Mesmo quando era apenas um foragido sorridente em uma foto de vigilância, Luigi Mangione já despertava uma resposta fervorosa de alguns americanos. Agora, identificado e acusado do ousado assassinato de um executivo da área da saúde, sua influência continua, mesmo atrás das grades.
Apoiadores, alguns dos quais defendem sua mensagem contra a indústria de seguros, têm lhe enviado uma enxurrada de correspondências no Centro de Detenção Metropolitana Federal (MDC) no Brooklyn, Nova York. Eles enviaram a Mangione, de 26 anos, presentes e pelo menos US$ 500 mil para seu fundo de defesa. Seus advogados criaram um site com uma declaração pessoal do próprio Mangione e instruções sobre como contatá-lo.

“Estou impressionado — e grato — por todos que me escreveram para compartilhar suas histórias e expressar seu apoio”, dizia a mensagem de Mangione, acrescentando: “O MDC foi inundado com correspondências de todo o país e do mundo.”
A resposta positiva horrorizou muitos americanos que ficaram chocados com a brutalidade do crime de que Mangione é acusado: assassinar Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, em Manhattan. Mas, nos quase três meses desde o tiroteio, o interesse e o apoio se mantiveram.
Um protesto foi organizado do lado de fora do tribunal de Lower Manhattan, onde ocorreria uma audiência do caso na tarde de sexta-feira. Panfletos convocavam apoio “para as pessoas prejudicadas e mortas pela ganância da indústria de seguros”.
No corredor do 15º andar, cerca de 100 jovens mulheres se sentaram nos bancos e no chão. Algumas vestiam suéteres vermelhos com camisas de gola branca, uma aparente homenagem à roupa de Mangione na última audiência.
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Entre a multidão estava Chelsea Elizabeth Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA, cuja divulgação de documentos confidenciais sobre operações militares no Iraque e no Afeganistão lhe rendeu uma sentença de 35 anos de prisão, depois comutada.
Quando os advogados de Mangione chegaram ao andar, a multidão explodiu em aplausos e gritos.
Mangione inspirou documentários sobre sua vida e continua sendo um tema de interesse nas redes sociais. A página de arrecadação de fundos no GiveSendGo para sua defesa recebeu doações constantes e mensagens de apoio.
Lançado em 14 de fevereiro, o site — que inclui maneiras de enviar fotos — é o mais recente desdobramento de uma história que capturou a atenção da nação desde o momento em que Thompson foi morto a tiros do lado de fora de uma reunião de investidores em um hotel de Midtown, em 4 de dezembro. Os advogados de Mangione disseram que criaram o site para fornecer “respostas a perguntas frequentes, informações precisas sobre seus casos e desmentir desinformação”.
O site contém informações sobre os processos criminais contra Mangione, incluindo horários e datas de audiências. No entanto, seu layout discreto em preto e branco parece ser uma tentativa dos advogados de minimizar o frenesi em torno de seu cliente, segundo Diana Rickard, professora de justiça criminal no Borough of Manhattan Community College.

Enquanto a atenção do público gira em torno de Mangione, os processos legais contra ele avançam.
O escritório do promotor de Manhattan acusou Mangione de homicídio em primeiro grau, uma acusação que o rotula como terrorista, além de acusações de porte de armas e duas variações de homicídio em segundo grau. Além dessa acusação de 11 crimes, ele enfrenta processos federais — um deles podendo levar à pena de morte — e também acusações estaduais na Pensilvânia.
Mangione se declarou inocente em todos os casos. Sua advogada, Karen Friedman Agnifilo, descreveu seu cliente como “acusado em excesso”.
Durante a audiência de sexta-feira, Mangione sentou-se algemado à mesa com seus advogados, vestindo um colete à prova de balas. Usava um suéter verde escuro com camisa branca de gola e calça branca. Ele parecia atento, inclinando-se para frente enquanto ouvia um assistente do promotor distrital falar.
