Empresas apostam em jogos de videogame para melhorar a produtividade dos funcionários

Microsoft oferece o aplicativo Games for Work no serviço de comunicações Teams como ferramenta para ampliar a cultura das companhias e aumentar moral dos funcionários

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Por Daniella Abril

WASHINGTON POST - A Microsoft tem uma nova solução para tornar os trabalhadores mais produtivos: deixá-los jogar videogames. A empresa acaba de anunciar o aplicativo Games for Work para seu serviço de comunicações e espaço de trabalho, o Microsoft Teams.

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Grátis, o app está disponível hoje no campo de aplicativos do Teams e permite aos usuários jogar quatro games de múltiplos jogadores com seus colegas durante reuniões. O objetivo é ajudar os funcionários a criar laços de confiança, melhorar a maneira que trabalham juntos e impulsionar o moral — o equivalente à mesa de pebolim na lanchonete da firma.

O anúncio ocorre num momento em que várias empresas se voltaram para forças de trabalho em regimes remotos ou híbridos, nos quais os funcionários vão ao escritório com menor frequência.

Alguns gerentes afirmam que ter trabalhadores remotos dificulta construir e manter a cultura da empresa, assim como relações pessoais. Outros se preocupam que a produtividade pode cair — como resultado, um número crescente de empresas tem optado por aumentar o monitoramento de funcionários.

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Especialistas afirmam que videogames, jogados com moderação, podem melhorar o ambiente de trabalho e a produtividade — ajudando a construir um capital social que pode estar se esvaindo, à medida que os trabalhadores deixam de se conectar casualmente com tanta frequência.

Mas os games podem criar problemas se os empregadores os tornam obrigatórios ou os usam como muleta para estabelecer a cultura, afirmam eles. Também poderiam ser problemáticos se os funcionários gastam tempo demais jogando em vez de trabalhar.

App Games for Work, da Microsoft, permite que os funcionários joguem juntos durante reuniões no Teams Foto: Microsoft

O novo aplicativo de games da Microsoft é exemplo de uma empresa propondo uma solução digital para resolver um problema analógico do pós-pandemia, afirmou Matt Cain, analista da firma de pesquisas Gartner.

“Estamos testemunhando o início de um novo capítulo, em que se pede ao pessoal de TI que aborde questões como cultura e saúde da equipe”, diz ele. “Acho que isso veio para ficar.”

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Os quatro games da Microsoft, todos com recurso multiplayer, foram desenvolvidos pela Microsoft Casual Games, que pertence aos Xbox Game Studios. O IceBreakers faz perguntas aos jogadores e apresenta opções para ajudá-los a se conhecer melhor. Por exemplo: Você prefere abacaxi ou pepperoni na pizza?

O Campo Minado encoraja os jogadores a resolver problemas conjuntamente. O Wordament é um quebra-cabeça de palavras que pode ser jogado por até 250 usuários. E o jogo de Paciência permite aos participantes interagir entre si, enquanto assistem em suas telas os competidores jogando rodadas do jogo de cartas digital.

Nota aos funcionários: gerentes conseguem obter dados sobre a atividade dos trabalhadores no Microsoft Teams. Administradores de contas no Microsoft Teams conseguem acessar detalhes como a quantidade de reuniões que um usuário participou, assim como vídeos e tempos de compartilhamento de telas durante reuniões.

Quando se trata dos games, os administradores conseguem acessar quanto tempo foi gasto nos aplicativos coletivamente, apesar de não conseguirem ver quanto tempo cada indivíduo passou jogando.

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Jennifer Chatman, professora da Faculdade de Administração Berkeley Haas, afirma que fazer funcionários se reunir em atividades não relacionadas às tarefas de trabalho pode gerar novas ideias e ajudar a deixar as pessoas mais à vontade para desafiar o status quo.

Permitir que os funcionários se conectem nos games pode valer o investimento de tempo, afirma ela. Jogar videogames pode ser útil especificamente para funcionários novos na empresa, equipes que tiveram conflitos recentes ou empregados que se sobressaem no trabalho.

“Você tem de se dar conta que está apostando no longo prazo”, afirmou ela. “Não permitir algum tempo para as pessoas se conectar poderia prejudicar você no longo prazo. As pessoas podem nunca se sentir confiantes o suficiente para falar em reuniões.”

Para encorajar laços entre equipes, por exemplo, Chatman afirmou que os empregadores poderiam randomizar quem joga com quem. Eles poderiam também implementar participações mínimas para cada funcionário, para que o game seja jogado e encorajar mais trabalhadores a se conhecer.

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Mas tenha cuidado para não forçar a diversão, afirmou Cain, acrescentando que empregadores terão de confiar em seus funcionários para usar os games sabiamente. Em vez disso, especialistas sugerem deixar as equipes decidirem o que faz sentido, quando e com que frequência os games devem ser jogados e como pretendem usar a ferramenta.

“As pessoas provavelmente monitorarão a si mesmas porque não querem atrasar tarefas”, afirmou Chatman. “Podemos confiar que elas realizarão seu trabalho.”

Cain afirmou que empregadores não deveriam depender dos games como única maneira de promover cultura e produtividade. “Os games não podem ser a solução definitiva”, afirmou ele. “Na verdade deveria haver uma série de atividades para uma equipe realizar e produzir uma sensação maior de unidade.” /Tradução de Guilherme Morgensztern Russo

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