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Áreas degradadas são a nova fronteira na expansão de plantios

Cerca de 90 milhões de hectares de pastos no País podem ser recuperados e utilizados para o cultivo de grãos

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Foto do author Isadora Duarte

O agronegócio brasileiro enfrenta um desafio para os próximos 10, 30 e 50 anos: o País precisa produzir ainda mais alimentos sem aumentar o desmatamento. A solução para esse dilema passa por quase 90 milhões de hectares de pastagens degradadas ou de baixo potencial produtivo, apontam analistas de mercado, ambientalistas e produtores. É por meio da recuperação dessa área que o Brasil pode aumentar a sua produção sem derrubar nenhuma árvore.

Dos 161 milhões de hectares ocupados por pastagem no Brasil, mais da metade apresenta algum grau de degradação, segundo dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), referentes a 2020. Deste montante, 63,37 milhões de hectares têm degradação intermediária e 25,72 milhões de hectares, severa, com erosão.

Terra farta

“A área plantada com grãos no País nesta safra é estimada em 77 milhões de hectares, o que significa que a área de pastos degradados é superior à atual área de produção de grãos. Há grande potencial para incorporar essas áreas no sistema produtivo, integrando as atividades. Temos área disponível para mais do que dobrar a produção sem desmatar”, avalia o pesquisador Ladislau Skorupa, da Embrapa Meio Ambiente.

Meta até 2030

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Os pastos degradados estão concentrados especialmente nos biomas Amazônia e Cerrado. A recuperação das áreas vem ocorrendo, mas ainda há muito para avançar. De 2010 a 2020, dentro do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), o País recuperou 26 milhões de hectares de pastagens degradadas, de acordo com o Ministério da Agricultura. A atual meta do governo federal é recuperar outros 30 milhões de hectares de pastagens até 2030, no âmbito do Plano ABC+.

Gerente executiva do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Luiza Bruscato vê com otimismo o potencial do País para recuperar pastos degradados, mas alerta para a necessidade de incentivos. “O Brasil pode recuperar essa área toda, embora ainda careça de subsídios nessa área e de linhas de investimento de mais fácil acesso e menor burocracia”, afirmou.

Luiza Bruscato , gerente executiva do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).  Foto: GTPS

Dentro do Plano Safra 2022/2023, o Programa ABC+ conta com R$ 6,19 bilhões para seus sete programas-chave, incluindo a reforma de pastagens. Mas os recursos são considerados insuficientes pelo setor produtivo para o cumprimento da meta, apesar de necessários. Além do gargalo do financiamento, o setor produtivo aponta como desafios para avançar no implemento das tecnologias de recuperação a assistência técnica e o acompanhamento dos produtores, principalmente para os de pequeno porte.

O manejo para reforma das pastagens varia conforme a região, o bioma, as características de solo e clima e o nível de degradação do solo. Áreas em que há erosão e degradação severa requerem intervenção mais intensiva, com descompactação do solo, adubação ou replantio de pastagem, enquanto áreas com degradação de leve a moderada exigem adubação corretiva, incorporação de nutrientes ao solo e plantio de forrageiras, segundo os especialistas.

Retorno vantajoso

Além de sustentável, a recuperação de pastagens é também economicamente viável. Um estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, para se alcançar a meta de recuperar 30 milhões de hectares, é necessário investir R$ 42,51 bilhões. Entretanto, considerando os ganhos de produtividade advindos das áreas recuperadas, a receita potencial é de R$ 75,55 bilhões, resultando em lucro de R$ 33,04 bilhões.

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O cálculo considera o preço da arroba do boi gordo de maio deste ano – quando o estudo foi finalizado. Em cenário de preço médio da arroba do boi, de janeiro de 2015 a maio deste ano, os dados do estudo apontam para retorno de R$ 44,69 bilhões – ainda positivo ante o aporte.

O custo médio das tecnologias para reformar todas as pastagens do País com algum nível de degradação é de R$ 384 bilhões. “O custo varia conforme o bioma e o nível de degradação, mas em todos os cenários o resultado é positivo. Se agregarmos os ganhos ambientais e sociais, o retorno total para o Brasil é ainda maior. Isso mostra que o crédito para a recuperação, se bem aplicado, traz retorno”, aponta a pesquisadora do Centro de Agronegócio e do Observatório de Bioeconomia da FGV, Talita Priscila Pinto.

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