Como encontrar emprego em companhias de tecnologia nos EUA e Europa nos sites especializados

Remuneração em dólar, acima do mercado, e flexibilidade são as principais vantagens em atuar nesse modelo de trabalho; empresas oferecem capacitação e mentoria

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Foto do author Bruna Klingspiegel
Atualização:

Do escritório de casa em São João Del Rei, em Minas Gerais, Luiz Carlos Oliveira atua como engenheiro de software sênior para uma empresa americana desde janeiro deste ano. Após experiências como freelancer e CLT, ele encontrou em um marketplace global de talentos remotos a oportunidade perfeita para facilitar seu acesso ao mercado de trabalho estrangeiro e aumentar o salário.

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O engenheiro foi selecionado por três empresas e pôde escolher a que mais se encaixava com seu perfil. “Tentaram me ganhar pelo salário, mas escolhi a que eu mais me identificava”, conta. Ainda assim, Oliveira destaca que o lado financeiro é a principal vantagem em trabalhar nesse formato. “Eu recebo U$ 7 mil por mês (R$ 35,6 mil, na cotação atual). As empresas daqui não conseguem me pagar isso”, diz ele.

Desde a pandemia e a popularização do home office, a busca por um trabalho flexível, em que o profissional pode decidir onde, quando e como trabalhar cresceu muito, a ponto de se tornar um pré-requisito para os profissionais aceitarem algum emprego. Nesse contexto, de grandes transformações no mundo corporativo, os marketplaces surgem como resposta ao desejo cada vez maior por autonomia e também à demanda do mercado por especialistas em tecnologia.

Os profissionais podem se cadastrar de forma gratuita nessas plataformas e, ao serem selecionados para determinado projeto ou empresa, assinam um contrato com a rede de talentos. Ou seja, o vínculo trabalhista que o profissional tem é com o marketplace. Por isso, para fazer parte do banco de talentos das plataformas é preciso passar por um processo de seleção que avalia competências técnicas de acordo com a área de atuação e, em alguns casos, por uma análise de perfil profissional e habilidades socioemocionais. Às vezes, as empresas contratantes do serviço também fazem seus próprios testes e entrevistas com os candidatos.

No caso de Oliveira, o processo seletivo envolveu entrevistas e testes para analisar as competências técnicas. O sistema de inteligência artificial da Andela, marketplace ao qual ele aderiu, reúne inúmeras informações sobre o profissional para registrar no banco de dados e facilitar o processo de “match” com as empresas que buscam esses profissionais.

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Luiz Oliveira trabalha há 8 meses como engenheiro de software sênior para uma empresa americana Foto: Arquivo Pessoal

Avaliada em US$ 1,5 bilhão, a empresa africana está presente em cem países e chegou ao Brasil em agosto de 2021. Segundo o diretor de Marketplace da companhia, Álvaro Oliveira, o mercado brasileiro é conhecido por ter muitos profissionais capacitados na área de desenvolvimento e esse foi um fator chave para a vinda da organização ao País. “Nossas vagas são globais e a ideia é que pessoas de qualquer canto do mundo possam ter acesso às nossas oportunidades”, afirma.

A exemplo de Oliveira, todos os profissionais cadastrados e contratados pela Andela recebem o salário em dólar e têm contrato de trabalho com prazo de 1 ano. Para o engenheiro, há uma segurança maior durante a contratação, tanto para o freelancer quanto para o contratante. As empresas estrangeiras, diz ele, têm medo de contratar profissionais de outros países e a existência de alguém para intermediar essa relação facilita o processo. “É muito mais fácil as empresas aceitarem contratar um estrangeiro quando tem alguém assumindo o risco e a responsabilidade”, diz o profissional.

Empresas de recrutamento como a Robert Half, Michael Page e Randstad também fazem esse papel de terceirizar o trabalho. Elas contratam o brasileiro, cobram da empresa estrangeira e repassam para o trabalhador, que responde aos líderes no exterior.

Equipes de alta performance

Outro exemplo de marketplace é a BossaBox, uma rede qualificada de freelances de designers a desenvolvedores de software, que trabalham em equipes na construção de produtos digitais para os clientes. “As pessoas querem ser donas da própria carreira, mas não encontravam isso nas agências ou em empresas prestadoras de serviço”, explica o cofundador, André Abreu.

