Para Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica, existe um ponto importante, pouco discutido, quando se fala em transição energética no Brasil. “Sem trazer o consumidor para o debate, não vamos fazer uma transição energética justa”, afirma a dirigente. Segundo Gannoum, um ponto nevrálgico do debate passa exatamente por olhar a demanda e, dessa forma, mapear as necessidades. “E cada país vai ter de enfrentar suas especificidades”, diz.
Até por causa dessa nova forma de abordar a questão energética é que a presidente executiva da ABEEólica defende exercitar um olhar mais ampliado dos processos. “A indústria da economia de baixo carbono tem vários setores, e todos precisam ser considerados”, diz.
Se a visão de mundo é um gargalo, a regulação e as linhas de financiamento são outros dois.
“É fato que existe um movimento maior em busca de instrumentos que levem a uma economia de menos carbono, mas, do ponto de vista nacional, temos de continuar trabalhando, até para avançar em questões como a da regulação do mercado de carbono”, afirma Marina Monné de Oliveira, coordenadora de Regulação na Eccon Soluções Ambientais.
A advogada lembra que todos os grandes conflitos geopolíticos atuais envolvem grandes produtores de petróleo. “Com esses grandes conflitos bélicos, a questão climática fica em segundo plano”, diz Oliveira.
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Pelo lado de dentro das finanças verdes, o banco BV, segundo Renata Camilo Pinho, superintendente de Crédito Atacado na instituição, busca ser um apoiador da transição energética. Não apenas com linhas de crédito, mas também oferecendo consultorias ESG para os clientes que pretendem avançar no tema. “É uma vertente bastante relevante. Somos otimistas que, do lado dos investidores, a questão do baixo carbono deve avançar ainda mais. Mas temos muito caminho para avançar”, explica Pinho.
Prospectar soluções para o cliente, ou seja, olhando para a demanda, também é uma realidade no setor privado que tem como foco principal de negócio ofertar energia para as pessoas. É dentro desse contexto quer a Ultragaz, seguindo Erik Trench, diretor de Gases Renováveis do grupo, aposta no biometano como uma das soluções para os seus clientes.
“É um caminho importante dentro da composição da matriz energética brasileira. Além de ser um diferencial competitivo para a indústria”, diz Trench. É um tipo de combustível, estima a empresa, que será produzido a partir, principalmente, de três tipos de matéria-prima. O manejo inteligente dos resíduos sólidos, a partir de rejeitos da produção sucroalcooleira e, ainda, usando restos da agropecuária como matéria-prima. “São processos que, no geral, podem inclusive ajudar a própria indústria a antecipar sua metas (de sustentabilidade)”, afirma Trench.
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