A adaptação a novos modelos e relações de trabalho tem sido vista em grandes empresas, mas os pequenos negócios também tiveram de promover transformações organizacionais para atrair e reter funcionários diante da demanda por flexibilidade. O motivo? Justamente se manterem competitivas com companhias maiores.
Pesquisa feita pelo site de empregos Indeed com 798 donos de micro, pequenas e médias empresas mostrou que 59% deles tiveram de fazer mudanças nas práticas de contratação e RH para atrair novos talentos. A necessidade vem porque metade dos entrevistados consideram que é mais difícil contratar agora do que antes da pandemia, devido ao orçamento reduzido.
Felipe Calbucci, diretor de vendas do Indeed no Brasil, comenta que esses empresários sofreram muito na pandemia com queda de faturamento e consequente demissão de funcionários. Embora o mercado tenha melhorado, a receita não se recupera instantaneamente.
“Quando voltaram a contratar pessoas, o mundo mudou, a perspectiva das pessoas mudou e agora todo mundo quer horário flexível. Tem gente que quer trabalhar, mas não está bem de saúde mental, ou está bem no trabalho e adoece. Você precisa de recurso para manter (o funcionário)”, ele diz. “As grandes empresas, por terem mais recursos, puxaram isso, passaram a entregar mais benefícios, mas a pequena empresa se deparou com esse cenário com menos recurso.”
Como avançar, então, com caixa reduzido? Na parte de recrutamento, Calbucci fala que existe uma espécie de tripé: ter reputação, atração e fazer estratégia de hunting. “A boa notícia é que ter boa reputação não está ligado ao tamanho do orçamento, basta gerar boa experiência do colaborador, começando pelo básico de tratar bem, com respeito, criar ambientes de segurança psicológica, privilegiar diversidade em todos os seus níveis, inclusive de pensamento”, exemplifica.
E mesmo que isso demande investir no treinamento de gestores, o especialista diz que é um dinheiro que retorna fácil. No caso de trocar computadores desktop para notebooks a fim de facilitar o trabalho remoto, é possível reduzir custos no tamanho dos escritórios, que vão demandar menos e equilibrar as contas. “Não é algo que desafia o orçamento, mas a criatividade e princípios”, afirma o diretor.
Mas uma adaptação que ficou nítida para ele é a de entrevistas virtuais: 74% dos empresários concordam que essa forma tornou mais rápidas as contratações e 71% dizem que facilitou a gestão do processo. Na prática, outro ponto que ele observa é que, agora, os pequenos negócios divulgam vagas falando mais da empresa, dos valores e benefícios do que da função em si.
A pesquisa, realizada de forma online em fevereiro deste ano, dá outros exemplos do que os empreendedores têm feito: 52% tentam atrair e reter talentos com benefícios como saúde, transporte, alimentação e academia; as licenças maternidade e paternidade são oferecidas por 49% dos pequenos negócios; já o trabalho remoto e horas flexíveis foram implementados por 47% das empresas. Embora a saúde tenha certo destaque, apenas 24% dos entrevistados dizem oferecer algum apoio à saúde mental.
Preocupação com a evolução da carreira também passou a estar no radar: 32% dos entrevistados disseram oferecer incentivos como reembolso em cursos, palestras e seminários. E 17% oferecem participação nos lucros ou ações da empresa.
Nesse empenho para se manterem competitivas, Calbucci mostra, ainda, as vantagens de se trabalhar em uma pequena ou média empresa. “Em questão de aprendizado, na grande tem escopo bastante formatado, delimitado e talvez a pessoa aprenda muito sobre processos. Na menor, não tem cartilha ou manual, tem espaço para criar melhor. As grandes empresas vêm tentando se modernizar para quebrar a barreira dos processos, mas isso já está no DNA das pequenas, onde você tem oportunidade de aprender e crescer rápido.”
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