Os procedimentos foram acompanhados por cânticos do protesto do lado de fora. Dentro da sala, Friedman Agnifilo levantou várias questões ao tribunal, incluindo o fato de que a detenção de Mangione em uma prisão federal, enquanto seu caso estadual prosseguia, estava dificultando o trabalho da defesa. Ela também argumentou que uma busca policial na Pensilvânia foi ilegal. “Os direitos constitucionais do nosso cliente foram violados”, afirmou.
Daniel Medwed, professor de direito e justiça criminal na Northeastern University, disse que o fenômeno em torno do caso de Mangione é incomum. Geralmente, a atenção pública se volta para a vítima de um crime, não para a pessoa acusada. No entanto, o caso de Nova York aparentemente “tocou um nervo na psique nacional”, afirmou.
“O apoio não está necessariamente baseado em dúvidas sobre a investigação ou sua possível culpa”, disse Medwed. “É um apoio a uma forma de justiça vigilante.”
A UnitedHealthcare tem sido alvo de fúria há anos por negar pedidos de cobertura e enfrentar escrutínio por usar algoritmos para recusar reembolsos. A empresa é uma das maiores seguradoras de saúde do país e cobre mais de 50 milhões de pessoas.
O Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre a empresa, segundo o Wall Street Journal na sexta-feira. A investigação, de caráter civil, examina se a UnitedHealthcare registra diagnósticos de maneira fraudulenta para aumentar pagamentos ao seu plano Medicare Advantage.
Para os apoiadores de Mangione, o assassinato de Thompson foi um ataque ao sistema de saúde americano movido pelo lucro. Promotores alegam que o crime foi planejado para enviar uma mensagem.
O promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, chamou o caso de “um assassinato assustador, bem planejado e direcionado, projetado para causar choque, atenção e intimidação.”
O caso
A história se desenrolou de forma dramática a partir das 6h45 de uma manhã de quarta-feira.
Imagens de vigilância mostraram um homem armado se aproximando de Thompson do lado de fora de um hotel Hilton em Midtown, levantando uma pistola com silenciador e atirando várias vezes. Thompson tentou se proteger atrás de uma parede antes de ser baleado novamente. O assassino fugiu pela rua. Thompson levou tiros nas costas e na perna.
Thompson, de 50 anos, era pai de dois filhos e descrito por familiares como um “marido, filho, irmão e amigo amoroso”.
Autoridades afirmam que Mangione esperou do lado de fora do hotel por quase uma hora até que Thompson chegasse para um evento da UnitedHealthcare. Segundo a polícia, ele deixou Nova York imediatamente após o crime, espalhando seus pertences pela cidade enquanto fugia.
Enquanto as autoridades começaram uma busca intensa, divulgando imagens do suspeito, o assassinato também desencadeou uma onda de frustração online contra a indústria de seguros de saúde.
Investigadores afirmam que os cartuchos de bala encontrados na cena do crime tinham as palavras “negar”, “depor” e “atrasar” escritas — provavelmente uma referência à forma como seguradoras lidam com pedidos de cobertura.
Quando Mangione foi preso cinco dias depois, em Altoona, Pensilvânia, autoridades disseram que ele carregava um manifesto escrito à mão criticando o sistema de saúde dos EUA e seus executivos milionários.
Após a audiência, Friedman Agnifilo saiu do tribunal, onde dezenas de apoiadores de Mangione, muitos vestindo verde, gritavam: “Quem é o verdadeiro terrorista? UHC.”
Friedman Agnifilo disse aos manifestantes: “Luigi queria agradecer aos seus apoiadores por estarem aqui.”
O caso de Mangione reflete uma tendência em que criminosos se tornam símbolos culturais, segundo especialistas. “Não temos mais mocinhos e vilões claramente definidos”, disse Rickard. “Esse caso distorce o conceito de heroísmo — e isso é perturbador.”
c.2025 The New York Times Company
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