O mundo do trabalho está em transformação, mas as empresas ainda não acompanham o ritmo das mudanças. Enquanto os trabalhadores desenvolvem habilidades alinhadas às novas demandas tecnológicas, muitos enfrentam um ambiente corporativo rígido que dificulta o equilíbrio entre desenvolvimento pessoal e profissional. Esse desalinhamento contribui para a sensação generalizada de que a relação com o emprego não é saudável, revela o Índice de Relacionamento com o Trabalho da HP (Work Relationship Index, WRI) de 2024. O estudo foi realizado com 15.600 participantes em 12 países.
No Brasil, apenas 29% dos trabalhadores do conhecimento, de várias indústrias, afirmam ter uma relação saudável com o trabalho, um número ligeiramente acima da média global de 28%, mas que representa uma queda significativa em relação a 2023, quando o índice era de 37%. Para 65% desses profissionais e 79% dos líderes empresariais, este é um momento crucial para reavaliar a conexão com o ambiente profissional.
Segundo o estudo, dois terços (78%) dos profissionais no País buscam experiências de trabalho adaptadas às suas necessidades, e 92% estariam dispostos a abrir mão de parte do salário para garantir maior flexibilidade – um índice superior à média global de 87%. Além disso, 77% acreditam que essas práticas incentivariam a permanência no emprego por mais tempo.
“Os profissionais querem que suas necessidades e preferências individuais sejam reconhecidas e atendidas, o que exige práticas como horários flexíveis, opções de trabalho remoto e programas de desenvolvimento. A personalização tornou-se um fator-chave para a retenção”, afirma Candida Moraes, head de Recursos Humanos da HP Brasil.
Para Ricardo Kamel, diretor-geral da HP Brasil, alcançar uma relação mais saudável com o trabalho exige que as empresas invistam em políticas de flexibilidade, bem-estar e desenvolvimento contínuo. “Esses fatores elevam o engajamento e promovem uma satisfação acima da média. A crença de que felicidade e produtividade são incompatíveis pode gerar um ambiente de trabalho tóxico, com alta rotatividade e baixa moral. Nesse contexto, a personalização deixa de ser apenas uma questão individual e torna-se uma estratégia poderosa”, acrescenta.
Momento de redefinir a relação com o trabalho
O estudo da HP aponta seis pilares fundamentais para uma relação saudável com o trabalho: realização com propósito, liderança empática, decisões centradas nas pessoas, desenvolvimento de habilidades, uso estratégico de tecnologias para engajamento e flexibilidade no espaço laboral.
A personalização tornou-se um fator-chave para a retenção
Candida Moraes, Head de Recursos Humanos da HP Brasil
Kamel sinaliza que, para os trabalhadores do conhecimento, repensar a relação laboral é uma oportunidade de alcançar um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional e criar um ambiente mais motivador. Já para os líderes empresariais, isso representa uma reavaliação das práticas de gestão e da cultura organizacional, com foco em reter talentos e aumentar a produtividade.
Com esses pilares em mente, Candida reforça que cabe à gestão “liderar a implementação de programas de benefícios flexíveis e criar trilhas de desenvolvimento adaptadas às necessidades individuais, promovendo um ambiente mais inclusivo”.
Inteligência artificial como aliada para relações laborais mais saudáveis
Enquanto a personalização é um desejo crescente, a inteligência artificial (IA) surge como uma ferramenta que pode tornar essa adaptação mais eficiente e acessível para os trabalhadores. A adoção da tecnologia no Brasil cresceu de 46% em 2023 para 82% em 2024 por estes trabalhadores. Quase 9 em cada 10 profissionais acreditam que a IA pode impulsionar suas carreiras e melhorar o equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional.
A tecnologia automatiza tarefas repetitivas, permitindo que os trabalhadores se concentrem em atividades mais criativas e estratégicas, o que explica a relação entre o uso de IA e a satisfação no trabalho, frisa Kamel. Como resultado, 80% dos usuários brasileiros personalizam a IA para serem mais produtivos.
Apesar disso, um terço (31%) afirma que sua empresa não oferece treinamento adequado, e 50% dos trabalhadores que não utilizam IA temem perder seus empregos para tais ferramentas.
“O medo da substituição pode aprofundar a insatisfação no trabalho e gerar ansiedade e resistência. Os dados brasileiros do estudo mostram que a confiança nas habilidades técnicas e pessoais é essencial para esses trabalhadores, mas também é onde eles acreditam que seu desempenho tem diminuído ano após ano. Investimentos em treinamento e requalificação são fundamentais para ajudar os trabalhadores a enxergar a IA como uma ferramenta de suporte, e não como uma ameaça”, complementa o diretor.
Mulheres na liderança: confiança e desempenho
O índice revela que a confiança na liderança é crucial para construir relações saudáveis, mas no Brasil há uma lacuna significativa entre a importância atribuída às habilidades humanas e a capacidade dos líderes de aplicá-las.
Enquanto 83% dos trabalhadores brasileiros consideram essencial que os líderes demonstrem inteligência emocional, apenas três a cada dez (34%) percebem empatia consistente na liderança sênior. Ao mesmo tempo, 56% dos líderes ouvidos pela pesquisa no País dizem sentir confiança em suas habilidades socioemocionais, apesar de mais de 90% reconhecerem os benefícios que isso traz para a organização.
As líderes femininas no Brasil se destacam pela confiança tanto em habilidades humanas quanto técnicas. 61% delas demonstram confiança em competências como empatia e comunicação, superando em 9 pontos percentuais os homens. No campo técnico, 68% das mulheres líderes se sentem confiantes, em comparação a 48% dos homens.
Candida destaca que esse avanço reflete investimentos contínuos em diversidade e inclusão por parte das empresas, aliados a programas de desenvolvimento voltados para mulheres líderes. “Esses esforços evidenciam o potencial dessas líderes e promovem uma transformação cultural rumo a um ambiente mais equilibrado”, conclui.
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