Observando que os baby boomers (1946-1964) e a geração X (1965-1980) não estão se aposentando, os millennials (1981-1996) e a geração Z (1997-2010) já exaustos estão descobrindo que talvez seja hora de reinventar a roda. Se a força de trabalho está se transformando de corrida em maratona, os jovens adultos estão prontos para reagir de acordo, fazendo pequenas pausas para beber água ou tirar férias ao longo do caminho.
O fenômeno foi apelidado de “microaposentadoria” pelos usuários do TikTok, mas é essencialmente um período sabático.
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A profissional da área de tecnologia Anaïs Felt, de 31 anos, está no início de um sabático que pode durar até um ano. Ela diz que “nunca se sentiu tão bem, descansada e mais saudável”.
Enquanto isso, Felt também tem participado de entrevistas de emprego com algumas das “principais empresas de tecnologia”, e afirma que “nenhuma delas parece se importar” com o fato de ela estar tirando uma microaposentadoria. Em vez disso, seus entrevistadores dizem que também gostariam de tirar uma.
“Acho que nosso mundo está mudando, e as pessoas e os millennials que ocupam cargos de liderança estão começando a respeitar nossa necessidade de tirar uma folga”, acrescenta.
Burnout estimula microaposentadoria de jovens adultos
De fato, o trabalho parece estar cobrando um preço especial dos funcionários ultimamente. Apenas 50% dos trabalhadores relatam ao Gallup que estão “prosperando em suas vidas profissionais”, um recorde de baixa desde que o serviço de pesquisa de opinião começou a fazer o levantamento em 2009.
O Gallup observa que a taxa relatada de funcionários bem-sucedidos começou a diminuir em 2020, quando a pandemia chegou.
Lidar com a flexibilidade crescente e depois decrescente dos empregadores provavelmente levou a um impacto no bem-estar.
Anos depois, o mal-estar persiste, já que as menções de burnout nas avaliações do Glassdoor atingiram um novo recorde em 2024.
Ao entrar no mercado de trabalho durante esse período de mudanças, a geração Z parece estar especialmente infeliz.
Esse grupo muitas vezes ganha os piores salários nos escritórios, e também foi considerada a geração mais estressada pela Cigna em 2023.
Os millennials também estão numa situação parecida. Assumindo o papel muitas vezes difícil de gerentes intermediários, eles relatam altos níveis de burnout.
Medo de trabalhar até os 65 anos sem pausa
Chamando sua estratégia de “aposentadoria por microdosagem”, a consultora de tecnologia e criadora de conteúdo Liz Lee, de 30 anos, diz que sabe que não é a única com medo de entrar em um escritório todos os dias até os 65 anos “e ter que encaixar décadas de vida no tempo que lhe resta”.
Embora não esteja deixando o emprego para fazer uma pausa, ela mudou sua mentalidade para priorizar sua saúde mental e seus interesses pessoais, de forma semelhante a um aposentado.
Com o objetivo de aproveitar a vida ao máximo enquanto é jovem e também economizar para o futuro, Lee até recusou promoções para manter um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional
“Quando você sai da sua bolha, percebe que há muitas maneiras diferentes de viver a vida”, disse à revista Fortune Peter Ovendorf, que, junto com sua esposa, largou o emprego para viajar pelo mundo. Claire Zhu, sua parceira, começou a jornada quando se sentiu esgotada em seu trabalho no setor financeiro em 2020 e notou jovens publicando conteúdo de viagem em tempo integral.
Os boomers e a geração X não conseguem se aposentar
Na outra ponta do espectro, os funcionários mais velhos estão achando que deixar a força de trabalho é um feito incrivelmente difícil.
Ao olhar para o futuro da aposentadoria, as gerações mais velhas estão encontrando um buraco negro. A geração X é a menos preparada financeiramente para deixar a força de trabalho, talvez devido ao fato de terem atingido a maioridade quando a aposentadoria desapareceu - aponta Alicia Adamczyk, da Fortune.
Vivendo mais e lidando com um mundo cada vez mais caro, os adultos também estão trabalhando mais do que o esperado. Alguns foram forçados a se desaposentar e voltar a trabalhar depois de descobrirem que suas economias não foram tão longe quanto o esperado.
A ansiedade financeira está até mesmo fazendo com que os boomers ricos ajam de forma mais frugal, já que optam por uma aposentadoria menos espalhafatosa, dada a necessidade de esticar o pé-de-meia por um período de tempo indeterminado.
E as pessoas acham que precisam de mais para se aposentar, já que a Northwestern Mutual aponta que o “número mágico” necessário para se aposentar está aumentando mais rápido do que a taxa de inflação.
Finanças à parte, trabalhar a vida inteira parece ter deixado uma marca na psique das gerações mais velhas. “A aposentadoria para mim é uma coisa assustadora. Por quanto tempo a gente realmente pode relaxar na praia?” diz George Cavedon, 73 anos.
Essa é uma tendência generalizada, já que a taxa de americanos com mais de 65 anos que ainda trabalham quase dobrou em relação a 35 anos atrás, segundo dados do Pew Research Center.
Talvez suas dificuldades tenham influenciado o desejo das gerações mais jovens de redefinir o conceito de trabalho ou, pelo menos, tirar umas férias.
Esta história foi publicada originalmente na Fortune.com
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