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Regulamentação sobre veículos autônomos precisa progredir

Para evitar acidentes, discussão sobre imposição de limite de velocidade para esses carros deve ser prioritária

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Por Eduardo Geraque
Atualização:

Enquanto a tecnologia dos carros sem piloto começa a ganhar o mundo, em paralelo, a discussão sobre a segurança e a regulamentação desses automóveis também cresce. Não que os veículos hoje já não tenham algum tipo de automação, como o piloto automático, por exemplo, mas a evolução obtida por algumas empresas do setor já mudou o debate de patamar.

“No Brasil, morrem 120 pessoas por dia (no trânsito). É uma carnificina. Por que continuamos usando a velocidade como um elemento de marketing para vender carro?”, afirma Sergio Avelleda, sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana, que participou do Estadão Summit Indústria Automotiva 2023.

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Para o especialista, um dos itens que ele espera constar nos algoritmos dos carros sem piloto diz respeito à limitação de velocidade. “No Brasil, não existe uma via onde se pode trafegar a mais de 120 km/h. Quem faz isso está cometendo um ato ilícito”, afirma Avelleda. No entanto, ainda não se sabe se os fabricantes de automóveis vão abraçar essa causa de limitar a velocidade dos carros 100% autônomos. No Brasil, principalmente no campo da regulamentação, tudo ainda é incipiente.

Mesmo assim, existem cenários plausíveis sendo imaginados a partir da tecnologia que vem sendo gestada. Um deles, segundo André de Souza Mendes, professor de engenharia mecânica do Centro Universitário FEI, consiste em montar um grande comboio de caminhões para se deslocar pelas estradas brasileiras.

André de Souza Mendes, professor da FEI, afirma que aceitação em geral dos carros sem piloto depende de como tudo será apresentado ao público.  Foto: Marcelo Chello/Estadão

“É possível pensar em vários veículos se deslocando sempre a 10 metros de distância um do outro, a uma velocidade constante de 80 km/h. Com isso, por causa da força de arrasto, a economia de combustível, por exemplo, tende a ser maior”, explica o pesquisador. Até o desgaste dos grandes caminhões, que chegam a pesar 40 toneladas, vai ser menor.

Menos acidentes

Existe um consenso entre os especialistas no tema, que os automóveis sem piloto vão diminuir as mortes, entre outros motivos, porque eles não vão cair em distrações como o uso do telefone celular ao volante. “Essa questão é um dos pontos importantes que a automação tende a acabar”, afirma Avelleda. Assim como a tecnologia também tende a coletivizar mais as viagens, ao tirar um pouco a necessidade de se ter um carro “para chamar de seu”.

Em contrapartida, lembra o especialista, outros dilemas já podem perfeitamente ser colocados sobre a mesa. “Em uma situação normal, entre atropelar alguém ou proteger a si mesmo, o ser humano tende a fazer algo para se salvar, mas como o algoritmo vai ser programado neste caso? Será que as pessoas vão comprar um carro sabendo que ele está programado para atropelar alguém em caso de um acidente?” analisa Avelleda.

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Sergio Avelleda, sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana, espera que respeito à limitação de velocidade esteja nos algoritmos dos carros sem piloto.  Foto: Marcelo Chello/Estadão

Um estudo da American Automobile Association (AAA) publicado pela revista Forbes aponta que aumentou o receio dos americanos com a nova tecnologia. Conforme a sondagem, 68% dos americanos dizem ter medo de carros autônomos. O número, diz a revista, é maior do que o registrado em 2022, quando 55% disseram temer esse tipo de inovação. Segundo o levantamento, 9% dos americanos disseram que “confiam” em carros autônomos. A divulgação de acidentes com esse tipo de veículo pode ter contribuído para o aumento do temor, afirma a AAA.

Medo, eu?

A aceitação em geral dos carros sem piloto depende, segundo Mendes, de como tudo será apresentado ao público. “O medo se resolve com confiança”, afirma o pesquisador, para quem a tecnologia, ao ser bem usada, tende a melhorar a segurança viária das cidades.

Avelleda, também ex-presidente do Metrô e ex-secretário municipal de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo, lembra do debate sobre a Linha 4-Amarela, quando ela foi inaugurada. “Não tenho notícia que alguém tenha receio de pegá-la hoje”, afirma. Todos os trens do ramal do metrô paulistano que liga o centro à Vila Sônia, na parte oeste da cidade, fora do centro expandido, são automatizados e não contam com nenhum condutor humano.

Os especialistas lembraram que mesmo as viagens internacionais de avião, na grande maioria dos casos, são feitas pelo piloto automático instalado nas aeronaves em mais de 90% do tempo de voo.

Califórnia libera táxis autônomos

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Se no Brasil o debate é sobre ideias, nos Estados Unidos, e mais especificamente na Califórnia, ele é totalmente real. Neste mês de agosto, a cidade de São Francisco autorizou as empresas Cruise e Waymo a expandirem os serviços prestados por suas frotas de táxi, formadas apenas por carros autônomos. O que mostra que a implementação da tecnologia não tem mais volta. Agora, a cobrança pelas corridas pode ocorrer a qualquer momento do dia, o que antes ainda não era permitido.

A Cruise, uma subsidiária da General Motors, opera 300 veículos em Frisco durante o dia e 100 à noite. Enquanto a Waymo, da Alphabet, que conta com participação da Google, tem 100 veículos na frota que circulam durante o dia.

Apesar da aprovação, o debate entre os moradores da cidade continua acirrado. A segurança da tecnologia é a maior dúvida. E, por isso, as duas empresas estão sendo obrigadas a continuar com os seus testes feitos sem usuários dentro dos carros. Nenhum acidente grave foi registrado até agora.

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Treinamento

Outro problema levantado pelas autoridades responsáveis em aprovar a expansão – a votação terminou 3 a 1 e teve uma abstenção – é a falta de treinamento dos socorristas e bombeiros em lidar com esse novo tipo de veículo em caso de ocorrências graves.

Rodrigo Fioco, diretor de marketing de veículos elétricos da GM América do Sul: foco na colisão zero, na emissão zero e no aumento da conectividade.  Foto: Marcelo Chello/Estadão

“A GM tem a intenção, agora, de ser uma tech company (empresa de tecnologia). Nosso foco está na colisão zero, na emissão zero e no aumento da conectividade”, afirma Rodrigo Fioco, diretor de marketing de veículos elétricos da GM América do Sul, que também esteve no Estadão Summit Indústria Automotiva 2023.

“Os carros autônomos já estão salvando vidas”, explica o executivo. Segundo ele, nos Estados Unidos, onde a tecnologia já roda em sete cidades no total, três milhões de milhas já foram percorridas pelos veículos sem motorista (4,8 milhões de km). “Já temos um conjunto de dados importante”, diz. Segundo Fioco, 92% dos acidentes de trânsito, em média, são causados diretamente por falhas humanas, que podem ser extintas com os veículos autônomos.

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