‘Saque-aniversário vai comprometer orçamento futuro do FGTS’, diz Rubens Menin, fundador da MRV

Empresário, que também preside o conselho de administração do Banco Inter, criticou modalidade no ‘Summit Imobiliário 2024′ e falou sobre o papel das políticas públicas para o crescimento do setor imobiliário

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Por Heloisa Scognamiglio

O setor imobiliário no Brasil teve resultados importantes em 2024 e há um otimismo em relação às próximas duas décadas, segundo o empresário Rubens Menin, fundador e presidente do conselho de administração da MRV e do Banco Inter. No entanto, é preciso adaptar políticas públicas para que o setor alcance todo seu potencial no futuro, alertou o executivo durante sua participação no Summit Imobiliário 2024, evento organizado pelo Estadão em parceria com o Secovi-SP.

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“Sou superentusiasta do nosso setor, acho que os fundamentos são muito bons”, diz Menin, indicando que o mercado imobiliário no Brasil tem algumas vantagens, como ser “bastante evoluído” em termos de regulamentação. “Também temos uma alavanca muito forte, que é a expectativa da demanda dos próximos 20 anos, de cerca de 35 bilhões de unidades sendo construídas no Brasil. São coisas interessantes que nós temos, é um setor muito sustentável. Mas o que me deixa um pouco apreensivo é a falta de políticas públicas mais eficientes, mais efetivas”, avalia.

Como exemplo, ele citou o saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Criada em 2019, a modalidade, quando escolhida pelo trabalhador, permite a retirada de parte do saldo da conta do FGTS anualmente, no mês de aniversário. Para Menin, isso compromete o financiamento do setor.

“O FGTS, que está salvando o nosso segmento, está sendo atacado. O saque-aniversário vai comprometer o orçamento futuro do FGTS, e de uma maneira ruim, porque você pega o saque-aniversário para pagar uma dívida e gastar o dinheiro uma vez. Se você pega o dinheiro do FGTS e investe na habitação, além de você propiciar o desenvolvimento econômico e social para aquela unidade, aquilo retorna para o sistema”, diz o empresário.

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'As pessoas não estão entendendo que isso é uma coisa para longo prazo', diz Menin Foto: Sergio Barzaghi/Estadão

Para ele, a modalidade precisa ser discutida “com urgência”. “Eu posso falar isso, porque eu estou dos dois lados. Estou também no Banco Inter, e os bancos estão surfando no saque-aniversário. Só que as pessoas não estão entendendo que isso é uma coisa para longo prazo”, diz.

Outro problema apontado por Menin é em relação à fonte de recursos para o crédito imobiliário. O setor enfrenta um aperto na concessão de crédito em meio à retirada de recursos da poupança e às maiores restrições, a partir deste ano, para as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) — ambos usados pelos bancos para conceder os empréstimos.

O prazo para o portador de títulos de LCI resgatar dinheiro investido passou de três para nove meses. “Temos a poupança, que claramente estava tendo um momento ruim, como é que você contrabalança a poupança com a LCI? Essa discussão também é urgente, não existe dinheiro suficiente para 2025”, diz.

Para Rodrigo Luna, presidente do Secovi-SP e também presente no evento, “é um fim de ano de números extraordinários para o setor, mas de gosto amargo”.

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“Chegamos ao final de 2024 com ótimos números, mas diante desse cenário desafiador, com taxas de juros muito mais altas do que um setor de longo prazo pode absorver, demanda pela habitação social e, portanto, preocupação sobre o funding nos próximos anos. E o desafio começa, obviamente, pela questão macroeconômica, em que nós precisamos encontrar um equilíbrio fiscal”, diz.

Escassez de mão de obra

Menin e Luna apontaram a escassez de mão de obra na construção civil, que está se agravando no Brasil. “Já temos dificuldade com a mão de obra, temos escassez. O que nós temos de fazer nessa fase é capacitar. Possivelmente, se nada acontecer diferente, a gente vai ter uma dificuldade com a mão de obra na indústria, pelo menos nesses tempos”, diz Menin.

Segundo o empresário, o setor concorre na busca por trabalhadores com programas sociais, como o Bolsa Família. “Nós precisamos de programas sociais no Brasil, mas eles são concorrentes nossos. Por incrível que pareça, concorremos com o seguro-desemprego, com a Bolsa Família, com os benefícios sociais como um todo”, diz.

Luna concorda e ainda aponta que hoje há no Bolsa Família mais de 23 milhões de pessoas sem nenhuma perspectiva de saída do programa e que não entram no cálculo do desemprego do País. “Isso é péssimo, pois como essas pessoas estarão em cinco ou dez anos? Precisamos criar políticas que proporcionem oportunidades para que elas se tornem autossuficientes”, afirma. “E nós temos trabalhado muito no sentido de mostrar como a construção civil evoluiu em relação à qualidade do emprego.”

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