Farmácia e finanças são áreas com mais oportunidades para profissionais 50+’, diz especialista

Segundo Mórris Litvak, quando as empresas estão atualizadas em relação à discussão do etarismo, os estereótipos são derrubados; mas essa não é uma realidade para muitos gestores

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Foto do author Bruna Klingspiegel
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Foto: arquivo pessoal
Entrevista comMórris LitvakCEO da Maturi, startup focada em diversidade etária

Em 2040, quase 60% dos profissionais brasileiros terão mais de 45 anos. Muitas empresas, porém, ainda não estão considerando esse movimento e não têm investido em planos para incluir, manter e capacitar profissionais mais velhos. À frente da Maturi, uma plataforma focada em diversidade etária, Mórris Litvac explica que, além de não acompanhar as mudanças demográficas do País, a falta de diversidade geracional pode levar as empresas a perder em inovação, criatividade e produtividade.

“É essencial que a empresa esteja preparada para essas mudanças. Isso envolve a preparação do ambiente de trabalho e o aprimoramento da visão estratégica.” A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

Quais setores buscam mais profissionais maduros?

O varejo continua forte devido ao seu foco no consumidor e à sua compreensão de que esse grupo é grande, crescente, com alto poder aquisitivo. Observamos também que as farmacêuticas e o setor financeiro também estão começando a prestar mais atenção ao público maduro. Essas indústrias têm experiência em lidar com esse grupo há muito tempo, o que lhes proporciona uma compreensão mais profunda e um olhar mais atento às suas necessidades. No caso do setor financeiro, os bancos estão começando a perceber que o público maduro é cada vez mais presente no mundo digital, o que acelerou o processo de inclusão digital dessas pessoas. Antes, havia uma visão de que era necessário focar nos jovens, mas agora essa perspectiva mudou. Para as marcas, a presença do público maduro nesses espaços também é importante para a representatividade, marketing e como ferramenta para gerar a percepção da empresa como uma marca empregadora.

Mórris Litvak, fundador da MaturiJobs. FOTO: Gabriela Biló/Estadão  

A partir de qual idade o profissional começa a ter mais dificuldade para conseguir trabalho?

Na Maturi, trabalhamos com pessoas a partir dos 50 anos. Essa decisão foi tomada há cerca de 8 anos, após percebermos, por meio de pesquisas, que essa era a idade em que as pessoas começavam a enfrentar dificuldades de recolocação no mercado de trabalho e a se sentirem ameaçadas de serem demitidas, especialmente no mundo corporativo. No entanto, muitas vezes, esse cenário se manifesta ainda antes dos 50 anos. Essa situação varia conforme a área de atuação, mas, em geral, as mulheres sofrem mais cedo com o etarismo.

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Por que?

Elas enfrentam o peso da idade de forma mais acentuada, porque na maioria das vezes enfrentam o etarismo juntamente com o machismo. Além disso, a questão estética é um fator que afeta significativamente as mulheres no mercado de trabalho. Enquanto a sociedade enxerga o homem grisalho como charmoso, a mulher que deixa o cabelo branco ou apresenta rugas é associada à falta de cuidado ou à sensação de que a mulher já passou do seu auge. Esse tipo de preconceito pode afetar a carreira das mulheres de forma recorrente antes dos 50 anos. No entanto, essa idade acaba sendo um marco para muitas pessoas, pois é nessa fase que elas percebem que não são mais jovens, mas também não são idosas. Essa percepção fica mais evidente no mercado de trabalho.

Como o profissional pode superar isso?

O preconceito ainda é um grande obstáculo nas empresas e a falta de uma visão estratégica sobre a diversidade etária agrava a situação. Mas, uma das formas de ajudar os profissionais é através da atualização técnica e comportamental. Esse profissional precisa se adaptar a um ambiente mais colaborativo e horizontal, onde piadas preconceituosas ou machistas não são mais aceitas, por exemplo. É importante que essas pessoas entendam que, além da atualização tecnológica, é necessário também atualizar o comportamento para se manterem competitivas no mercado de trabalho. A humildade para aprender coisas novas e estar aberto para ser gerido por pessoas mais jovens também é fundamental nesse contexto. Além disso, os profissionais 50 + precisam valorizar suas habilidades e competências, e estar dispostos a considerar novas possibilidades de trabalho, além dos empregos tradicionais, porque isso pode abrir muitas portas e oportunidades interessantes.

Mesmo com capacitação, esse profissional continua sofrendo preconceito?

Isso ajuda bastante a quebrar barreiras e diminuir a dificuldade, porque o candidato consegue demonstrar estar atualizado, capacitado e aberto a novas oportunidades. A questão é ele conseguir chegar até a fase em que vai poder demonstrar tudo isso e evitar ser cortado na triagem automática, que muitas vezes é baseada na idade. Mesmo com todos os atributos que comentei, a idade continua sendo um fator preponderante no início do processo seletivo, porque os gestores ainda tendem a preferir candidatos mais jovens, porque tem a ideia de que é isso o que eles precisam. Mas, quando as empresas estão atualizadas a essa discussão, esses estereótipos são derrubados.

Qual é a diferença entre esses profissionais maduros 50+ de baixa renda e de renda alta no mercado?

À medida que olhamos para a longevidade da carreira e da vida, as diferenças sociais se tornam ainda mais significativas. Isso porque as pessoas de baixa renda, quando jovens, muitas vezes realizam trabalhos braçais e mecânicos e, como resultado, essas pessoas podem enfrentar dificuldades para encontrar empregos qualificados e bem remunerados no futuro, tornando o abismo social ainda maior. Embora a falta de oportunidades de emprego seja um desafio para todas as pessoas, para aquelas de baixa renda, é quase impossível superar essa barreira. Isso acaba fugindo do escopo das empresas, tornando indispensável que políticas públicas sejam implementadas para oferecer condições e capacitação que permitam que essas pessoas executem trabalhos dignos e adequados à sua idade e habilidades.

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O que as empresas ganham com a diversidade geracional?

Em primeiro lugar, ter uma equipe multigeracional é importante para enfrentar a mudança demográfica que estamos vivenciando, onde a população mais velha aumenta e a população jovem está cada vez menor, o que dificulta a contratação e retenção de jovens. Além disso, estudos e indicadores já demonstraram que equipes diversas com profissionais 50+ são mais criativas, produtivas e inovadoras, além de apresentarem menor índice de rotatividade e melhor atendimento ao cliente. Para que tudo isso funcione, é importante que a empresa promova a educação e revisão estratégica para que haja diálogo e troca intencional entre os membros da equipe. Assim, a empresa consegue colher os frutos dessas vantagens. Outro ponto é que essa equipe também terá maior conhecimento do público consumidor, que é cada vez mais amplo e muitas empresas ainda não dão atenção. Com pessoas de diferentes idades na equipe, a empresa conhece melhor as necessidades dos consumidores e se comunica de forma mais eficaz com eles.

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