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80% dos chefes nos EUA mudariam a forma como organizaram a volta ao presencial, diz pesquisa

Líderes dizem que teriam feito diferente se tivessem acesso a informações melhores sobre a organização do escritório na era do trabalho híbrido, segundo levantamento da consultoria Envoy

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Foto do author Bruna Klingspiegel
Foto do author Jayanne Rodrigues
Atualização:

Oito em cada dez executivos americanos mudariam a estratégia de retorno ao trabalho presencial se tivessem tido acesso a dados melhores sobre o funcionamento dos escritórios no novo cenário híbrido. É o que revela a pesquisa da Envoy, plataforma de dados focada no trabalho.

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Os executivos dizem que há dados disponíveis, mas eles estão espalhados, e precisam ser unificados manualmente. As decisões estão sendo tomadas com base na intuição, em vez de números concretos. O resultado é que, principalmente em empresas com sistema híbrido, os funcionários entram e saem em diferentes dias e horários da semana, e os chefes não sabem quantas pessoas estão em cada momento no prédio.

Assim, as empresas não conseguem definir com precisão seus gastos com manutenção predial e oferecer espaço e recursos adequados para o trabalho dos funcionários.

A pesquisa consultou, em junho, 1.156 executivos de empresas americanas que trabalham pelo menos um dia por semana no modelo presencial.

Precisa avaliar situação de cada empresa

No Brasil, as empresas também enfrentam dificuldades com o retorno. “Houve um movimento muito forte de multinacionais que em outros países quiseram trazer as pessoas e forçaram o Brasil também”, afirma Sylvia Hartmann, pesquisadora e consultora de empresas na migração para o formato remoto, integral ou híbrido.

De acordo com Hartmann, um dos problemas causados pelo retorno ao presencial tem a ver com a falta de mapeamento individualizado na hora de definir um modelo de trabalho que se encaixe com a companhia. “Costumo dizer que é quase como uma auditoria”, diz. Algumas etapas do processo englobam:

  • Mapeamento da capacidade tecnológica e do espaço no escritório
  • Análise do número de profissionais que vivem em outras regiões

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“Não existe uma resposta certa. Para cada empresa, há existem vários modelos. Por exemplo, qual é o departamento? O que a pessoa entrega pode ser remoto? O funcionário está em outro Estado?”, questiona.

A pesquisadora complementa que a auditoria exige tempo e esforço, mas compensa em gestão e governança.

“A adoção do trabalho remoto empurra as empresas para um lugar melhor em termos de transformação digital, de eficiência, de produtividade e de preparação de equipe. Mas dá muito trabalho.”

Falta de transparência na tomada de decisão

Segundo a profissional, funcionários questionam a falta de transparência no retorno aos escritórios. Há dúvidas sobre quem tomou a decisão, com base em quais dados e qual o motivo do retorno.

“Depois da pandemia, profissionais revisitaram o sentido do trabalho na vida. Agora dá para ter mais qualidade de vida e evitar os transtornos de exposição, de violência e de humilhação no transporte público e no trânsito. As pessoas estão questionando, as empresas tomaram decisões sem embasamento e construíram políticas falhas”, declara Hartmann.

Segundo pesquisa americana, 80% das chefias dizem que poderiam ter feito de forma diferente o retorno ao trabalho presencial se tivessem acesso a dados melhores. Foto: Philippe Bigard Images/Adobe Stock

Gestores resistem a mudar modelo de trabalho

A pesquisa também mostra que 23% dos líderes entrevistados afirmaram que tomam decisões baseados na intuição por falta de dados unificados.

O dado revelaria insegurança dos gestores em aceitar um novo modelo de trabalho, diz Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho e fundadora da Subversiva, consultoria de transformação organizacional.

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A especialista afirma que a intuição não é neutra, mas sim influenciada por diversos fatores. Os vieses inconscientes, que trazem consigo os valores pessoais e influências culturais, têm um papel importante em moldar a maneira como percebemos e tomamos decisões intuitivas.

Em paralelo, segundo a consultora organizacional, a liderança muitas vezes se sente mais confortável com a presença física das equipes porque é o modelo de liderança que foi ensinado e praticado historicamente.

A falta de estratégias claras, objetivos bem definidos e comunicação eficaz nas empresas também é um fator que contribui para a decisão de voltar ao presencial. Blasi ressalta que muitas empresas não conseguem conectar as atividades diárias dos funcionários aos objetivos mais amplos da organização, gerando desorientação e falta de priorização dos colaboradores.

“As pessoas tomaram a decisão de voltar a presencial porque é nisso que elas têm prática, é nisso que elas têm experiência. Essa sensação de conforto e segurança é muito gostosa de sentir”, explica.

Blasi evita utilizar o termo “controle”. A consultora enxerga que os gestores estão em busca de uma sensação de segurança, que pode ser obtida mais facilmente no ambiente presencial.

“As pessoas estão procurando uma segurança, um formato em que estejam acostumados a gerir”, completa.

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Efeito dominó nas empresas

Outras razões para o retorno presencial são a pressão social e a influência das grandes empresas que tomaram essa medida. O Zoom, conhecido como o símbolo do home office na pandemia, é o mais recente a chamar os funcionários de volta ao escritório.

Os trabalhadores que moram em até 80 quilômetros de um escritório da empresa precisam ir pelo menos duas vezes por semana.

Sylvia Hartmann comenta que as empresas imitam a escolha das outras e acabam cometendo um erro estratégico no processo porque o que funciona para uma companhia pode não se encaixar em outra.

“É de extrema importância fazer a avaliação olhando a situação financeira da própria empresa, observando as pessoas envolvidas, analisando os processos, considerando a capacidade tecnológica e projetando-se para o futuro ao tomar essa decisão”, defende.

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