Em 2019, ainda no ano anterior à pandemia de covid-19, o biólogo Bruno Justo questionava as limitações do modelo tradicional de trabalho. Saiu de uma ocupação de gerente comercial na área de engenharia ambiental e fundou a Wiser Experience, uma empresa focada em ajudar organizações a adotar e otimizar o trabalho híbrido.
“Percebemos que há um foco grande no bem-estar, hoje em dia, as novas gerações não querem mais acordar cedo e ficar 10 horas trabalhando, voltar, apenas comer alguma coisa, dormir e acordar cedo para trabalhar. Isso é uma cultura muito da época industrial. Agora a cultura é diferente, é acumular menos e ter uma qualidade de vida melhor, e o trabalho híbrido encaixa nisso”, afirma Justo.
Sua empresa tenta convencer gestores e empregados de que a melhor maneira de trabalhar numa empresa, sempre que possível, é a forma híbrida. No ano passado, faturou R$ 6,5 milhões com as consultorias.
A Wiser adota uma abordagem centrada em dados para mostrar a eficácia do trabalho híbrido. Utilizando informações e estudos, a empresa apresenta os benefícios desse modelo, como aumento da produtividade, redução de custos operacionais e maior satisfação dos funcionários.
Além disso, oferece soluções práticas para a implementação do modelo, auxiliando as empresas na transição para esse novo formato.
O modelo híbrido veio para ficar. Ele já não é mais uma tendência, porque as empresas perceberam que há uma redução do custo operacional muito interessante. Elas não precisam de um posto de trabalho para uma pessoa, então conseguem diminuir essa proporção. Algumas chegam a 50% de redução. Temos um cliente, uma multinacional do segmento de aço, que conseguiu economizar R$ 5 milhões por ano, diminuindo apenas um andar do prédio
Bruno Justo
Como acontece na prática?
As empresas contratam a Wiser para implementar o software de gestão, reserva de postos de trabalho e salas de reunião e realizar uma análise dos dados de utilização e ocupação dos espaços.
À medida que os usuários utilizam os espaços, a Wiser analisa os dados com um software em conjunto com o cliente e passa a definir estratégias de dimensionamento dos ambientes.
Com a possibilidade do trabalho híbrido, as empresas podem diminuir a taxa de proporção de cadeiras para, por exemplo, 5 cadeiras para 10 colaboradores, conseguindo assim uma redução de 50% de espaços. Ou seja, o cliente consegue reduzir seu custo operacional em 50%, por exemplo.
“Algumas empresas, antes da pandemia, tinham 4 andares, acabaram reduzindo e ficaram com 1 andar. Outras tinham 3 prédios e reduziram para 1 prédio. Temos vários casos de redução significativas do custo operacional, no aluguel, condomínio, limpeza”, explica Justo.
Com análise dos padrões de utilização dos espaços de um escritório, a Wiser consegue desvendar as preferências dos usuários e os fatores que influenciam essas escolhas.
Por meio de uma avaliação dos dados coletados, identificam as áreas mais frequentadas e os motivos que as tornam atrativas para os funcionários.
O objetivo final dessa análise é otimizar o ambiente de trabalho, harmonizando os espaços para promover o bem-estar e, consequentemente, aumentar a produtividade.
Faturamento
Nos últimos anos, a Wiser experimentou um crescimento relevante em seu faturamento:
- 2021: crescimento de 400% comparado a 2020.
- 2022: aumento de 230% comparado a 2021.
- 2023: aumento de 30% comparado a 2022.
Em 2023, o faturamento foi de R$ 6,5 milhões.
No Brasil, são cerca de 40 clientes. Também atua no México, Argentina, Colômbia e Chile, atendendo a 15 empresas. E ainda tem clientes na Alemanha e nos Estados Unidos.
9 a cada 10 empresas adotam modelo híbrido
No Brasil, 85,6% das empresas adotam o modelo híbrido, aponta pesquisa da consultoria de imóveis JLL. Passados 4 anos da pandemia de covid, o híbrido continua sendo o modelo preferido de trabalho, aponta um levantamento.
A pesquisa revela que o modelo mais popular é de 2 dias de trabalho no escritório e 3 dias remotos por semana.
A pesquisa JLL ouviu 289 corporações com mais de 750 funcionários. O levantamento foi realizado no fim de 2023 em 13 países na América Latina.
Outro estudo, do International Workplace Group (IWG), no ano passado, mostra que 81% dos diretores financeiros veem o trabalho híbrido como financeiramente vantajoso, com 89% dos CEOs notando redução de custos. Adicionalmente, 70% dos CEOs relataram um aumento na felicidade dos funcionários.
O estudo ouviu 15 mil profissionais no Brasil e em outros 79 países.
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