As políticas de flexibilidade no trabalho estão em declínio, segundo estudo feito pelo LinkedIn com mais de 2900 executivos C-Level de grandes organizações do mundo. Nos EUA, por exemplo, antes da pandemia apenas 2% dos empregos postados na plataforma eram listados como remotos. Em abril de 2022 a categoria alcançou seu pico com 20%, mas retornou para 15% em setembro.
Apesar das conquistas durante a pandemia, a pesquisa apontou que os executivos estão preocupados que o atual cenário econômico mundial signifique um retrocesso na adoção de políticas flexíveis (82%), no desenvolvimento de habilidades (88%) e no bem-estar dos colaboradores (88%).
Segundo Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina, as decisões tomadas pelos líderes em meio a incertezas econômicas tem afetado diretamente as prioridades e as ferramentas de retenção e atração de talentos. “Apesar do trabalho remoto ter sido uma alternativa para muitas empresas durante a pandemia, nem todas haviam consolidado este como o modelo permanente para o longo prazo”, conta.
É possível que as empresas estejam querendo voltar ao escritório devido a uma falsa ideia de segurança imposta antes da pandemia, explica o Diretor. “Globalmente, vemos que a liderança está dividida entre voltar para formas antigas de trabalho e olhar para o futuro e repensar a maneira que os funcionários exercem suas funções.”
Essa queda vai na contramão da tendência flexibilizadora e de valorização dos funcionários observada nos últimos dois anos e celebrada por grande parte dos empregados. Pesquisas mostram que o trabalho flexível se estabeleceu como uma proposta de valor fundamental para grande parte dos profissionais e ponto crucial para a retenção de talentos nas empresas.
Segundo relatório da consultoria RH Adecco a ideia de poder escolher entre trabalhar de casa e ir ao escritório apenas alguns dias da semana é a preferência de 40% dos profissionais, enquanto 33% prefere apenas o home office. Além disso, um relatório da Conexa indicou que 32% acreditam que o modelo de trabalho afeta a saúde emocional, sendo que 50% dos entrevistados estão no presencial, 29% no híbrido e 21% trabalham somente em casa.
De acordo com Milton, essa desconexão entre empregador e empregado sinaliza a importância de aproximar os desejos de ambas as partes. Enquanto modelos de trabalho flexíveis tendem a diminuir, pessoas que estão em busca de recolocação não têm aceitado formatos de trabalhos engessados. “No Brasil e em muitos países do mundo, as aplicações para funções remotas superam as ofertas do mercado”, explica.
A pesquisa, realizada pelo LinkedIn em parceria com a YouGov, foi respondida por 250 executivos brasileiros de organizações com mais de 1.000 funcionários. Na plataforma, foram analisados os anúncios de empregos pagos e o número de inscrições para essas funções de janeiro de 2021 até setembro do mesmo ano.
O estudo ainda mostrou que o grande desafio das empresas nesse contexto é reter talentos e mantê-los engajados. Os executivos também reconhecem que as tensões financeiras devido ao aumento do custo de vida (32%) e o medo da demissão (28%) são os pontos principais de preocupação dos trabalhadores brasileiros.
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