Supermercados britânicos e europeus ameaçam boicotar Brasil por risco de desmatamento na Amazônia

Empresas, como a britânica Tesco e a alemã Aldi, dizem que projeto de regularização fundiária pode aumentar destruição da floresta; mal recebido também por empresários e ambientalistas brasileiros, texto foi retirado da pauta de votação do Senado

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Foto do author André Borges
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BRASÍLIA - Uma nova ameaça de boicote a produtos agropecuários do Brasil foi feita por redes de grandes supermercados e produtores de alimentos europeus. Em uma carta enviada nesta quarta-feira, 5, as empresas informaram que podem boicotar produtos do Brasil por causa de um projeto de lei de regularização fundiária que, segundo eles, resultaria em maior desmatamento da floresta amazônica. O movimento foi visto como “precipitação” por empresários brasileiros que acompanham dois projetos de lei que tramitam no Congresso sobre o tema.

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O texto que relata “ameaças potencialmente ainda maiores para a Amazônia do que antes” é assinado por 38 companhias, entre as quais estão grandes redes britânicas como Tesco, Sainsbury’s e Marks & Spencer. Há ainda a chancela da gigante alemã Aldi, além de empresas de produção de alimentos como National Pig Association e do fundo de pensão sueco AP7.

Na carta, as empresas dizem que a apresentação do projeto de lei 510/21 – que trata da regularização fundiária, mas passou a ser chamado pela ala ambiental como o “PL da Grilagem” – é “extremamente preocupante” após a retirada, no ano passado, de uma medida provisória sobre o tema que foi apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas acabou caducando por não ser votada pela Câmara.

Posição. Marks & Spencer está entre redes que apoiam eventual boicote a produtos do País. Foto: Henry Nicholls/Reuters

No último dia 28, após forte reação negativa de empresários de todos os setores e ambientalistas, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), retirou o PL 510 da pauta e admitiu que o assunto precisa ser discutido com profundidade antes de entrar em votação. Ele não deu prazo para retomar a medida. Além deste projeto, há ainda outro que avança paralelamente, e que pode ir à votação, o PL 2633/20, do deputado Zé Silva (SD-MG).

Precipitação

A mobilização dos europeus não foi bem recebida pela Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, movimento formado por mais de 280 representantes de setores como agricultura, finanças, indústria e meio ambiente. Apesar de a coalizão ser contra o PL 510, o empresário Marcello Brito, que representa o grupo, disse que as empresas europeias não têm ideia do que está ocorrendo efetivamente no País e que erraram na estratégia.

“É uma precipitação total. Essas empresas não acompanham o processo, nem sabem qual será a lei efetiva que irá à votação. Entendo que essas ações (ameaça de boicote) fazem parte do jogo, infelizmente. Mas eu não gosto desse tipo de coisa”, comentou Marcello Brito. “Temos que reagir dentro da lei, o tema está em debate.”

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A coalização reúne nomes nacionais e estrangeiros como Banco Alfa, Basf, Bayer, Bradesco, BRF, Brookfield, BTG Pactual, Cargill, Danone, Gerdau, Itaú Unibanco, JBS, Klabin, Marfrig, Natura, Nestlé, Suzano, UBS, Unilever, WWF Brasil e Youth Climate Leaders.

A discussão sobre a proposta de regularização fundiária divide o próprio agronegócio. Enquanto grandes nomes do setor, membros da coalizão, criticaram o texto original, de autoria do senador Irajá (PSD-TO), a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que reúne a maior bancada do Congresso, saiu em sua defesa. A FPA também apoia o PL 2633/20, que trata do mesmo assunto. Não se descarta, portanto, qualquer desdobramento sobre o assunto nos próximos dias e até mesmo a integração dos textos.

Por meio de nota, Irajá afirmou que está propondo uma “legislação moderna, segura, eficaz e que garanta aos órgãos de fiscalização e de controle cobrarem o cumprimento das leis ambientais, trabalhistas e a função social da terra”.

Visão do ministério

Por meio de nota, o Ministério da Agricultura (Mapa) declarou que o “Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), vinculado do Mapa, como executor da política fundiária brasileira, apenas acompanha a tramitação do projeto” debatido no Congresso. “Importante destacar que, apesar de não ter qualquer envolvimento com o texto que vem sendo elaborado pelo Senado, o Instituto assegura que o PLS 510/2021 traz em seus artigos alguns avanços ambientais importantes”, afirmou o Mapa.

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