Assim como o setor aéreo, o intercâmbio sofreu baque relevante com os isolamentos em meio à pandemia de covid-19. Em 2020, por exemplo, não apenas alunos que estudavam no exterior viram as escolas serem fechadas, como os países em que residiam fecharam fronteiras, o que os obrigou a voltar para o Brasil. Passado o período mais intenso da disseminação do vírus, a retomada começou a aparecer, conforme aponta levantamento da consultoria especializada em educação internacional STB (Student Travel Bureau).
De acordo com os dados, em 2022, o setor avançou cerca de 30%, na comparação com o período pré-pandêmico - 2019. Os países mais procurados no ano passado foram os “favoritos de sempre” da língua inglesa: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália - este último apontado como uma tendência para 2023. Um outro destino que despontou foi a Holanda, que vem adotando política recente de “trocar” de nome, se identificando como Países Baixos.
“O mercado agora está muito aquecido, com uma perspectiva de crescimento para 2023 de cerca de 20% em relação ao ano anterior”, explica a vice-presidente do STB, Christina Bicalho.
Dentre os pontos de destaque sobre o estudo fora do Brasil, um deles chama atenção: a procura por cursos de graduação e pós-graduação, com intuito de desenvolvimento na carreira. “Temos alta procura principalmente nas áreas de tecnologia e sustentabilidade”, fala Christina. Segundo ela, uma das áreas que mais cresceram em termos de procura foi a de ESG (Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês) - 80%, na comparação de 2019 para 2022. Tecnologia também teve aumento relevante, 35%, no mesmo período.
Buscando conhecimentos técnicos aprofundados e uma rede de networking mais abrangente, Alexandre de Felippes, de 30 anos, foi atrás de especialização no Canadá - um dos destinos preferidos, segundo o STB. Engenheiro Ambiental por formação, ele atua como consultor de projetos em sustentabilidade para edificações e decidiu por cursar uma pós-graduação em gestão de energia.
A empresa em que ele trabalha é canadense, mas, atualmente, trabalha de maneira remota, morando no Brasil. “Eu já tinha pretensão de ir estudar no Canadá e, no meio tempo, acabei arrumando emprego em uma empresa de lá também. Vou para o país no começo de setembro deste ano”, fala.
A princípio, quando Alexandre se mudar para terras canadenses, a rotina de trabalho passará a ser híbrida, já que o local de residência ainda será um pouco afastado da empresa - cerca de uma hora e meia de trajeto. Segundo ele, a principal razão por ter escolhido cursar uma pós no exterior foi a densidade do conteúdo, com potencial maior de aprendizagem.
“Boa parte do movimento ESG, assim como essa frente de análise de qualidade, vem muito lá de fora, com referências estrangeiras. Então, boa parte do conteúdo acadêmico desses temas é muito mais avançado na América do Norte e na Europa”, comenta.
Além disso, a facilidade em conhecer novos mercados e profissionais também atraiu Alexandre para o estudo fora do País. “Experiências internacionais somam em vários aspectos na carreira, como o domínio técnico da língua e networking. É sempre importante para o desenvolvimento de carreira de uma maneira geral”, completa.
O cenário de Alexandre, de ir estudar fora e trabalhar em um emprego que já era realidade antes da viagem, é apenas uma das possibilidades. Christina Bicalho ressalta que pessoas que vão cursar graduações ou pós em outros países podem conseguir preencher vagas nos respectivos destinos durante o período de intercâmbio, já que, a depender do país, a demanda por trabalhadores é relevante.
“Nós temos casos, por exemplo, de pessoas que são formadas e vão fazer uma pós no Canadá. Ela faz o curso e, posteriormente, acaba sendo convidada para continuar no país, porque eles têm uma deficiência de mão de obra em áreas importantes, como tecnologia e marketing, além de outros setores”, diz.
Custo de vida no intercâmbio
Um dos principais pontos a se olhar quando o profissional vai passar um tempo fora do País, seja para viajar, estudar ou trabalhar, é o custo de vida do destino escolhido - o quanto é necessário despender mensalmente para conseguir se manter no local. Segundo o mesmo levantamento do STB, os locais em que este custo-benefício são mais interessantes são Irlanda do Norte, mais especificamente na capital do país, Belfast, e Canadá, com destaque para a cidade de Calgary.
E, dentro desse contexto, considerando o custo de vida, valores que são gastos com o próprio curso e também oportunidades posteriores que possam aparecer em decorrência da especialização, a expectativa, de acordo com o STB, é que o investimento no estudo no exterior seja “pago”, ou seja, que a pessoa consiga ter em renda o retorno do valor investido por todo o período, em até dois anos.
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Quais os países mais procurados para intercâmbio?
A Belta (Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio), a pedido do Estadão, elencou os 10 países mais procurados por brasileiros quando o assunto é intercâmbio. Segundo eles, os destinos mais almejados são:
- Canadá
- Estados Unidos
- Reino Unido
- Irlanda
- Austrália
- Malta
- Nova Zelândia
- África do Sul
- Espanha
- Alemanha
Além disso, a associação também listou os motivos mais comuns entre os intercambistas:
- Curso de Idiomas
- Curso de férias para jovens (teens)
- Ensino médio (High School)
- Curso de idiomas com trabalho temporário
- Curso profissional, certificado ou diploma
- Graduação
- Pós-graduação (MBA ou Master)
- Trabalho e viagem (Work and Travel)
- Trabalho Voluntário
- Pós-graduação stricto sensu (Mestrado ou Doutorado)
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