Após 18 anos trabalhando como vendedor de medicamentos oncológicos, Ronaldo Ramos, de 51 anos, mudou os rumos de sua vida profissional. Em 2020, com a pandemia, as vendas despencaram por causa do isolamento social. Em casa, com todos em home office, os gastos aumentaram, incluindo o consumo de energia. Apesar disso, o valor da conta de luz não se alterou. “Tinha placas solares no meu telhado e vi as vantagens dessa decisão. Percebi que poderia ser um negócio a se pensar.”
Ramos começou a estudar o assunto, fez curso de instalação de painéis e virou franqueado de uma empresa. Hoje, ele trabalha com energia solar, negócio que mais cresce no mundo todo. “Quero continuar nesse ramo. Meu objetivo é estudar e me aprofundar em energia renovável, como usar turbina eólica em casa.” O profissional reclama, no entanto, da escassez de cursos sobre o tema.
Esse é um alerta que muitos especialistas têm feito: com um futuro baseado na economia verde, será necessário pensar em novas especializações. “Estamos vivendo um período de mudanças profundas, com novas tecnologias digitais na indústria e a substituição dos combustíveis, o que exige novas habilidades”, diz o diretor de Operações do Senai, Gustavo Leal.
Ele afirma que, há cinco anos, a entidade começou a ampliar o portfólio de cursos em energias renováveis. Entre 2017 e 2020, o número de matrículas subiu de 169 para 3.786. Neste ano, foram 9.655. Os cursos mais procurados são de instalador de sistemas fotovoltaicos e consumo consciente de energia.
Mas há capacitações voltadas para eólicas, açúcar e álcool e mobilidade elétrica. A instituição vai oferecer também curso para a área de hidrogênio verde, para formar profissionais que queiram atuar em várias etapas da produção, transporte e distribuição do novo combustível.
Além das energias renováveis, outros setores também podem entrar nessa classificação de emprego verde, como os segmentos de transportes que usem energia limpa e contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Para quem tem interesse em ter um emprego verde, a orientação é fazer cursos de capacitação. Um engenheiro pode se tornar um projetista de sistema fotovoltaico se conhecer o setor, por exemplo. O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, diz que há uma carência na formação de pessoas para trabalhar com energias renováveis. “Depois de formados, esses profissionais precisam fazer uma complementação para conhecer as áreas (como solar e eólica).”
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O Senai oferece cursos para técnicos em sistemas de energia renovável, especialista em sistemas fotovoltaicos, técnicas de manutenção de sistemas elétricos de aerogeradores e profissional em legislação ambiental e segurança aplicada a parques eólicos.
Novos cargos
Outros cargos que serão demandados nos próximos anos são profissionais ligados à produção e manejo florestal; geração e distribuição de energias renováveis; gestão de resíduos e de riscos ambientais; e transportes coletivos alternativos ao rodoviário e aeroviário.
Segundo o sócio e líder da prática de sustentabilidade da McKinsey, Henrique Ceotto, o mercado de crédito de carbono, por exemplo, vai exigir um amplo programa de capacitação cobrindo áreas operacionais (operação de viveiros), técnico (monitoramento) e superiores (engenheiros florestais).
Também é importante pensar no “reskilling” (reabilitação) e “upskilling” (aprimoramento) das ocupações atuais. Não existe uma solução única, mas o ponto de partida é reconhecer o perfil de cada profissional, entendendo onde o impacto positivo pode ser maior, diz o economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Oliver Azuara.
O estudo feito por Azuara com o LinkedIn mostra que, entre 2015 e 2020, houve no Brasil uma expansão de profissionais que se apresentam como capacitados em serviços ambientais, reconhecimento de riscos e plantação de árvores. Depois da pandemia, as contratações verdes subiram ainda mais no País.
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