Summit ESG 2024: Grandes empresas tentam transformar resíduos em novos produtos

Painel sobre economia circular em evento do ‘Estadão’ discutiu desafios da gestão de resíduos e necessidade de maior colaboração entre o setor privado e o público na área

PUBLICIDADE

Publicidade
Por Diego Lazzaris

Grandes produtores estão adotando no Brasil práticas para transformar resíduos em novos produtos e impulsionar a economia circular, mas ainda enfrentam desafios. Durante o painel Gestão de Resíduos e Economia Circular, no Estadão Summit ESG 2024, realizado nesta quinta-feira, 26, no Teatro B32, em São Paulo, especialistas mostraram como a reutilização de materiais pode gerar novas oportunidades de negócio.

Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken, afirmou que, embora 60% das garrafas sejam retornáveis, a empresa ainda precisa lidar com um número significativo de embalagens descartáveis, especialmente de vidro.

“Estamos falando de cerca de 400 mil toneladas de vidro sendo geradas em embalagens descartáveis. E quando se trata de vidro, a taxa de reciclagem no Brasil tem permanecido estável, em torno de 20% a 25%, há mais de uma década. Isso significa que 75% desse material acaba em aterros, na melhor das hipóteses. Resolver essa questão exige mais do que uma simples iniciativa; envolve uma colaboração multifatorial entre o setor privado e o público”, disse o executivo.

Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken Foto: Felipe Rau/Estadão

Marcelo Doria, cofundador da Carrot.eco, destacou que o Brasil possui uma forte cultura de reciclagem. “Muitas vezes, associamos essa questão ao desafio climático, mas não conectamos os dois temas como deveríamos, quando, na verdade, estão profundamente interligados. Se conseguíssemos dobrar a taxa de circularidade global, resolveríamos cerca de 50% dos desafios climáticos”, afirmou.

Marcelo Doria, cofundador da Carrot.eco, durante evento do 'Estadão' Foto: Felipe Rau/Estadão

PUBLICIDADE

Ainda de acordo com ele, os resíduos orgânicos representam metade dos resíduos gerados mundialmente. Esses resíduos, provenientes da terra, deveriam retornar ao seu ciclo natural.

Publicidade

“São 100% recicláveis de forma infinita. No entanto, hoje, quando os resíduos orgânicos são levados para aterros sanitários, acabam liberando gás metano, um poluente 34 vezes mais nocivo que o CO₂. Ao contrário, quando esses resíduos são corretamente encaminhados para compostagem, eles não emitem metano. Transformam-se em nutrientes que regeneram o solo e capturam CO₂, criando um impacto ambiental positivo”, afirmou.

Além disso, ao separar os resíduos orgânicos, os materiais recicláveis permanecem limpos, o que aumenta a taxa de reciclagem. “Em cooperativas, essa taxa pode passar de 25% para 90%, gerando um impacto positivo tanto para os negócios quanto para os municípios. A gestão de resíduos é o quarto maior gasto municipal, sendo um tema diretamente relacionado aos gastos com saúde pública. Portanto, o impacto positivo é imenso. A chave agora é trazer informação e utilizar a tecnologia para escalar essas soluções em grande volume”, disse.

Marina Sierra Camargo, sócia-fundadora da Planta Feliz Adubo, explicou como a sua empresa atua neste segmento. “A Planta Feliz é um negócio socioambiental que atua na coleta de resíduos orgânicos para compostagem em São Paulo, transformando restos de alimentos em adubo. A iniciativa atende pequenos, médios e grandes geradores, com o objetivo de evitar que esses resíduos sejam destinados a aterros sanitários e, em vez disso, contribuam para regenerar o solo”, disse.

Marina Sierra Camargo, sócia-fundadora da Planta Feliz Adubo Foto: Felipe Rau/Estadão

Localizada na zona rural de Parelheiros, a empresa opera o primeiro pátio privado de compostagem na cidade, promovendo uma nova economia verde. Além da coleta, a Planta Feliz investe em educação ambiental, conscientizando geradores de resíduos sobre a importância da separação correta e da compostagem. A empresa realiza treinamentos em grandes cozinhas e escolas, e utiliza relatórios detalhados para informar os clientes sobre qualquer erro na separação de resíduos. “A proposta é criar um ciclo sustentável e de impacto positivo, promovendo a economia circular e reduzindo o desperdício de resíduos orgânicos na cidade”, afirmou.

Camilla Machado, gestora de Sustentabilidade do B32, disse que o edifício desenvolveu uma central de valorização de resíduos que recebe e processa todo o material gerado nos restaurantes, teatros e eventos da torre. “Os resíduos orgânicos, em particular, passam por uma triagem minuciosa antes de serem encaminhados para compostagem. Com uma média de 19 toneladas de resíduo orgânico por mês, enfrentamos o desafio de garantir que esse material seja devidamente limpo e separado, garantindo uma valorização superior a 90%, direcionando os resíduos para reciclagem, compostagem ou logística reversa”, afirmou.

Publicidade

Camilla Machado, Gestora de Sustentabilidade do B32 Foto: Felipe Rau/Estadão

Segundo ela, o processo envolve uma equipe dedicada e parcerias estratégicas. “Estamos constantemente buscando novas soluções, como o uso de sacos compostáveis, e investimos em tecnologia de reaproveitamento de água para minimizar o impacto ambiental. Assim, conseguimos lavar os resíduos sem comprometer o uso de recursos naturais, mantendo nosso compromisso de evitar o desperdício e maximizar o reaproveitamento de materiais”, concluiu.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.