Com o aumento de casos de burnout e esgotamento mental dentro das corporações, especialistas dizem que é preciso repensar a cultura das empresas. É uma tarefa difícil, mas esse trabalho de prevenção é capaz de reduzir sintomas de estresse, pedidos de demissão e até mesmo diminuir o excesso de faltas por afastamento médico.
Desde o acompanhamento da saúde de funcionários a valorização da qualidade de vida no espaço corporativo, reunimos dicas para ajudar lideranças e organizações a revisarem suas condutas e fomentarem um ambiente mais saudável.
Confira abaixo sugestões de especialistas:
1. Ter métricas para acompanhar saúde mental e emocional
A maioria das grandes empresas e multinacionais possui um desenho bem delineado para se aproximar do colaborador. Dentro da avaliação anual, compreender como vai o trabalho e a relação do funcionário com as demandas não é algo novo. Agora, muitas organizações entendem que também é preciso investigar como a pessoa está em termos emocionais, deixando para trás análises isoladas.
“As avaliações de desempenho ficaram fortes ao longo dos anos. Mas isso passou a prejudicar a saúde mental das pessoas, porque a análise de desempenho pode gerar mais estresse, competição e desgaste”, comenta Camila Magalhães, psiquiatra e cofundadora da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em soluções de cuidados à saúde mental e treinamento de liderança.
Para desenvolver locais psicologicamente seguros, é importante ter alguns mecanismos estruturados nas organizações:
- Lideranças bem treinadas
- Acompanhamento mensal do clima organizacional
- Métricas sobre a relação do indivíduo com o trabalho (como ele está, como ele enxerga o que vai bem e quais são os problemas)
- Comissões para planejamento e políticas de saúde mental
2. Acompanhamento periódico da saúde dos colaboradores
Segundo Camila Magalhães, o colaborador deve ter avisos reais de que não será punido nem sofrerá nenhum tipo de retaliação caso apresente sinais de adoecimento.
“No Brasil, temos uma cultura que impede o funcionário de falar. Ele simplesmente vai deixando acontecer, quando não dá mais arruma outro trabalho ou pede para sair. Isso faz com que as pessoas imaginem que trabalho não é lugar para (falar de saúde mental) porque você pode perder o emprego”, avalia a psiquiatra.
Para reverter essa lógica de pensamento, a recomendação é mapear a situação do colaborador periodicamente. Esse acompanhamento pode ser feito com conversas entre líder e liderado, durante os exames periódicos ou nas pesquisas de clima organizacional.
3. A prática da empresa tem de ser igual ao discurso dela
A qualidade emocional dos funcionários também depende da maneira como a corporação une discurso e atitude. Caso seja notada uma divergência entre a missão da empresa e o que é praticado, é possível que as pessoas deixem de se identificar com a corporação.
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“Por exemplo, o líder pode dizer: ‘Toda sexta-feira estarei aberto para quem quiser conversar comigo, é só agendar. Ter essa comunicação clara é ter transparência e canais bem estabelecidos”, diz a psiquiatra ao mencionar que uma organização com clareza nos combinados e nas regras consegue criar uma relação mais sólida com os funcionários.
Na prática, a empresa tem um espaço seguro para a pessoa errar? Se errar vai poder verbalizar?
“O certo é que tenha esse espaço seguro porque o colaborador vai poder corrigir eventuais erros. Se perdeu o prazo e impactou no time, só vai saber disso se existirem devolutivas”, explica.
Nessas situações, a liderança deve estar preparada para convidar a pessoa para uma conversa individual e dar espaço para que ela se expresse.
4. Tomar medidas concretas e práticas para melhorar qualidade de vida
Equilibrar a vida profissional e a pessoal com atividades que os indivíduos entendam como essenciais para ter qualidade de vida ajuda na manutenção da saúde mental. As empresas podem incentivar este aspecto repensando o modelo de trabalho.
Readequar a quantidade de horas de um determinado setor é uma estratégia. “Para ter qualidade de vida no plano individual, temos que equilibrar o sono, o apetite, o exercício e o trabalho”, sugere a psiquiatra Camila Magalhães.
5. Chefes precisam ser treinados para lidar com a saúde de funcionários
Afinal, como um chefe deve lidar com questões de saúde mental no trabalho quando ele próprio pode estar enfrentando problemas relacionados?
“As pessoas falam muito que o líder tem que identificar o problema, tomar atitudes e tal, mas ele nunca foi treinado para isso. Então, tem que fazer palestras com lideranças distintas e saber deles o que eles querem, porque muitas vezes estão com temas e situações difíceis de lidar”, afirma Magalhães.
Esses mecanismos se tornam importantes para as chefias saberem o que falar, entenderem o papel desempenhado na empresa e o que fazer quando não se sentem à vontade para abordar algum tema.
Segundo ela, o líder deve estar preparado para perceber quando um funcionário não está bem. Mas para isso precisa ser treinado pela empresa para garantir o mínimo de capacidade.
A psiquiatra diz que o tratamento e a prevenção do sofrimento no trabalho são primordiais para culturas sólidas no ambiente corporativo e para redução de perdas financeiras da empresa.
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