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‘Economia circular é tema que ganha força’, diz Guilherme Brammer, especialista em ESG

Presidente da Boomera Ambipar afirma que pandemia acelerou temas ligados ao ambiente

Por Eduardo Geraque
Atualização:

Um entusiasta da ciência e da cooperação. Há pouco mais de dez anos, a Boomera – a junção com a Ambipar é mais recente, ocorreu há quase um ano – nasceu para ser praticamente um laboratório. Algo natural para o dono da ideia, o engenheiro de materiais Guilherme Brammer. Hoje, o foco é outro. Fazer com que a inovação na área da economia circular pare em pé e vire bons negócios.

“Lá em Davos consegui ver claramente algumas coisas. Economia circular, carbono e o tema social, por exemplo, ganharam muita força na pandemia. Muitos projetos nessa área estão saindo da gaveta”, afirma o CEO da Boomera Ambipar, em seu escritório até certo ponto inusitado: uma casa, com quintal e churrasqueira, em um bairro arborizado na zona sul de São Paulo, além dos limites do centro expandido da capital. 

Guilherme Brammer, CEO da Boomera; Brammer diz que Brasil sempre foi 'um País muito reciclador'. Foto: Wanezza Soares

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O empresário esteve no tradicional Fórum Econômico no interior da Suíça, em maio, para receber um prêmio por seu trabalho como empreendedor social.

“Estamos em uma jornada. Não que os CEOs viraram todos verdes. É que o tema saiu das áreas de sustentabilidade das empresas e virou indicador de performance. É uma grande virada que está claramente ocorrendo e que vai dar velocidade ao tema da economia circular”, afirma o paulistano Brammer. Apesar dos avanços, como explica o executivo nesta entrevista ao Estadão, existem muitos gargalos que precisam ser vencidos, ainda mais levando em consideração a realidade essencialmente brasileira.

Na comparação com o resto do mundo, como você avalia o cenário da economia circular no Brasil?

Sempre fomos um País muito reciclador, mais por uma questão econômica do que ambiental. Nosso exército de catadores faz a vida por meio da coleta de resíduos. O que está ocorrendo lá fora e precisa vir para cá é a inovação de fato. Confundimos muito criatividade com inovação. Para que isso ocorra, e tenho aprendido muito conversando com muita gente, é preciso ter uma relação de confiança muito forte, algo que, infelizmente, o Brasil não tem. Não é nada científico, mas temos a percepção de que é difícil confiar no outro por tudo o que vivemos, como impunidade e corrupção. Quantas vezes já ouvi que aqui contrato de confidencialidade não vale nada. Ou algo na linha, não vou contar minha ideia para o cara porque de repente ele vai roubá-la e me passar para trás. Inovação só acontece quando o nível de confiança entre as partes é muito alto. Até por isso, o tema em Davos foi transformar por meio da confiança. 

No caso dos projetos de vocês, essa relação de confiança existe?

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Uma boa ideia nunca nasce 100% pronta, mas nasce metade pronta. A outra metade você constrói com os seus parceiros. As cooperativas de catadores é que sabem triar o material, não eu. São elas que estão no campo, sem nenhuma estrutura, tentando fazer a coleta e ainda tentando tirar receita. Na hora de colocar as pessoas na mesa, precisa haver confiança e as pessoas já saberem onde vão ganhar. Não adianta aparecer na cooperativa, tirar uma fotinha e depois largar eles sozinhos. Essa relação de confiança vai ser o grande fator de sucesso para as inovações de economia circular e de crédito de carbono ganharem escala. 

Como se dão os processos com pessoas de fora de empresa?

Os nossos processos mais perenes são os que a gente senta e constrói de forma conjunta. Onde todos percebem que vai ser uma coisa no longo prazo e não momentânea.

O foco maior de vocês hoje está na reciclagem?

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Estamos entrando muito antes disso, para evitar que o resíduo seja gerado. Claro que reciclar é melhor do que enterrar e queimar, mas a melhor opção, como estamos fazendo, é sentar e conversar antes de o produto ser lançado. Depois que o produto for malfeito ele vira um problema para a sociedade. O reciclar, nesse caso, pode ser talvez desfazer um design que talvez não tenha sido tão bem pensado. O melhor é o produto nascer já pensado na segunda vida, na facilidade de manutenção e de recolhimento. Assim, começa a criar circularidade no planeta. Se a empresa criar um produto ruim terá que investir mais na recuperação, o que vai tirar o resultado da empresa e, consequentemente, diminuir a performance, algo que o acionista não quer. Obviamente, temos fábricas de reciclagem e estamos dentro de um grande grupo, o da Ambipar, que gerencia muito resíduo no mundo. 

Qual é a função exata da Boomera Ambipar?

A empresa tem a função de transformar o plástico dentro do próprio grupo, mas nossa área de serviços está participando de muito projeto assim: olha, vou lançar um produto e queria sua opinião técnica sobre isso. Faz sentido fazer dessa forma ou não? No Brasil, ainda estamos muito mais focados em reciclagem mecânica do que na química. Ou seja, ainda estamos mitigando o erro de design dos produtos. Esse é o primeiro passo da economia circular. Temos um projeto com a Dow Química que envolve 300 cooperativas na base, que fazem a triagem e pagamos um preço justo de mercado pelo plástico coletado. Na fábrica, fazemos o tratamento do polímero e o transformamos em uma resina de alta performance industrial de alta escala. Dessa forma, começamos a mexer a régua, afinal, são centenas de toneladas anuais que deixam de ir para os aterros. De novo, é apenas uma mitigação do problema. 

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