Para fazer parte da plataforma, os profissionais também passam por um processo seletivo. Mas, uma vez parte do banco de talentos, eles têm liberdade para se candidatar às vagas para projetos de curto, médio e longo prazos dentro de um painel interno. “São profissionais que trabalham por projeto, mas que exibem um nível de comprometimento e entrega acima ou digno de um CLT”, conta.

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Segundo André Abreu, os profissionais exibem um nível de comprometimento e entrega acima ou digno de um CLT. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Fundada em 2017, a companhia tem mais de 25 mil profissionais cadastrados na plataforma e atua nos projetos de acordo com o estágio de evolução do produto, desde a pesquisa de mercado até o desenvolvimento. A valorização dos profissionais, segundo Abreu, é um dos diferenciais da plataforma.

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Os prolancers, como são conhecidos os freelances profissionais, também recebem capacitação e mentoria. “Estamos sempre pensando em como podemos ajudar esse profissional, seja treinando ele de alguma forma ou conectando-o a alguma referência da nossa comunidade.”

Para ampliar a gama de profissionais, Abreu conta que uma das estratégias usadas pela empresa na atração de talentos é a fomentação da diversidade cultural dentro da comunidade. Em parceria com ONGs e escolas de programação, a BossaBox acessa cada vez mais profissionais de grupos sub-representados ou que não têm acesso a esse tipo de plataforma. “Aqui trabalhamos com metas internas em relação à alocação de pessoas diversas nas equipes dos projetos”, explica.

Do lado das companhias, a ideia é tornar o processo de busca por profissionais cada vez mais ágil, simples e intuitivo. Após a escolha da equipe que irá atuar no projeto, a empresa acompanha todo o desenvolvimento por meio de um dashboard que recebe atualizações recorrentes.

“Eu quero que meu cliente veja os meus profissionais como uma extensão da sua força de trabalho, mas sem ter de se preocupar com a gestão e todos os trâmites que envolvem a contratação de um profissional”, destaca Abreu.

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Em 2021, o grupo Locaweb também lançou um marketplace para conectar profissionais da área da tecnologia, mas com foco em atender a demanda de pequenas e médias empresas. Com o intuito de ajudar as PMEs a crescerem digitalmente, o projeto Profissionais da Internet não cobra nenhum tipo de taxa dos clientes e oferece serviços em quatro áreas de atuação: marketing digital, programação, redes sociais e relacionamento.

Oportunidade de conexão

Para o diretor da BossaBox, André Abreu, a pandemia trouxe uma grande mudança de perspectiva das empresas e dos profissionais em relação ao trabalho. Com o mercado cada vez mais acirrado em relação a tecnologia e com o aumento do déficit de profissionais, novos formatos são testados e diversos estigmas em relação ao trabalho foram quebrados.

“Enquanto os trabalhadores tem buscado cada vez mais oportunidades para ganhar mais e ter uma renda extra, as empresas começaram a perceber que dá pra ter resultado em um modelo de trabalho flexível e remoto”, afirma Abreu. Além disso, os profissionais viram a oportunidade de prestar serviço para empresas estrangeiras e que pagam em dólar. Se por um lado isso é bom para os trabalhadores brasileiros que tem a chance de ampliar a renda, por outro desabastece um mercado que já é carente de mão de obra.

A projeção é que, até 2025, o déficit anual de talentos de tecnologia alcance 106 mil profissionais, de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). A diretora executiva da associação, Mariana Rolim, enxerga os marketplaces como uma nova oportunidade para conectar os profissionais às empresas, mas alerta para importância de formalizar essas novas relações de trabalho.

Enquanto os trabalhadores têm buscado cada vez mais oportunidades para ganhar mais e ter uma renda extra, as empresas começaram a perceber que dá para ter resultado em um modelo de trabalho flexível e remoto

André Abreu, diretor da BossaBOX

“O formato é a boa aplicação da tecnologia, mas é preciso atenção para não fomentar ainda mais a informalidade nesse mercado”, afirma. No caso

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Para trabalhar numa empresa americana, por exemplo, o brasileiro precisa seguir a legislação do país, diz o diretor de recrutamento da Robert Half, Lucas Nogueira. A restrição, no entanto, tem sido contornada com intermediação de empresas brasileiras – alternativa permitida desde a nova lei trabalhista de 2017, no governo Temer.

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