- Mario Augusto Sá, de 26 anos, CEO do NG.CASH, banco digital voltado para a geração Z
- Juliana Marques, 25 anos, diretora de Novos Negócios e Planejamento Estratégico da Cimed
- Rubens Stuque, 29 anos, CEO e fundador da startup Sofá na Caixa
- Marília Robles, 28 anos, gerente de Relações Governamentais da Heineken Brasil
- Thainá Santos, 26 anos, coordenadora de Inovação e Tecnologia da L’Oréal Brasil
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