Três meses seguidos deflação, entre julho e setembro, combinados com mais de R$ 41 bilhões de recursos injetados pelo governo federal em auxílios e a queda do desemprego impulsionaram as vendas dos supermercados até setembro. Com essa recuperação do poder aquisitivo, uma parcela dos brasileiros também já ensaiou em setembro o retorno às marcas de preço de maior valor, especialmente em itens de higiene, limpeza e mercearia, aponta a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
De janeiro a setembro, o consumo nos supermercados aumentou 2,84% e a perspectiva é fechar o ano com avanço entre 3% e 3,30%. A projeção foi revista pela entidade, que anteriormente esperava alta anual de 2,5%. “A tendência de consumo de produtos de supermercados é bastante positiva”, afirma o vice-presidente institucional da Abras, Marcio Milan.
O otimismo está baseado em uma sequência de eventos já previstos, como Copa do Mundo, Black Friday e a entrada do 13 º salário neste mês e no próximo. Mas, além desses eventos, a partir deste ano o setor criou uma nova ocasião para turbinar as vendas: o dia do supermercado.
A data, que neste ano está marcada para 12 de novembro, terá promoções e descontos, resultado das negociações entre indústrias e varejo. “Teremos ofertas de impacto”, prevê o vice-presidente de vendas e marketing da Abras, Celso Furtado. A partir de agora, a data será regular e está prevista para ocorrer no segundo sábado de novembro de cada ano.
Volta ao mais caro
Um movimento que chama atenção no levantamento feito pela entidade é que o consumidor já mostra um ligeiro aumento nas compras de marcas de médio e alto preço em detrimento das mais baratas. De todas as cestas de produtos, que incluem 35 itens, a fatia das marcas de menor preço recuou 0,8 ponto porcentual entre setembro de 2021 e o mesmo mês deste ano (de 54,9% para 54,1%), enquanto as marcas premium aumentaram 1,1 ponto (de 16,6% para 17,7%).
Esse movimento foi observado nas cestas de mercearia, nas commodities, mas o avanço maior ocorreu nas cestas de limpeza e higiene pessoal, observa Milan. Entre setembro de 2021 e o mesmo mês deste ano, o consumo das marcas mais caras de limpeza avançaram 7,2 pontos porcentuais, enquanto as de higiene e beleza tiveram alta de 3,4 pontos. “O consumidor está voltando a comprar marca premium”, diz o executivo.
A grande incógnita é saber se essa mudança do padrão de consumo se sustenta, especialmente por causa das novas pressões inflacionárias em preços importantes da economia que influenciam outros preços, como o da gasolina. Outra questão é se os auxílios, que turbinaram as vendas nos últimos meses, serão mantidos com a mesma magnitude.
Desbloqueios
De setembro para outubro, o leite longa vida (-9,91%), seguido pelo óleo de soja (-3,71%) e o feijão (-3,43%) foi o produto com maior retração de preço, segundo levantamento do departamento de economia da Abras. Os produtos vilões de alta de preço no mesmo período foram batata ( 20,11%), tomate (6,25%) e cebola (5,86).
Depois dos bloqueios nas rodovias logo após as eleições e que chegaram a afetar 70% das lojas de supermercados do Centro-Sul do País, Milan diz que o abastecimento hoje está totalmente regularizado e que não houve impactos em aumento de preços. “Foram dois ou três dias com problemas e concentrados em frutas, verduras e legumes; hoje não temos falta de produtos.”
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